O relatório da comissão que investiga o ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília, concluiu que o ex-presidente é o autor moral e intelectual do episódio. Comissão parlamentar do Congresso pede o indiciamento de Jair Bolsonaro e de outras 60 pessoas, entre as quais ministros e militares.
Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, tem “responsabilidade direta” por “grande parte dos ataques perpetrados” em Brasília, sendo considerado o autor moral e intelectual da invasão às sedes dos Três Poderes, que ocorreu a 8 de janeiro, aponta o relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), apresentado esta terça-feira pela senadora Eliziane Gama. O documento de 1333 páginas, que pede o indiciamento do antigo líder brasileiro por quatro crimes, vai ser votado esta quarta-feira pelos membros da comissão e, caso seja aprovado, será encaminhado para o Ministério Público Federal e para a Advocacia-Geral da União.
“Eles queriam tomar o poder. Eles acreditavam nessa possibilidade”, declarou a relatora, justificando as alegações: “As investigações realizadas, os depoimentos recolhidos, os documentos recebidos permitiram que chegássemos a um nome em evidência e a várias conclusões. O nome é Jair Messias Bolsonaro”. O relatório, que resulta de cinco meses de investigações da CPMI, constata ainda que o ex-presidente, apoiado pelo seu núcleo duro, “compreendia a violência e o alcance das manifestações” golpistas e, de maneira deliberada, colocou “mais lenha na fogueira”.
“O 8 de janeiro é obra do que chamamos de bolsonarismo. Não foi um movimento espontâneo ou desorganizado; foi uma mobilização idealizada, planeada e preparada com antecedência. Os executores foram insuflados por instigadores que definiram de forma coordenada datas, percurso e estratégia de ocupação dos espaços”, prosseguiu a senadora, ao ler o relatório.
O documento também sinaliza a alegada conivência de militares das Forças Armadas e de alguns elementos da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal como responsável pelo avanço descontrolado dos bolsonaristas no Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o relatório, a invasão só foi possível graças à “omissão premeditada e deliberada” de membros importantes das forças de segurança, bem como ao “treino, preparação e articulação” dos instigadores.
A reconstrução dos acontecimentos do dia 8 de janeiro permitiu ainda concluir que Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, “tinha pleno conhecimento do risco de atos violentos” e, ainda assim, autorizou as manifestações.
Assim, o relatório apela a que o Ministério Público investigue o ex-presidente pelos crimes de associação criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e violência política. Aos restantes nomes visados, entre os quais o do general Walter Braga Netto, o do ex-ministro da Justiça Anderson Torres ou o da deputada Carla Zambelli, foram atribuídos 26 tipos de delitos diferentes.
Se o relatório for aprovado, como se espera que aconteça, a abertura de inquéritos formais será uma decisão do Ministério Público Federal. As conclusões da comissão abrem uma nova frente de batalha para Bolsonaro, pois o antigo líder já está a ser investigado no STF no âmbito da invasão em Brasília.
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