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“Não estou contra pessoas que têm ambição em querer liderar esta organização, mas o adquirir do poder não pode ser fim final” – Sérgio Ruivo

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Nada mais importante para entendermos o presente e perspetivarmos o futuro do que conhecer o passado. A história das organizações é, naturalmente, dinâmica e, portanto, sujeita a evolução e mudança, mas é fundamental que os seus princípios basilares, as razões que levaram à sua fundação sejam respeitados.

O que sabemos da história?

A Federação Empresarial e Profissional Luso-Canadiana é uma sociedade sem fins lucrativos, constituída em 7 de dezembro de 1981. Começou por trabalhar na comunidade da Grande Toronto, promovendo o desenvolvimento empresarial e comunitário, e desde então expandiu o seu alcance para promover o desenvolvimento empresarial e comunitário em todo o Canadá e Portugal.

Toronto vivia o princípio dos anos 80, a economia dava sinais de recessão, quando um grupo de empresários e profissionais, se juntaram numa primeira reunião. Recorrendo ao relato de Armindo Silva, um dos fundadores da Federação de Empresários e Profissionais Luso-Canadianos, e seu primeiro presidente, entendemos melhor como nasceu e porquê a FPCBP.

“Entre as pessoas que participavam nessas conversas onde se discutia a criação de algo diferente, estava a Dra. Laura Bulger, que era professora de Português na Universidade. E ela dizia que muitos dos jovens que, na altura, andavam na Universidade, não queriam ser portugueses. Não se identificavam como portugueses porque a comunidade não tinha nada para lhes oferecer, que não tinham nada que os orgulhasse. Não havia Cristiano Ronaldo, não tínhamos ganhado nada no futebol, não tinha ainda acontecido a Expo 98… Portugal não estava no mapa, digamos assim. Por essa altura um Professor Catedrático publicou um livro que era usado na área de estudos sociológicos, onde caraterizava a comunidade portuguesa como gente trabalhadora, que “limpava todas as torres downtown”. Esta era a imagem da comunidade. E fazer qualquer coisa para contrariar esta ideia passou a ser um dos temas principais das nossas discussões. Então pensámos numa organização que se interessasse por assuntos que diziam alguma coisa aos profissionais e empresários da comunidade, porque não havia nada.
A Federação nasceu e tinha como objetivos principais o desenvolvimento da cultura portuguesa, networking dos sócios e envolvimento político não partidário. Porquê? Porque sentíamos que tínhamos que melhorar o perfil da comunidade. Daí que um dos primeiros pontos fosse o tal desenvolvimento da cultura portuguesa – porque queríamos ir ao encontro dos jovens que não se interessavam em ser portugueses. E pensámos – o que se vai fazer? Foi então que surgiu a ideia da atribuição de bolsas de estudo”.

Como se estrutura a FPCBP?

A FPCBP é gerida por um conselho de 12 diretores e 2 administradores. Os diretores e os administradores são responsáveis perante todos os membros pela manutenção e promoção, através de vários subcomités, da imagem da FPCBP e pela organização de eventos ao longo do ano, incluindo, entre outros, fóruns mensais de negócios, um Torneio Anual de Golfe e a Gala Anual de Prémios, onde é dado reconhecimento a negócios e realizações académicas excecionais (segundo informação disponibilizada na página online da Federação).

O que é hoje a FPCBP?

Para entendemos o estado atual desta organização, que recentemente viu a sua Assembleia Geral para eleição dos novos corpos gerentes envolta em polémica e muita crítica, para percebermos o que faz hoje a FPCBP e o nível de cumprimento dos seus objetivos que estão, aliás, descritos na sua página online, começámos por tentar obter respostas para as nossas perguntas, dando voz à atual presidente da Direção (eleita no passado dia 22 de junho), Bela Cumberbatch. Infelizmente, até à hora de fecho desta edição do Milénio Stadium, não recebemos qualquer resposta. Ficámos assim impossibilitados de auscultar a opinião de quem está à frente dos desígnios do futuro desta instituição, para além de procurarmos a sua versão sobre o que se passou na reunião magna da Federação.

O que fizemos?

A ausência de resposta por parte da presidente da Federação não nos inibiu, no entanto, de ouvirmos outras pessoas que, devido ao seu grau de envolvimento com a FPCBP, têm opinião formada e devidamente fundamentada, sobre o que é hoje a Federação e o que deveria ser.

