Temas de Capa

Violência gera medo e cala muita gente

violencia escola - milenio stadiuM

 

As escolas e todo o sistema de ensino são essenciais em qualquer sociedade. Verdadeiras oficinas onde se molda a personalidade e estimula a interação com os outros. Ou pelo menos devem ser…

Quando em cada manhã os pais deixam os filhos à porta de um estabelecimento de ensino, seja de que grau for, confiam que lá estão protegidos. Ou confiavam…

O que tem sucedido na GTA, nalgumas escolas secundárias (High Schools), assusta pais, professores, educadores e a sociedade em geral. As notícias chegam sempre que há vítimas mais graves e os sinais de alerta tocam por todo o lado.

E a pergunta que todos fazem, de forma mais ou menos velada é – onde falhámos ou onde está a falhar o sistema que permite que alguns jovens se tornem em seres agressivos, que fazem questão de mostrar a sua força agredindo colegas, ameaçando educadores e professores, gerando um clima de medo que se tem agravado a cada episódio de violência extrema?

O Milénio Stadium resolveu trazer este tema para cima da mesa, pensando ser do interesse de todos que se fale, sem tabus, deste assunto. Infelizmente, concluímos que pelos vistos, nos enganámos. Sem medo quero aqui afirmar, sem rodeios, que afinal andamos todos enganados quando pensamos no Canadá como sendo um país onde a liberdade de expressão é uma realidade.

Foram muitos (demasiados!) os que não quiseram responder às nossas perguntas argumentando que não podiam, impedidos pelas estruturas que os superintendem – nomeadamente o TDSB e o TCDSB. Desde profissionais de educação aos Trustee – ninguém teve coragem de nos fazer chegar a sua opinião sobre o assunto. Chegámos ao ponto de nos ser dito que “sabiam de todos os contactos que tínhamos feito”, transmitindo-nos a ideia clara de que “não vale a pena tentarem por outras vias, porque nós sabemos bem o que vocês andam a fazer”. Tudo isto até poderia ser aceitável se se tornasse claro que a centralização da difusão da mensagem fosse uma estratégia para transmitir de forma concertada uma imagem clara do que realmente está a acontecer. Mas não, porque das estruturas centrais do sistema de ensino chegaram respostas vazias ou cheias de nada. Porquê? Bem, isso também nós gostávamos de saber. É incompreensível e diria mesmo inaceitável.
Há professores que têm medo de ir para o seu local de trabalho, há alunos aterrorizados, há pais muito preocupados, este assunto não pode ser colocado “debaixo do tapete”.

Por isso, vamos colocar em evidência nesta edição não apenas o que realmente está a acontecer, como a falta de coragem de se enfrentar, com frontalidade, a situação.

O olhar de Marit Stiles

Marit Stiles foi Trustee no TDSB (entre 2014 e 2018) e é atualmente MPP no parlamento de Ontário. Conhecedora da realidade escolar e, ao mesmo tempo, política que se senta na bancada da oposição a Doug Ford, Stiles não respondeu às questões formuladas pelo Milénio Stadium, mas enviou uma declaração onde atribui responsabilidade pela situação aos “anos de cortes na educação” e ainda à “disrupção causada pela pandemia” que afastou os estudantes das suas escolas. Além disso, Stiles sublinha ainda a componente da saúde mental e os problemas de comportamento que decorreram também da pandemia. Voltando à responsabilidade política, Marit Stiles afirma que o facto de Ford querer diminuir o número de professores e aumentar o número de alunos por turma é uma verdadeira “receita para o fracasso”. Stiles defende que “é necessário ter mais adultos nas escolas para apoiar os estudantes e para garantir que eles têm a atenção de que necessitam. Para criar ambientes escolares saudáveis e seguros, precisamos de oferecer aos estudantes mais oportunidades de apoio individual, e precisamos de nos certificar de que há professores e educadores em número suficiente em salas de aula mais pequenas.” Quando já há quem defenda mais polícias nas escolas, Marit Stiles mostra de forma clara a sua posição sobre esta matéria: “Estas são crianças e jovens, a solução é mais apoio, não policiamento”.

“Years of cuts to education funding, and the disruption caused by the pandemic, have left students feeling disconnected from their schools. There are also more mental health and behavioural issues after the pandemic, and this is not being addressed. Right now, the government is asking fewer teachers to try and handle larger classes and more students. That’s a recipe for failure. Instead, we need more caring adults in our schools to support students and to make sure they get the attention they need. To create healthy and safe school environments, we need to offer students more opportunities for one-on-one support, and we need to make sure there are enough teachers and education workers in smaller class rooms. These are children and youth, the solution is more support, not policing.”

Quem nos acode – a polícia?

Sempre que há um qualquer problema que evidencia falta de segurança é normal que nos lembremos da importância da polícia para restabelecer alguma normalidade. Nesta situação de violência nalgumas escolas da GTA há quem defenda que a polícia deveria estar mais próxima dos estabelecimentos de ensino. Quisemos saber o que pensam os próprios polícias desta situação. Concretamente, como pode a polícia ajudar a restaurar a segurança nas escolas GTA?

Peter de Quintal, P.C. do departamento de Equity, Inclusion and Human Rights – Toronto Police Service, respondeu-nos que “é necessário uma conversa contínua e é necessária ação com parcerias com as direções escolares e os membros do pessoal. Todos temos um papel a desempenhar na manutenção da segurança das nossas escolas e comunidades. As escolas mais afetadas podem necessitar de mais ou recursos especializados e é aí que todos nós podemos desempenhar um papel. Pode ser algo em que haja necessidade de programas para ajudar os nossos jovens com alguns dos desafios que enfrentam na comunidade e dar-lhes oportunidades que talvez não lhes sejam facilmente acessíveis. O potencial de fazer apresentações e programação sobre o resultado de algumas das decisões que tomam, mas acima de tudo, sabendo que todos queremos fazer o melhor por eles”.
Peter de Quintal recordou um projeto que lhe é muito querido e que durante anos lhe ocupou os dias, afirmando que “o objetivo nunca foi o de policiar as escolas quando o programa de School Resource Officer (SRO) estava em vigor. Tratava-se de envolver a comunidade com um enfoque na nossa juventude. A iniciativa proativa pretendia humanizar o uniforme e criar um ambiente em que os estudantes se sentissem à vontade para se aproximarem de um agente e criar oportunidades de envolvimento comunitário em que o agente da polícia seria quase considerado outro membro do pessoal/recurso para os estudantes”.

Madalena Balça/MS

 

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