Açores

Agricultura: “estamos presos por arames”

Entrevista a Jorge Rita

Jorge Rita, Presidente da Federação Agrícola dos Açores, concedeu uma entrevista ao Diário Insular, da ilha Terceira, onde explica os problemas que o sector está a atravessar na região e lança alguns desafios para a sobrevivência de produtores e indústria.

Defendeu a subida do preço do leite. E o preço do leite já baixou em algumas indústrias… O que falhou aqui foi, precisamente, a estratégia de algumas indústrias na industrialização e comercialização dos seus produtos.

Todos sabíamos que ter na Região indústrias assentes em leite UHT e leite em pó, produtos “commodities” e marcas brancas, seria de sucesso com os dias contados. O que acontece não tem muito a ver com os mercados internacionais, mas sim, nalguns produtos, com a situação nos mercados na região e a nível nacional, porque nós estamos a vender mal. Os mercados internacionais estão a melhorar. O processo está precisamente ao contrário daquilo que está a acontecer na Região.

As fábricas dos Açores não têm mercados… Mas eles existem?

Os mercados existem e não há indicação de excedentes a nível internacional. Normalmente, quando as pessoas querem falar do leite baseiam-se nos mercados internacionais, e é aí que devemos assentar a nossa discussão. Não é num dia apontar uma razão e, noutro dia, apontarmos outra. A questão tem a ver com os produtos que estamos a vender e a concorrência que está a existir com os nossos produtos nos mercados regional e nacional, e estamos a falar precisamente de leite UHT. Durante esses anos, dissemos sempre que a estratégia regional em construir fábricas e torres de secagem para leite em pó e leite UHT nunca levaria à valorização do nosso produto. Mas, infelizmente, estamos assentes, em quase tudo o que vendemos, em gamas baixas. As indústrias estão a concentrar-se nestes produtos de fraco valor acrescentado, com pouca diferenciação. O resultado desta estratégia é que a demonstração de resultados de algumas destas organizações já dava a indicação de que a situação iria ser preocupante no futuro (que é hoje). Comecemos pelo contexto Açores: Temos a Pronicol, na Terceira, que compra o leite mais barato ao produtor e vende o seu produto mais barato no mercado, fazendo concorrência com os produtos fabricados em São Miguel, no caso concreto do leite UHT. E a concorrência interna nos Açores é na baixa do leite ao consumidor e isto arrasta, negativamente, toda a fileira. Concorrendo estas indústrias de forma negativa nos Açores, fazem o mesmo no mercado nacional. Está-se a nivelar por baixo o preço do leite UHT na Região e a nível nacional. E quando se nivela por baixo, obviamente que o insucesso das empresas reflete-se, de forma negativa, sempre nos produtores. Falamos do leite UHT, mas nos queijos acontece o mesmo. São poucos os queijos que têm valor acrescentado. Temos poucos produtos de valor acrescentado nas nossas indústrias. Todos falam nisso, mas ninguém inverte esta situação.

As explorações mais frágeis estarão a ser empurradas para a falência?

Alguns de nós estão presos por arames. Vivemos dias dramáticos. E para mim – lamento dizer isto – é uma grande tristeza viver numa região com um potencial incrível para a produção de leite. E quando nos dirigimos a outros países e vemos como os produtores trabalham lá, a valorização que têm dos seus produtos… E tenho a certeza absoluta que nenhum leite de outro país é melhor do que o nosso. E a diferença do preço do nosso produto para o deles é sempre acentuada, quando temos um produto associado a uma marca que é a Marca Açores, com a imagem magnífica que é reconhecida por todos. O preço do leite à produção mais barato da Europa está nos Açores. O nosso preço é degradante, está delapidado. O que é triste neste momento é sabermos que nós temos um leite de extraordinária qualidade, temos uma produção que se foi adaptando àquelas que eram as necessidades impostas pela indústria. E estamos numa situação em que a baixa da produção não foi imposta pelos produtores. É imposta pela indústria. Aqueles que nos pediram mais, agora pedem-nos muito menos.

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Fonte
Diário dos Açores

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