Ministro queria cortar na fatura, mas hospitais gastaram mais 109 milhões de euros no primeiro semestre deste ano. Encargos dos utentes na farmácia também cresceram por via do aumento do consumo e do preço dos fármacos.
Há cerca de um ano, o ministro da Saúde considerou “insustentável” o aumento da despesa pública com medicamentos acima dos 10% ao ano. De lá para cá, o “monstro” continuou a crescer. Entre janeiro e junho deste ano, os hospitais gastaram 993 milhões de euros em fármacos, mais 109 milhões do que no mesmo período do ano anterior, num crescimento de 12,3%. Nas farmácias, os encargos do SNS com medicamentos subiram 27 milhões de euros (mais 3,5% do que no primeiro semestre de 2022), para um total de 790 milhões, apesar do ritmo de crescimento da despesa ter abrandado. Os gastos das famílias com fármacos também cresceram 26,5 milhões de euros (6,6%).
A crescer acima do PIB
Os fármacos imunomoduladores, que atuam na resposta do sistema imunitário, são responsáveis por um terço da fatura do primeiro semestre, seguindo-se os antivíricos e os citotóxicos.
Um “sinal positivo”, diz o economista em Saúde Pedro Pita Barros, explicando que cerca de dois terços do crescimento da despesa para o utente decorrem do aumento do consumo e cerca de um terço está relacionado com a subida do preço dos medicamentos.
Este é mais um fator de pressão sobre os orçamentos das famílias. Recorde-se que um estudo recente, da autoria de Pedro Pita Barros e de Eduardo Costa, revelou que metade das famílias mais desfavorecidas terão optado por cortar em medicamentos necessários em 2022. Ainda este mês, os investigadores deram nota de que os pagamentos diretos das famílias nas farmácias cresceram de 903 milhões de euros para 1419 milhões, entre 2000 e 2020.
Pormenores
Urgência e bloco
Os internamentos, os blocos operatórios e as urgências foram responsáveis por 13% da despesa com medicamentos nos hospitais de janeiro a junho deste ano.
Colesterol
Os antidislipidémicos (para o colesterol) são a classe terapêutica com maiores vendas nas farmácias (8,7 milhões de embalagens).
Hospitais no topo
O Centro Hospitalar e Universitário Lisboa Norte (CHULN), que integra os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente, é o campeão da despesa com medicamentos, ultrapassando os 123 milhões de euros no primeiro semestre. Segue-se o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra com cerca de 92 milhões de euros.
Doenças raras
Os medicamentos órfãos, para as doenças raras, representam 15% do total da despesa hospitalar com fármacos, num total de 149 milhões de euros.
Genéricos sobem
Depois de vários anos de estagnação, a quota de medicamentos genéricos subiu, ultrapassando pela primeira vez a fasquia dos 50% em termos de unidades de medicamento dispensadas. No mercado concorrencial (análise entre os medicamentos que têm genéricos), estes já representam 64,7% das vendas.
Redes Sociais - Comentários