{"id":88868,"date":"2021-12-10T12:18:04","date_gmt":"2021-12-10T17:18:04","guid":{"rendered":"https:\/\/mileniostadium.com\/?p=88868"},"modified":"2022-01-31T10:30:13","modified_gmt":"2022-01-31T15:30:13","slug":"vidas-com-historia-faustino-luis-coelho","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/mileniostadium.com\/local\/vidas-com-historia\/vidas-com-historia-faustino-luis-coelho\/","title":{"rendered":"Faustino Lu\u00eds Coelho"},"content":{"rendered":"

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\"Vidas
Cr\u00e9ditos: Diego Perez<\/figcaption><\/figure>\n

Registar mem\u00f3rias, honrar o percurso que desbravou caminhos e dar a conhecer quem um dia, por raz\u00f5es diversas saiu do seu pa\u00eds para vir viver no Canad\u00e1. \u00c9 este o prop\u00f3sito deste \u201cVidas com Hist\u00f3ria\u201d que, em breve se transformar\u00e1 tamb\u00e9m num programa de televis\u00e3o que ser\u00e1 transmitido na nossa Cam\u00f5es TV. <\/b>Desta vez, trazemos o registo de uma vida vivida entre tesouras e navalhas. Uma vida cheia. Faustino Lu\u00eds Coelho \u00e9 o protagonista. Do alto dos seus 90 anos e com uma cabe\u00e7a a funcionar em pleno, o Sr. Faustino faz-nos recuar no tempo e transporta-nos para outras eras, seguindo o seu percurso de vida.<\/b><\/p>\n

\"Vidas
Faustino, esposa e filhos – Cr\u00e9ditos: DR.<\/figcaption><\/figure>\n

Geraz \u2013 onde nasceu Faustino e a sua arte<\/b><\/p>\n

\u201cA minha vida j\u00e1 vai h\u00e1 90 anos. Nasci na freguesia de Geraz, P\u00f3voa de Lanhoso<\/a>. O meu falecido pai era da tropa na Primeira Guerra Mundial e aprendeu a trabalhar como barbeiro. Depois acabou a guerra, veio para Portugal, arranjou namoro com a minha m\u00e3e e casaram-se. Ela era da freguesia de Ferreiros, que \u00e9 encostada \u00e0 freguesia de Geraz. O meu pai era barbeiro s\u00f3 ao domingo, porque ele era caseiro, trabalhava numa quinta. Antigamente era s\u00f3 ao domingo que se cortava o cabelo e fazia a barba. O povo da freguesia juntava-se no fim da missa e havia uma mercearia que era tamb\u00e9m taberna, caf\u00e9\u2026 era tudo. E ent\u00e3o era a\u00ed que o meu pai tinha um cantinho para trabalhar. E n\u00f3s os filhos, que \u00e9ramos quatro rapazes, todos aprendemos a arte de barbeiro. Eu dos quatro aos sete anos andei a guardar gado com o meu falecido pai. Depois dos sete anos ia \u00e0 escola e quando sa\u00eda ia ajudar o meu falecido paizinho e a minha m\u00e3e.\u00a0 <\/span>\u00c0 hora do meio-dia metia o gado na corte e ajudava o meu pai que andava a podar as videiras, a cavar os campos, tudo.\u201d<\/span><\/p>\n

\"Vidas
Faustino \u00e0 porta da sua barberia – Cr\u00e9ditos: DR.<\/figcaption><\/figure>\n

Lisboa \u2013 o trabalho, o casamento e o curso de cabeleireiro unisexo<\/b><\/p>\n

\u201cDepois vim para Lisboa, tinha 16\/17 anos. O meu falecido pai tinha um parente em Lisboa que vendia fruta por grosso. E trabalhava na Ribeira. Um dia, ele foi \u00e0 quinta do meu pai comprar laranjas e o meu pai pediu-lhe se ele arranjava trabalho para um filho. N\u00e3o era para mim, era para o meu irm\u00e3o mais novo, mas ele n\u00e3o quis ir e o meu pai perguntou-me se eu queria ir e eu fui. Quando cheguei a Lisboa fiquei empregado numa leitaria. E ia entregar o leite a casa dos fregueses e, de vez em quando encontrava uma rapariga e a gente brincava, n\u00e3o \u00e9? Sem maldade. Conheci a minha mulher depois de sair da tropa, nessa altura trabalhava no metropolitano e trabalhava como barbeiro nas horas vagas em Campo de Ourique e na C\u00e2mara Municipal de Lisboa (tamb\u00e9m como barbeiro). Depois dediquei-me \u00e0 profiss\u00e3o. Fui tirar um curso de cabeleireiro unissexo, em 1964. Sabe eu sempre gostei de subir escadas \u00e9 por isso que ando aqui \u00e0 rasca do joelho, porque gostava de subir, subir, subir\u2026 aquela gan\u00e2ncia de ser o melhor. Estive em Viena de \u00c1ustria e em Paris em concursos de cabeleireiros.\u201d<\/span><\/p>\n

\"Vidas
Faustino a trabalhar na sua barbearia – Cr\u00e9ditos: DR.<\/figcaption><\/figure>\n