Sérgio Ruivo foi presidente da FPCBP nos anos de 2014 e 2015 e até ao dia 23 de junho exercia as funções de Trustee. Empresário luso-canadiano bem conhecido e, ao longo dos anos, membro/voluntário de várias organizações comunitárias, Sérgio Ruivo acedeu responder às questões do Milénio sobre a FPCBP atual e o trabalho que tem sido desenvolvido nos últimos anos.
Nesta conversa, percebe-se que há muito a fazer para garantir que a Federação cumpre o seu papel na plenitude. Sérgio Ruivo não se limita, no entanto, a criticar, mas antes apresenta um conjunto de caminhos que, sendo adotados, podem ajudar esta instituição a redirecionar a sua ação para que cumpra os objetivos que levaram à sua criação

Sergio ruivoMilénio Stadium: A Federação nasceu com o objetivo de ajudar as empresas e os negócios portugueses a expandirem-se. Uma das suas valências era criar redes de networking e desenvolver trabalho como grupo de lobbying. Considera que essa missão tem sido cumprida nos últimos anos?
Sérgio Ruivo: Nos anos em que fui presidente, esforcei-me ativamente por envolver as organizações comerciais portuguesas e as câmaras de comércio locais em Portugal para facilitar as relações comerciais com o Canadá e vice-versa, e participei em várias conferências comerciais em Portugal enquanto era presidente e posteriormente. Também recebemos aqui várias delegações comerciais de Portugal e fizemos o nosso melhor para arranjar pontos de contacto para que pudessem explorar mais oportunidades de negócio.
Fomos também uma das primeiras organizações portuguesas da diáspora a aderir e a trabalhar com a REDE Global, que foi criada para promover uma rede internacional portuguesa para empresas e indivíduos.
A nível local, promovemos vários seminários e eventos orientados para as empresas, a fim de partilhar informações com os nossos membros empresariais, tanto pessoalmente como online. Isto foi feito mesmo durante a COVID com a anterior administração, com vários webinars em linha. Infelizmente, a atividade para esse fim cessou nos últimos dois anos, por qualquer razão.

MS: Na lista de objetivos que constam na página online da Federação está este:  “Proporcionar liderança para que os luso-canadianos participem ao mais alto nível na vida cívica e política canadiana”. Recentemente tivemos uma luso-canadiana (ex-presidente da Federação) a candidatar-se à Câmara Municipal de Toronto e a Federação de Empresários e Profissionais Luso-Canadianos não fez qualquer tipo de “endorsement” para apoiar a candidatura. Que comentários lhe merece este facto?
SR: O facto de a Federação ter servido de trampolim para vários ex-presidentes é algo de que a Federação se pode orgulhar. Este objetivo foi particularmente importante nos primeiros tempos da Federação, uma vez que os fundadores tinham plena consciência de que a comunidade portuguesa não tinha representação política a qualquer nível do governo e que a comunidade carecia de uma verdadeira participação cívica no processo político e eleitoral. A candidatura da Ana foi única e sem precedentes para a nossa comunidade e ela era, sem dúvida, a melhor candidata para liderar esta cidade.
O facto de a Federação não ter tomado uma posição formal para a apoiar deixa-me perplexo. A Federação é suposto ser apolítica do ponto de vista partidário… mas não se deve fazer de burra, surda e cega. O facto de a comunidade ter sido capaz de se mobilizar para ajudar Ana Bailão na sua candidatura a presidente da Câmara indica que percorremos um longo caminho!

MS: No seu entender, o que tem que mudar na Federação? O que tem visto de trabalho positivo e negativo?
SR: Tal como acontece com qualquer organização voluntária sem fins lucrativos, é difícil manter o conhecimento organizacional, o conjunto de competências corretas dos diretores e a combinação certa de perfis.
Os recém-chegados que se juntam à organização devem realmente entender a sua história, práticas e princípios antes de empreender mudanças e manter uma mente aberta e ter um fórum onde pessoas com diferentes pontos de vista possam discutir ideias de maneira civilizada.
A Federação não pertence a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, pertence à comunidade e deve ser vista como tal. Infelizmente, os acontecimentos recentes revelaram-se dececionantes, uma vez que a atual geração de diretores executivos parece ter posto de lado esta ética.
Do lado positivo, a Federação continua a destacar-se em coisas como a Gala, as Bolsas de Estudo e alguns outros eventos regulares, principalmente devido a alguns dos diretores que trabalharam incansavelmente em nome da Federação durante muitos anos e ao seu gerente a tempo parcial, Matthew Correia.

MS: Uma das críticas que se ouve mais recorrentemente é que a Federação tem no board, e até como membros, mais profissionais do que empresários. Concorda? A ser verdade, considera isto um problema?
SR: Sim, é uma crítica válida.  A comunidade vive e é sustentada pelo setor empresarial e, em grande medida, os profissionais da comunidade são sustentados pelo esse mesmo setor empresarial ou setor empresarial em geral da GTA.
Desvalorizar ou impedir participação de membros empresariais no Board da Federação só vai implicar uma visão muito limitada no plano de ação deste Board, para ainda mais alargar a irrelevância da FPCBP no dia a dia da vida dos nossos empresários lusos.  Não estou contra pessoas que têm ambição em querer liderar esta organização, mas o adquirir do poder não pode ser fim final.

Madalena Balça/MS

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