Aida Batista

A Serva do Amor

 

 

Maio chegou ao fim. Entre nós, é considerado o mês de Maria, mãe de Jesus e, como tal, o mês de todas as mães, de todas as Marias. Na minha geração, Maria quase não era considerado nome próprio.

Não me recordo de ter tido alguma colega chamada apenas de Maria, nem como professora tive alunas que respondessem apenas a esse chamamento. Por isso, Maria era considerado um prefixo que se colocava antes de um segundo nome próprio. Os rapazes também podiam ser Marias, mas com uma condição: que Maria surgisse em segundo lugar, como por exemplo João Maria ou José Maria, ou seja, era o primeiro que lhes dava o distintivo do género.

Tantas eram as Marias que estas acabaram por dar lugar a frases como “Há muitas Marias na terra” e “Maria vai com as outras”. A primeira denuncia, de imediato, o facto de sermos muitas Marias, ou seja, seria preciso dizer o outro nome para podermos ser identificadas; a segunda remete para um significado mais depreciativo, porque põe em causa a capacidade de as Marias terem vontade e pensamento próprios, para se deixarem arregimentar por outras. Curiosamente, diz-se que esta frase está ligada à figura da mãe de D. João VI, a rainha D. Maria, a Louca. Devido à sua insanidade mental, não podia sair sozinha. Por isso, quando se passeava nas margens do rio no Brasil, era levada pelas mãos das suas damas de companhia. O povo, quando a via, dizia: “Maria vai com as outras”.

Há ainda uma outra expressão, que nos habituámos a usar em culinária – banho-maria. Segundo os investigadores, a sua utilização está ligada a uma alquimista famosa, de origem judia, que viveu na antiguidade e se chamava Maria. Ela utilizava um método de cozedura lento, através do contacto com o vapor de água de um recipiente inferior. Da sua chaminé via-se sair o vapor que se soltava das caçarolas que tinha ao lume, a que começaram a chamar banho-maria. Esta técnica continua a ser utilizada ainda na indústria farmacêutica e cosmética.

Neste mês de Maria que hoje chega ao fim, quero homenagear a Maria mais importante da minha vida – Maria Celeste – minha mãe. Sem nunca a termos visto de cama, no cair de uma tarde de maio, partiu silenciosamente. Nada o fazia prever, exceto o instinto maternal que a guiou por uma romaria de despedida pelas casas de todos os filhos. Atribui-se ao escritor mexicano Octavio Paz a frase “Os grandes poetas não têm biografia, têm destino”. Eu direi que as mães também não precisam de ter uma biografia, e todas elas têm um destino comum: parir, criar, cuidar e amar os filhos como ninguém mais o faz. E fazem-no como servas do amor, numa entrega permanente de quem alimenta a chama dia e noite para que nunca se apague. A da minha mãe teve calor para repartir por 12 filhos a quem nunca faltou colo nem mimo.

Recordo-lhe a voz sempre calma, a serenidade da palavra com que calava birras e queixumes, a forma vigilante como nos controlava sem que o sentíssemos. Passados estes anos, interrogo-me sobre a sua capacidade de gerir os pequenos conflitos entre os filhos, a sabedoria com que dominava as crispações dos quotidianos incertos, a bonomia que emanava da sua presença, cuja auréola nos protegia e dava segurança.

Nasceu no dia 1 de novembro, dia de Todos-os-Santos, filha primogénita de uma prole toda ela masculina. A única Maria da casa! Seus pais, que de astronomia nada sabiam, deram-lhe o nome Celeste, como se estivesse fadada a ser o escudo protetor celestial das muitas vidas que lhe foram confiadas.

Nascida em dia de Todos-os-Santos, foi no mês de Maria que partiu para ser mais uma estrela no firmamento, cujo brilho ilumina o caminho que todos seguiremos.

Aida Batista/MS

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