A vinda para o Canad\u00e1 <\/b><\/p>\n

\u201cUm primo meu foi um dos primeiros imigrantes que veio na primeira embarca\u00e7\u00e3o para o Canad\u00e1 para trabalhar nos \u201cfarms\u201d. O meu irm\u00e3o que \u00e9 o mais novo de n\u00f3s casou com uma prima e veio tamb\u00e9m aqui para o Canad\u00e1. Depois chamou o meu irm\u00e3o mais velho e depois vim eu. O mais velho chamou-me a mim. N\u00f3s t\u00ednhamos a nossa profiss\u00e3o como barbeiros. Vim \u00e0 procura de uma vida melhor, mas eu at\u00e9 n\u00e3o tinha raz\u00e3o de queixa da vida que tinha em Lisboa. Quando cheg\u00e1mos ao Canad\u00e1 a minha filha mais velha tinha 9 anos, quer dizer veio c\u00e1 fazer j\u00e1 os 9 anos, no Parque Madeira, e a mais nova veio com 4 anos e 3 dias.\u201d<\/span><\/p>\n

\"VidasA chegada, os telhados e a casa<\/b><\/p>\n

\u201cCheguei no dia 14 de julho de 1968. Eu sou puro \u2013 quando vinha no ar, calhou vir \u00e0 janela e quando o comandante disse que est\u00e1vamos em cima de Toronto eu olhei para baixo e botei as m\u00e3os \u00e0 cabe\u00e7a \u201cai Jesus que isto aqui \u00e9 s\u00f3 barracas!\u201d, porque parecia, por causa dos telhados. N\u00e3o estava habituado, porque em Portugal \u00e9 telha e eu aqui via aquelas chapas todas lisas, como se usava nas barracas l\u00e1 em Portugal. Quando cheguei ent\u00e3o vi que afinal era o para\u00edso. Senti a alegria e a amizade do meu querido irm\u00e3o Fl\u00e1vio. O meu irm\u00e3o morava na Oxford e nas primeiras noites remedi\u00e1mo-nos e fic\u00e1mos em casa dele. Depois arranjei um apartamento na Brunswick, mesmo em frente ao Hospital. Fic\u00e1mos l\u00e1 um m\u00eas, s\u00f3, porque o pr\u00e9dio foi vendido e fomos para Markham e College. Depois em 1971 comprei esta casa. Naquele tempo comprei-a por 29,200 d\u00f3lares, agora hoje vale o qu\u00ea \u2013 1 milh\u00e3o e quinhentas? \u00c9 assim a vida.\u201d<\/span><\/p>\n

A ideia que trazia e a realidade hoje<\/b><\/p>\n

\u201cTrazia a ideia de me ir embora, ao fim de um tempo, mas olhe\u2026 devo ficar por aqui. Este agora \u00e9 o meu pa\u00eds, mas tenho sempre Portugal no cora\u00e7\u00e3o.\u201d<\/span><\/p>\n

\"Vidas
Utens\u00edlios de barbearia – Cr\u00e9ditos: Diego Perez<\/figcaption><\/figure>\n

O trabalho e os clientes<\/b><\/p>\n

\u201cFui um dos primeiros a chegar ao Canad\u00e1 com um diploma de cabeleireiro unissexo. Passado pouco tempo abri \u201cO Meu Barbeiro\u201d. Aqui as pessoas davam-me valor porque eu sabia fazer as coisas. Penso eu que sabia. Aqui havia pouca gente a cortar o cabelo \u00e0 navalha \u2013 era \u00e0 tesoura, mas cortar o cabelo \u00e0 navalha \u00e9 um bocadinho dif\u00edcil. N\u00e3o \u00e9 para qualquer um. Os meus clientes foram clientes de uma vida. Gra\u00e7as a Deus, s\u00f3 eles podem dizer, mas eu n\u00e3o tenho vergonha nenhuma de lhe dizer que fui o primeiro cabeleireiro de homens, portugu\u00eas, aqui em Toronto. Trabalhei bem e ensinei seis empregados meus a trabalhar, tanto que eles est\u00e3o todos estabelecidos. E nunca tive raiva dos meus empregados se estabelecerem. Aprenderam comigo, mas est\u00e1 bem.\u201d<\/span><\/p>\n

O ingl\u00eas? \u2013 nunca foi muito necess\u00e1rio<\/b><\/p>\n

\u201cEu vivi sempre no meio de portugueses. \u00c9 por isso que n\u00e3o falo muito ingl\u00eas. Nunca tive necessidade. Nunca estive na escola, aprendi s\u00f3 alguma coisa com os meus netos e agora bisnetos (risos). \u00c9 assim a vida. Os meus netos falam portugu\u00eas, mas os bisnetos\u2026 coitadinhos. A minha filha mais velha come\u00e7ou logo a ir para a escola, a mais nova esteve na creche (como se diz l\u00e1 em Portugal), dos 4 aos 6 anos. Depois entrou para a escola. E l\u00e1 aprenderam o ingl\u00eas. A mais nova agora \u00e9 professora, ensina outros.\u201d<\/span><\/p>\n

O fechar de portas<\/b><\/p>\n

\u201cQuando fechei as portas da minha barbearia n\u00e3o descansei nada. Porque eu quando acabei de fechar a barbearia, trouxe-a para aqui para o meu basement. Trouxe uma cadeira e um ter\u00e7o da bancada, tinha aquilo para lavar as cabe\u00e7as, tinha tudo aqui na minha casa. Por isso foi um fechar mais lento. Era o interesse\u2026\u201d<\/span><\/p>\n

MS<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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