Comunidade

Livro e documentário que resgatam memórias da ditadura em exibição em Toronto

 

No passado sábado 1 de junho, a Peach Gallery, recebeu familiares, amigos, académicos, escritores, empresários, representantes comunitários e o público em geral que foram prestigiar a obra literária “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” e a estreia do documentário “África, como eu a vi”.

A obra “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência” foi concebida pelo historiador Daniel Bastos a partir do espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, antigo oposicionista, militar desertor, emigrante e exilado político.

Fernando Mariano Cardeira captou fotografias marcantes para o conhecimento da sociedade, emigração e resistência à ditadura nos anos 60 e 70 e o historiador, escritor e professor Daniel Bastos, deu vida a estas memórias em formato de livro.

Daniel Bastos destacou a importância de contar a história no Canadá, para a comunidade e com a comunidade -“No fundo vai muito ao encontro daquilo que é a universalidade da cultura portuguesa. Estar no Canadá, estar com a nossa comunidade, no fundo, é com estar em casa e estar em família. Este livro sendo um livro que homenageia e destaca o papel dos nossos protagonistas anónimos da história portuguesa, que são os nossos emigrantes, que são antigos combatentes da guerra colonial, são no fundo todos aqueles que procuraram aquém e além fronteiras as melhores condições de vida. É uma forma de homenagear os laços da portugalidade e da liberdade que se assinalam precisamente este ano”. O historiador, escritor e professor falou da inspiração por detrás do livro “a inspiração foi o espólio fotográfico de Fernando Mariano Cardeira, que além de amigo é, de facto, um protagonista, um homem que captou retratos praticamente inéditos, mas de extrema importância para a compreensão da história da segunda metade do século XX de Portugal, designadamente o quotidiano da pobreza, a miséria de Portugal dos últimos anos da ditadura, o impacto da guerra colonial, aquilo que foi também a resistência e a imigração que, no fundo, foi impulsionado neste período pelas condições do pais”
Também perguntamos sobre o momento mais marcante do processo de criação do livro “foi o embarque de tropas portuguesas para a guerra colonial. As fotos em que as mães se despedem dos filhos, onde se percebe toda a ambiência de dor e de tristeza. Imagina o que seja uma mãe a despedir-se de um filho, a mulher de um marido, o pai de um filho, sabendo que provavelmente poderia não voltar a vê-lo. Foi um conflito trágico para milhares de jovens portugueses e para as populações africanas que sofreram também e sentiram diretamente na pele aquilo que era uma guerra sem sentido”.

 

 

Manuel DaCosta, Comendador, Presidente da MDC Media Group e filantropo partilhou com a nossa equipa este momento “a minha interação com Daniel Bastos já vai há alguns anos. Colaboramos em vários livros que são livros que representam um pouco da história da imigração, ao mesmo tempo, a história de Portugal e como imigrante estou sempre interessado. Eu acredito que este seja o melhor livro escrito por ele até hoje, apesar dos outros também serem muito bons. Eu acho que vale a pena porque, historicamente, são imagens que eu compreendo porque as vivi de muitas formas. Então é um espólio de fotografias que vale a pena ver e recordar, cada uma tem mensagens incríveis ”.

Conversamos ainda com Ilda Januário que partilhou algumas memórias: “eu vim para o Canadá há mais de 50 anos, mesmo sendo adolescente, lembro muito bem do que se vê nas fotografias. As pessoas muitas vezes esquecem tudo isto e sentem o saudosismo do passado… As coisas no país estão muito melhores para mulheres e não só. É uma das muitas coisas que temos que agradecer ao país depois de 1974”.

 

 

A obra, tem edição bilingue (português e inglês) com tradução de Paulo Teixeira e prefácio do investigador José Pacheco Pereira, e foi realizada com o apoio institucional da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril.
O dia terminou com a apresentação do documentário “África, como eu a vi”, que através da recolha de testemunhos de antigos combatentes da Guerra Colonial, homenageia aqueles que lutaram pela inclusão de Portugal num mundo de consciência democrática.

Artur de Jesus antigo combatente, teve que se conter para não chorar e, mesmo assim, falou para o jornal Milénio “quando eu vejo este livro faz-me recordar muito o que passámos. Neste momento, tento segurar as minhas lágrimas. No ultramar eu perdi dois primos, um em Angola e outro em Moçambique. Foi uma guerra de 13 anos que nada valeu. Foram mais de 10 mil vidas, uma guerra que não nos trouxe nada. Temos antigos combatentes vivos com muitas memórias tristes, que ficam gravadas não só nos corpos, mas também no coração.”

 

 

Há mais de 70 anos que os imigrantes portugueses desembarcam no Canadá. Estes pioneiros deixaram a vida sob a ditadura portuguesa para se aventurar no desconhecido e arriscarem um futuro melhor. A iniciativa cultural marca, assim, a abertura da celebração do mês de junho, que é assinalado como o Mês da Herança Portuguesa no Canadá e celebrado um pouco por todo o país.

Texto e Fotografias Francisco Pegado

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