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“É crucial para a FPCBP refletir sobre as oportunidades perdidas e reafirmar o seu compromisso com a sua missão original” – Paul Rocha

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No dia 23 de junho passado, a comunicação social luso-canadiana recebeu um comunicado de imprensa assinado por Paul Rocha. O assunto indicado no cabeçalho do email chamava a atenção – Denial of Membership Renewal and Voting Rights at FPCBP AGM.

Todo o texto apresentava de forma muito clara e contundente o que Paul Rocha considerava ser um conjunto de acontecimentos que não estavam “em conformidade com os princípios da transparência, da inclusão e da equidade, que são cruciais para o bom funcionamento de qualquer organização democrática”. A este relato feito por escrito e de forma clara, juntaram-se outros que circulavam à boca cheia, que indiciavam que pelo menos aquela assembleia geral da Federação de Empresários e Profissionais Luso-Canadianos tinha decorrido de forma pouco clara.

Quando solicitado pelo Milénio para nos dar mais esclarecimentos sobre esta matéria, Paul Rocha não hesitou e assegurou desde logo a sua participação nesta edição. Nesta entrevista, o empresário luso-canadiano não só nos relatou de forma pormenorizada o que sucedeu consigo e outros membros no dia 22 de junho e nos dias que antecederam a assembleia geral, como nos deu a sua opinião sobre o que estará mal nesta instituição e apontou soluções.

293782066_495774439020213_5845390868987700596_nMilénio Stadium: A Federação nasceu com o objetivo de ajudar as empresas e os negócios portugueses a expandirem-se através da criação de redes e do desenvolvimento de um grupo de lobby.Considera que esta missão foi cumprida nos últimos anos?
Paul Rocha: Nos últimos anos, a Federação das Empresas e Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP) tem, infelizmente, ficado aquém de cumprir a sua missão e os objetivos para os quais foi criada.
Um dos principais objetivos da Federação era apoiar as empresas e negócios portugueses na expansão das suas redes e na melhoria da sua presença. No entanto, a realidade é que têm sido organizados muito poucos, se algum, eventos significativos de negócios e profissionais, pela FPCBP, durante este período. Estes eventos desempenham um papel crucial na facilitação de oportunidades de networking, partilha de conhecimento e colaboração entre os membros. A falta desses eventos tem prejudicado o crescimento e desenvolvimento dos negócios dentro da nossa comunidade.
Além disso, embora possam ter sido estabelecidos protocolos e acordos com várias outras organizações empresariais, os benefícios reais para os membros da FPCBP têm sido mínimos ou inexistentes. É importante que a Federação aproveite ativamente essas parcerias para criar vantagens tangíveis para os seus membros, como acesso a recursos, oportunidades de negócio e serviços de apoio. No entanto, as oportunidades perdidas e a falta de resultados visíveis nesse sentido têm deixado muitos membros a questionar a eficácia e o impacto dessas colaborações.
A ausência de eventos de networking de qualidade e o envolvimento limitado em atividades relacionadas com negócios têm contribuído para uma perceção de que a FPCBP se tornou mais um clube social do que uma organização empresarial dinâmica e influente. O foco em atividades sociais, embora importante para a construção da comunidade, não deve sobrepor-se ao propósito principal da Federação, que é capacitar e defender as empresas e profissionais portugueses.
É crucial para a FPCBP refletir sobre essas oportunidades perdidas e reafirmar o seu compromisso com a sua missão original. Existe uma necessidade urgente de revitalizar os esforços da Federação, fortalecer as suas iniciativas orientadas para os negócios e priorizar os interesses e necessidades dos seus membros. Ao fazê-lo, a FPCBP pode recuperar a sua relevância e desempenhar um papel mais significativo no apoio às empresas portuguesas, na promoção de oportunidades de networking e na representação ativa dos interesses da nossa comunidade no panorama empresarial.

MS: Recentemente, realizou-se uma assembleia geral para eleger a nova Direção da Federação. Esta reunião magna foi muito criticada, e o Paul Rocha foi um dos que protestou contra a forma como todo o processo foi conduzido. Quer explicar-nos o que aconteceu que o levou a enviar um comunicado de imprensa para os meios de comunicação luso-canadianos?
PR: Gostaria de destacar os problemas específicos que encontrei e os obstáculos subsequentes que enfrentei ao tentar participar da Assembleia Geral Anual (AGM).

1) Dificuldades Técnicas na Renovação de Membro: No dia anterior à AGM, fiz várias tentativas de renovar a minha filiação através do site da FPCBP. No entanto, deparei-me com problemas persistentes na página, o que me impediu de concluir o processo de renovação. Apesar dos meus melhores esforços, a página não carregava corretamente, dificultando o meu sucesso no envio do pagamento.

