Dez anos ap\u00f3s o temporal de 20 de fevereiro de 2010, muitas \u00e1reas da Madeira continuam vulner\u00e1veis face \u00e0 eventual ocorr\u00eancia de chuvas intensas, situa\u00e7\u00e3o agravada pelo desgaste provocado por sete grandes inc\u00eandios desde ent\u00e3o, segundo o investigador Jo\u00e3o Baptista.<\/p>\n
\u201cInfelizmente, hoje em dia, o que se constata \u00e9 que muitas \u00e1reas do nosso territ\u00f3rio est\u00e3o mais fr\u00e1geis do que h\u00e1 10 anos\u201d, disse \u00e0 ag\u00eancia Lusa, sublinhando que os fogos ocorridos entre 2010 e 2016 destru\u00edram uma \u00e1rea correspondente a 25 mil campos de futebol, sobretudo nas zonas altas da costa sul da ilha, o que remete para a introdu\u00e7\u00e3o de uma \u201cvulnerabilidade muito grande\u201d no territ\u00f3rio.<\/p>\n
Jo\u00e3o Baptista, engenheiro ge\u00f3logo e investigador da Universidade de Aveiro, sublinhou que os inc\u00eandios criaram condi\u00e7\u00f5es para, em caso de pluviosidade anormal, \u201cpotenciar\u201d deslizamentos e aluvi\u00f5es, nomeadamente nos concelhos de Santa Cruz, Funchal, C\u00e2mara de Lobos, Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta, onde, no in\u00edcio deste m\u00eas, um inc\u00eandio destruiu 700 hectares de floresta e terrenos agr\u00edcolas.<\/p>\n
O investigador madeirense considerou, no entanto, que, uma d\u00e9cada ap\u00f3s o temporal de 20 de fevereiro, as institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas e privadas realizaram um \u201cexcelente trabalho\u201d ao n\u00edvel da preven\u00e7\u00e3o, destacando a canaliza\u00e7\u00e3o das ribeiras e dos afluentes e a constru\u00e7\u00e3o de a\u00e7udes, a montante, nos principais cursos de \u00e1gua que atravessam a cidade do Funchal.<\/p>\n
Jo\u00e3o Baptista salientou tamb\u00e9m a instala\u00e7\u00e3o de um radar na ilha do Porto Santo, em 2019, que assegura previs\u00f5es meteorol\u00f3gicas mais precisas, a elabora\u00e7\u00e3o do documento estrat\u00e9gico para combate \u00e0s altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas e os planos municipais de emerg\u00eancia civil desenvolvidos pelos 11 munic\u00edpios que comp\u00f5em o arquip\u00e9lago.<\/p>\n
As campanhas de sensibiliza\u00e7\u00e3o, de limpeza e de refloresta\u00e7\u00e3o merecem tamb\u00e9m nota positiva e devem ser \u201campliadas e replicadas\u201d.<\/p>\n
\u201cO balan\u00e7o tem de ser positivo, sobretudo na salvaguarda das vidas humanas e na salvaguarda do bem mais precioso que temos, que \u00e9 a nossa m\u00e3e natureza, que \u00e9 o nosso territ\u00f3rio\u201d, disse, refor\u00e7ando que uma regi\u00e3o rica \u00e9 aquela em que a popula\u00e7\u00e3o \u201cconhece, valoriza e protege\u201d o seu territ\u00f3rio.<\/p>\n
O temporal de fevereiro de 2010, que provocou 47 mortos e quatro desaparecidos e preju\u00edzos avaliados em mais de 1.000 milh\u00f5es de euros, conta-se entre as 42 grandes aluvi\u00f5es ocorridas na ilha da Madeira desde 1600.<\/p>\n
\u201c\u00c9 um fen\u00f3meno com que temos de saber viver e acima de tudo saber mitig\u00e1-lo\u201d, advertiu Jo\u00e3o Baptista, vincando, desde logo, a necessidade de se alterar a rela\u00e7\u00e3o entre os interesses econ\u00f3micos, a seguran\u00e7a e a preserva\u00e7\u00e3o, sob pena de se legar \u00e0s gera\u00e7\u00f5es vindouras um territ\u00f3rio \u201cmais fr\u00e1gil e hipotecado\u201d.<\/p>\n
O investigador salientou que, apesar do trabalho feito nos \u00faltimos 10 anos, ainda persistem \u201c\u00e1reas muito vulner\u00e1veis\u201d, nomeadamente ao n\u00edvel da malha urbana do Funchal, localizada abaixo dos a\u00e7udes das principais ribeiras – Santo Ant\u00f3nio\/S\u00e3o Jo\u00e3o, Santa Luzia e Jo\u00e3o Gomes.<\/p>\n
\u201cEm condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas iguais \u00e0s que se verificaram no 20 de fevereiro de 2010, as consequ\u00eancias, face \u00e0 vulnerabilidade introduzida no territ\u00f3rio pelos inc\u00eandios, podem ser igualmente catastr\u00f3ficas\u201d, avisou.<\/p>\n
Jo\u00e3o Baptista lan\u00e7ou, por isso, um apelo \u00e0 popula\u00e7\u00e3o para que siga o exemplo dos antepassados na rela\u00e7\u00e3o com o territ\u00f3rio, desde logo investindo na agricultura e preserva\u00e7\u00e3o dos terrenos.<\/p>\n
\u201cEst\u00e1vamos [desde modo] a eliminar pragas, a controlar a \u00e1gua de rega, a contribuir para a economia local e familiar, a ter produtos hort\u00edcolas e frut\u00edcolas de excelente qualidade\u201d, disse, sublinhando tamb\u00e9m a import\u00e2ncia da cria\u00e7\u00e3o de planos ambientais ao n\u00edvel das escolas.<\/p>\n
DN Madeira<\/p>\n