Temas de Capa

“Em todas as minhas caminhadas, uma nova luz iluminou a minha existência” – Manuel DaCosta

 

É um homem habituado a desafios. Desde cedo teve que superar muitos obstáculos na sua vida, ao mesmo tempo que sarava feridas na alma e na mente, sempre sem olhar para trás, com muito trabalho, força e determinação. Talvez tenham sido estas marcas de personalidade que o transformaram num empresário bem-sucedido.

Manuel DaCosta tem hoje uma vida muito preenchida, com muitos momentos de grande tensão, outros mais distendidos, mas sempre com uma carga de responsabilidade, bem pesada, nas suas costas. Tenta libertar-se dela, sempre que pode, no meio da natureza, seja percorrendo caminhos de peregrinação ancestrais, seja escalando montanhas. Prepara-se fisicamente, estrutura-se mentalmente e lá vai ele, com a certeza de que no fim será um homem renovado, com mais confiança em si próprio e na sua capacidade de superação. Ao longo de cada percurso, tem tempo para pensar, para admirar a beleza envolvente, para esquecer a dor e sentir-se feliz, porque, no fim de tudo, é como se o corpo e a mente festejassem o equilíbrio e a paz que conseguem atingir. Como o próprio reconhece, em cada passo, a cada metro alcançado, a cada topo atingido há novos raios de luz que passam a iluminar-lhe o caminho de vida.

Milénio Stadium: Qual foi a primeira escalada que fez e qual foi a razão da escolha?
Manuel DaCosta: Apesar de ter feito muitas caminhadas mais pequenas, a minha primeira grande caminhada foi o Caminho Costeiro de Santiago, que começa no Porto e termina em Santiago de Compostela. Tendo nascido numa vila costeira, Castelo do Neiva, e não estando familiarizado com muitas das cidades ao longo do Atlântico e de Espanha, foi um processo educativo rever as minhas raízes e os desafios daqueles que ganham a vida na pesca, ao longo da costa atlântica.

MS: O que sentiu quando pela primeira vez chegou ao topo da montanha que estava a escalar?
MDC: A primeira montanha que escalei foi o Monte Kilimanjaro, na Tanzânia. É a montanha mais alta do continente africano. A sensação de chegar ao topo é uma combinação de euforia e de reconhecimento do sacrifício de que o nosso ser físico é capaz.

MS: Há um processo anterior à escalada ou caminhada que é essencial. Que tipo de preparação física e mental faz para que tudo possa correr bem?
MDC: Para a escalada do Kilimanjaro, treinei durante 6 meses para ficar fisicamente apto e cerca de 3 meses para ficar mentalmente apto. Houve uma série de reuniões e seminários para garantir que o corpo e a mente estavam física e mentalmente em forma. Garantir que se é capaz de suportar condições que desafiam o processo cerebral, a cada passo de subida e descida, é crucial para o sucesso como alpinista.

MS: Quando decide fazer uma caminhada ou escalada, qual é a sua grande motivação? É apenas uma questão de testar a sua capacidade de superação pessoal, ou tem outras motivações?
MDC: O conceito de realização pessoal assume muitas formas quando se perseguem paixões e obstáculos para atingir os objetivos. Rever os nossos valores envolve a avaliação de quem somos. Muitas vezes, os desafios aventureiros, longe da normalidade da vida quotidiana, despertam as paixões que tornarão a sua vida mais completa. Explorar os nossos limites pode ter um significado rico e profundo nas nossas vidas, uma vez que nos colocamos em situações estranhas e invulgares. As minhas buscas foram sempre no sentido de encontrar um outro compartimento na minha alma que eu não sabia que existia. Em todas as minhas caminhadas, uma nova luz iluminou a minha existência.

MS: A escalada, por exemplo, estimula os níveis de concentração, atenção ao pormenor e estratégia. Que aprendizagens tem transportado para a sua vida pessoal e profissional depois de cada desafio superado?
MDC: O conceito de trekking envolve sempre uma certa dose de risco, pelo que a preparação é fundamental. Em todas as situações, há planos a seguir e regras a cumprir. As pessoas que nos guiam são o olho da nossa mente e têm de ser respeitadas e as suas instruções seguidas. Quando se desafia a vida, não se pode ignorar as dificuldades e as incertezas e isso eu sempre respeitei. Imitei muitos destes aspetos na minha vida pessoal, não me permitindo desistir a meio da montanha.

MS: Quer nas escaladas, quer nas caminhadas há um contacto próximo com a natureza e com o desconhecido. Estes são também fatores que o estimulam a sair do seu conforto e desafiar os seus limites?
MDC: A natureza é o alimento da nossa alma. Tendo nascido numa terra oceânica que também tinha uma grande componente agrícola, a natureza alimentou-me e sustentou-me na ausência de quaisquer outras componentes nutritivas. Em criança, adquiri um sentido de sobrevivência quotidiana que a natureza protegia e carrego-o comigo em tudo o que faço.

MS: Entre outros desafios, fez já por duas vezes o Caminho de Santiago. O facto de ter um cariz espiritual, ou seja, de ser um caminho de peregrinação, torna esta caminhada diferente de outras?
MDC: Não sou a pessoa mais religiosa, mas sou espiritualmente forte. Esta força conduziu a minha vida e ensinou-me a humanidade da vida em sociedade. Nos nossos desafios diários, sentimos por vezes que a nossa força metafísica interior nos abandona, obrigando-nos a enfrentar medos e empurrando-nos para limites desconfortáveis. A reflexão sagrada nos passos que dei nos Caminhos ou nas caminhadas de montanha proporcionou um sustento divino de paz e tranquilidade que não se encontra sem a quietude da reflexão pessoal.

MS: Como se sente quando supera um desafio desta natureza? O que sai mais fortalecido – o corpo ou a mente?
MDC: Completar mais uma odisseia é dar mais um passo na autodescoberta, confiando em quem sou e permitindo-me aumentar o crescimento da minha mente, o que irá remover os demónios que muitas vezes desafiam a bondade que possuímos. As recompensas não duram para sempre sem renovação e, por isso, a razão pela qual esta atividade tem de ser um compromisso para toda a vida, ou a alternativa é um terapeuta que nada tem a ver com a natureza.

MS: Podemos afirmar que nestes desafios, procura acima de tudo encontrar-se consigo próprio?
MDC: Penso que nunca nos podemos encontrar completamente. Todos os dias encontramos desafios pessoais que nunca sentimos antes. Através das minhas aventuras, atingi níveis gratificantes de autodescoberta, inalcançáveis de qualquer outra forma. Enfrentar desafios, cultivar a resiliência e estabelecer ligações com outros mundos naturais, enquanto pratico a minha espiritualidade, é uma experiência inigualável.

MS: Qual será o próximo desafio? Já tem um destino escolhido?
MDC: Sim, há mais percursos pedestres a caminho na minha vida. Seja uma montanha ou uma caminhada, levar-me-á a um lugar onde um pequeno pedaço do paraíso se revelará. Não vos posso dizer onde é, porque por agora é só meu.
MB/MS

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