2) Recusa de Transferência Eletrónica e Mudança de Regra não Comunicada: Reconhecendo a urgência da situação, contactei o tesoureiro e o presidente na manhã seguinte, o dia da AGM, para explorar opções de pagamento alternativas, como o envio de uma transferência eletrónica. Infelizmente, o meu pedido foi prontamente recusado. Para minha surpresa, fui informado de uma nova regra introduzida este ano, estabelecendo que a renovação da filiação deve ser concluída até 24 horas antes da AGM. Esta alteração foi comunicada através de um aviso por e-mail enviado a todos os membros atuais. Lamentavelmente, não recebi este aviso, uma vez que não era um membro atual naquela altura. Normalmente, o aviso da AGM é publicamente divulgado no site da FPCBP e nas redes sociais, mas, inexplicavelmente, não foi disponibilizado por esses canais.

3) Processo de Candidatura e Votação de Membro sem Precedentes: Após o meu protesto formal por e-mail, fui informado pelo presidente que a minha recusa original em renovar a minha filiação e votar na AGM seria mantida. Além disso, foi-me solicitado que pedisse a filiação, sujeita a uma votação pelo Conselho de Administração. Embora tal requisito esteja especificado nos estatutos da FPCBP, não foi implementado durante pelo menos as últimas duas décadas. Preocupa-me o facto de ter sido alvo deste processo de candidatura, uma vez que nenhum outro membro, que eu saiba, foi solicitado a preencher um formulário de candidatura e ser sujeito a votação para a filiação. Notavelmente, este requisito não é mencionado no site da FPCBP, nem durante o processo de renovação da filiação e pagamento.

Estas experiências levantam questões importantes sobre a acessibilidade, transparência e consistência dos procedimentos da AGM da FPCBP. É desanimador testemunhar estas barreiras a dificultar a participação ativa de membros dedicados que se esforçam por contribuir para o crescimento e sucesso da organização.

Ao partilhar a minha experiência, espero lançar luz sobre os desafios enfrentados por muitos membros durante a AGM deste ano e encorajar a FPCBP a reavaliar as suas políticas e procedimentos. Os princípios de equidade, inclusão e comunicação clara devem orientar as ações da FPCBP, promovendo um sentido de união e envolvimento entre os seus membros.

MS: Na sua opinião, o que é que tem de mudar na Federação? O que é que vê como trabalho positivo e negativo?
PR: Na minha opinião, uma das mudanças cruciais que precisam ocorrer dentro da Federação de Negócios e Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP) é uma estratégia de recrutamento aprimorada para o conselho de diretores. É essencial atrair e envolver os melhores profissionais de negócios luso-canadianos que possuam expertise diversificada, conhecimento da indústria e um compromisso genuíno em promover os interesses da nossa comunidade.

Ter um conselho de diretores composto por indivíduos realizados, com ampla experiência empresarial, trará novas perspetivas, ideias inovadoras e insights estratégicos para a FPCBP. Esses profissionais podem fornecer orientação valiosa na definição das iniciativas da Federação, fomentando parcerias significativas e abordando de forma eficaz as necessidades e desafios enfrentados pelos negócios e profissionais portugueses no Canadá.
Ao recrutar profissionais de alto nível, a FPCBP pode beneficiar das suas redes de contatos, credibilidade e influência na indústria. Isso, por sua vez, aprimorará a capacidade da Federação de advogar pelos interesses de nossa comunidade em níveis mais altos e estabelecer colaborações impactantes com outras organizações.

Além disso, um conselho de diretores mais diversificado e dinâmico contribuirá para uma melhor representação e inclusão dentro da FPCBP. É importante garantir que o conselho reflita a diversidade da comunidade empresarial luso-canadiana em termos de género, idade, setores da indústria e representação geográfica. Essa inclusão ajudará a Federação a abordar as necessidades e aspirações específicas de todos os seus membros, fomentando um sentimento de pertença e participação ativa.

Embora a FPCBP tenha enfrentado desafios e oportunidades perdidas nos últimos anos, também houve aspetos positivos no seu trabalho. A Federação desempenhou um papel importante na promoção da cultura e património portugueses, organizando eventos comunitários e reconhecendo conquistas notáveis por meio de prémios e reconhecimentos. Esses esforços contribuem para a coesão e orgulho da comunidade. No entanto, é vital encontrar um equilíbrio melhor entre as atividades sociais e os objetivos centrais da FPCBP, que são fomentar o crescimento empresarial, o desenvolvimento profissional e o empoderamento económico. Ao priorizar esses objetivos e recrutar os melhores profissionais de negócios luso-canadianos para o conselho, a Federação pode revitalizar seu foco, melhorar sua direção estratégica e tornar-se uma organização mais influente e impactante que atenda efetivamente aos interesses dos seus membros e da comunidade empresarial portuguesa no Canadá em geral.

