Jacinta Ardern: O bom exemplo
Num tempo em que a política e os políticos são postos em causa e onde só o nome atormenta a mente até dos mais distraídos, vem uma notícia da longínqua Nova Zelândia que nos faz acreditar e ter esperança daqueles que deixam as suas vidas particulares pela difícil missão de conduzir um país.
Os motivos por que se põe em causa a política? Nomes como Nadhim Zahawi e Rishi Sunak no Reino Unido, Steve Clark e Doug Ford aqui no Canadá e os casos que já sabemos em Portugal, infelizmente em todos os quadrantes políticos desde o PS ao PSD passando pela CDU, com um denominador comum suspeitas e mais suspeitas de atos menos rigorosos de governança (estou a ser simpático!).
Jacinta Ardern, depois de cinco anos como primeira-ministra da Nova Zelândia, decidiu não continuar. E porque não? As pessoas têm tanta sede de poder que se eternizam nos lugares e satisfazem vícios que depois dão em polémicas, como as que referi acima, fazem mal em continuar. A certa altura, a ainda primeira-ministra da Nova Zelândia dizia que sempre pensou em primeiro lugar ajudar as pessoas. Muito bem, aplaudo. Ela poderia candidatar-se com esperança na reconquista, pois as sondagens davam-lhe uma vitória. Sabemos que não tem dentro do país o mesmo índice de popularidade como tem a nível internacional, mas teria o suficiente para ganhar.
As razões que apresentou para o abandono foram simplesmente a de estar esgotada e cansada. Não é sinal de fraqueza, é a sinceridade de quem tudo fez para impor as suas ideias de forma a lograr uma boa governação. Tão importante como saber entrar é saber sair e esta jovem deu um exemplo a todo o mundo. Mostrou que os políticos também são humanos e que antes que comecem a ficar incompetentes, o que aliás acontece muito, podem e devem por um ponto final no seu contributo para a causa pública. Ela apelou também para o encontro de caminhos próprios de liderança, incentivando outros a seguirem-lhe as pisadas, criando uma nova geração de líderes. Ardern deixou também a liderança do Partido Trabalhista da Nova Zelândia onde conseguiu ser eleita muito por conta das suas ideias progressistas que, diga-se de passagem, também me convenceram a mim.
Quero destacar ainda duas coisas: o facto de quando foi eleita ter somente 37 anos e uma curiosidade, que fica para a história, quando ela levou a sua filha recém-nascida à Assembleia Geral das Nações Unidas, dando relevo ao papel de mãe.
Claro que para além do cansaço, os constantes ataques de que sofria por parte de alguma imprensa e políticos da oposição não ajudaram a que continuasse. Mas fica na história como uma estadista que cumpriu com qualidade superior a sua missão e são bem-vindos à política outros e outras com as mesmas características e sinergias. Uma das coisas que me ficou do discurso de Jacinta foi o facto de ela achar que a política não tem de ser um lugar cheio de egos e onde as pessoas estão é focadas em fazer mal a quem está próximo.
“Quero ser uma boa líder, não uma boa líder feminina. Não quero ser conhecida simplesmente como a mulher que deu à luz.” – Jacinta Ardern
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