Tem cabelos brancos? Pode ser do stress…
Até agora apenas se contava, sem quaisquer provas, a história de Maria Antonieta: parece que quando foi capturada durante a Revolução Francesa viu o seu cabelo ficar branco de um momento para o outro. A explicação? O stress extremo causado pelo futuro fatídico que a esperava: a guilhotina. Se isto realmente se passou ou não, não sabemos. Mas, nos dias de hoje, uma coisa é certa: o stress pode, efetivamente, envelhecer-nos.
Recentemente, um grupo de investigadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Crid) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), provou, através de um estudo publicado na revista científica Nature, que o stress é capaz de provocar danos permanentes nas células estaminais regeneradoras de pigmentos nos nossos folículos capilares. Trocado por miúdos: pode fazer com que as temidas “brancas” apareçam mais cedo do que deviam.
Mas como é que os investigadores chegaram a esta conclusão?
Bem sabemos que o stress é capaz de afetar bem mais do que apenas o nosso cabelo – e foi por isso mesmo que os investigadores quiseram tentar perceber qual dos sistemas biológicos atuava na coloração (ou descoloração, neste caso) do nosso cabelo – tarefa essa que não foi nada simples.
Em testes feitos com ratos, em laboratório, começaram por modificá-los geneticamente para que estes não possuíssem células imunológicas – no entanto, os animais continuavam a apresentar pêlo grisalho quando eram submetidos a algum tipo de situação que lhes causasse stress. A segunda hipótese recaiu então sobre o cortisol – comumente conhecido como a hormona do stress. Mais um tiro que falhou o alvo.
Depois de diversas tentativas, o grupo percebeu finalmente que tudo se relacionava com o sistema nervoso simpático – o que prepara o nosso organismo para reagir a situações de medo, excitação ou stress. Um género de “fica ou foge”!
Os nervos que compõem este sistema, quando confrontados com situações stressantes, libertam noradrenalina, que é posteriormente absorvida pelas células estaminais regeneradoras de pigmento. Perceberam também que as células estaminais têm a capacidade de “armazenar” células pigmentosas e que, com o passar do tempo e com o crescimento do cabelo, essas mesmas células se transformam em produtoras de pigmentos.
Acontece que quando nos deparamos com situações de stress, o neurotransmissor ativa excessivamente as células-tronco regeneradoras de pigmentos, o que leva ao esgotamento prematuro das mesmas – não existe então capacidade de produzir melanina e os nossos fios de cabelo ficam brancos.
Mas mais do que provar que, de facto, o stress tem influência direta neste processo de envelhecimento acelerado, o trabalho desenvolvido por esta equipa liderada por Ya-Chieh Hsu, especialista em biologia regenerativa na Universidade de Harvard, pode também levar ao desenvolvimento de novas formas de terapia e/ou tratamento. Os investigadores descobriram também uma proteína (CDK2), parte integrante todo este processo, que poderá ter a capacidade de impedir o aparecimento de fios de cabelo brancos causado por situações de stress.
Resumindo: o que o stress faz é acelerar o processo de descoloração dos nossos cabelos – e a esse processo, com stress ou não, ninguém escapa.
Mas para prevenir o melhor mesmo é relaxarmos e aproveitarmos tudo o que a vida tem de bom, não acha?
Inês Barbosa
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