MS: Uma das críticas mais recorrentes é que a Federação tem na sua direção e mesmo como membros mais profissionais do que empresários. Concorda? Se for verdade, considera que isso é um problema?
PR: Concordo com a crítica de que a Federação de Negócios e Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP) parece ter mais profissionais do que empresários no seu conselho e entre os seus membros. Na minha opinião, isso é de facto um problema que precisa ser abordado. Embora os profissionais tragam valiosa expertise e conhecimento para a mesa, é crucial que a FPCBP tenha um equilíbrio entre profissionais e empresários que estejam ativamente envolvidos na comunidade luso-canadiana. Empresários com uma compreensão profunda das dinâmicas, desafios e oportunidades da comunidade podem fornecer insights práticos, experiências de primeira mão e uma perspetiva realista sobre as necessidades das empresas portuguesas.
Ter um conselho e uma base de membros que incluam pessoas que estejam ativamente envolvidas na comunidade luso-canadiana garante que a Federação permaneça conectada ao pulso da comunidade. Essas pessoas têm conhecimento, em primeira mão, das questões específicas enfrentadas pelas empresas portuguesas, das nuances culturais que afetam as suas operações e das áreas potenciais de colaboração e crescimento.
Além disso, empresários que estão ativamente envolvidos na comunidade, geralmente, têm redes de contatos, conexões e credibilidade estabelecidas no cenário empresarial luso-canadiano. Isso pode abrir portas para parcerias significativas, oportunidades de mentoria e acesso a recursos valiosos que podem beneficiar a FPCBP e os seus membros.
Ao incentivar uma maior participação de empresários que possuam uma forte presença na comunidade luso-canadiana, a Federação pode aproveitar seus insights, relacionamentos e conhecimentos empresariais para impulsionar iniciativas impactantes e advogar pelos interesses coletivos das empresas portuguesas. É crucial estreitar a lacuna entre profissionais e empresários para promover a colaboração, a troca de conhecimentos e uma visão compartilhada para o crescimento e prosperidade da nossa comunidade.

MS: Na lista de objetivos que aparece na página online da Federação está este: “Proporcionar liderança para que os luso-canadianos participem ao mais alto nível na vida cívica e política canadiana”. Recentemente tivemos uma luso-canadiana, Ana Bailão (ex-presidente da Federação), a candidatar-se a presidente da Câmara de Toronto e a Federação dos Empresários e Profissionais Luso-Canadianos não fez qualquer apoio à sua candidatura. Que comentários tem a fazer sobre este facto?
PR: Como a única candidata portuguesa à Câmara Municipal de Toronto, é minha opinião pessoal que a Federação de Negócios e Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP) deveria ter apoiado formalmente a candidatura de Ana Bailão.
Ana Bailão, como ex-presidente da Federação, possui um profundo entendimento da comunidade luso-canadiana e dedicou-se a servir e defender os nossos interesses. Ao endossar a sua candidatura, a FPCBP teria demonstrado o seu compromisso em apoiar e capacitar os portugueses no Canadá em todas as áreas, incluindo a vida cívica e política.
Mesmo que a FPCBP desejasse permanecer neutra e não endossar formalmente nenhum candidato, eles poderiam ter fornecido a Ana Bailão uma plataforma para expressar as suas ideias e planos para a comunidade empresarial portuguesa. Isso teria permitido que a nossa comunidade tivesse uma melhor compreensão da sua visão para Toronto e de como ela pretendia abordar questões importantes para nós.
Além disso, a FPCBP poderia ter divulgado uma declaração expressando o seu orgulho em ter uma ex-presidente e vencedora de prémios a concorrer à Câmara Municipal da maior cidade do Canadá. Tal declaração teria destacado as conquistas e contribuições de Ana Bailão para a comunidade luso-canadiana, e teria mostrado o compromisso da Federação em apoiar os seus membros em sua busca por posições de liderança.
Ao se envolver ativamente na campanha de Ana Bailão e reconhecer publicamente a sua candidatura, a FPCBP teria demonstrado unidade e solidariedade dentro de nossa comunidade, reforçando a importância da representação e participação portuguesa em todos os níveis da vida cívica e política canadiana.

Madalena Balça/MS

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