{"id":44828,"date":"2019-09-16T14:08:59","date_gmt":"2019-09-16T18:08:59","guid":{"rendered":"http:\/\/mileniostadium.com\/?p=44828"},"modified":"2019-09-16T14:08:59","modified_gmt":"2019-09-16T18:08:59","slug":"urbano-bettencourt-lanca-novo-livro","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/mileniostadium.com\/autonomias\/acores\/urbano-bettencourt-lanca-novo-livro\/","title":{"rendered":"Urbano Bettencourt lan\u00e7a novo livro"},"content":{"rendered":"
Urbano Bettencourt, poeta e escritor com v\u00e1rias obras publicadas, nascido no Pico, licenciado em Filologia Rom\u00e2nica, colaborador de v\u00e1rios jornais, revistas e televis\u00e3o, vai lan\u00e7ar a 27 de Setembro, em Ponta Delgada, \u201cCom Navalhas e Navios\u201d, mais um rasto, como ele diz nesta entrevista, de uma longa caminhada na escrita.<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores: \u201cCom Navalhas e Navios\u201d, a publicar no final deste m\u00eas, o Urbano Bettencourt cumpre cinco d\u00e9cadas de escrita. A nova obra \u00e9 o retrato desta longa caminhada?\u00a0<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt:<\/strong> Comecei a escrever e a publicar nos jornais, alguns anos antes de chegar ao primeiro livro em 1972, que j\u00e1 n\u00e3o incluiu todos os meus poemas da altura. E neste novo livro procedo a mais uma selec\u00e7\u00e3o e deixo apenas aquilo que eu pretendo venha a ficar como o rasto dessa caminhada, embora em processo inacabado: al\u00e9m dos poemas banidos do conjunto, deixei de fora os textos em prosa po\u00e9tica e algumas narrativas curtas que integravam os livros originais; vou reuni-los em livro pr\u00f3prio e ent\u00e3o a\u00ed estaremos mais pr\u00f3ximos do que foi a minha escrita po\u00e9tica ao longo deste tempo.<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores:\u00a0 Porqu\u00ea este t\u00edtulo? Leva-nos aonde?\u00a0<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt: <\/strong>O t\u00edtulo recupera e adapta a express\u00e3o colhida no poema \u00abPastagem com homens dentro\u00bb, que pode passar como glosa, um pouco bruta e cruel, ao mais c\u00e9lebre poema de Pedro da Silveira; leva-nos por isso \u00e0 Calif\u00f3rnia, mesmo que nalguns casos esta se manifeste apenas como objecto de desejos anavalhados, mas, numa perspectiva mais pac\u00edfica tamb\u00e9m pode trazer-nos de l\u00e1 aquelas \u00abnavalhinhas\u00bb que vinham na bagagem dos regressados para presentear amigos mais pr\u00f3ximos. No contexto mais vasto do livro, \u00e9 poss\u00edvel que as navalhas tenham passado j\u00e1 \u00e0 categoria de \u00abarmas brancas\u00bb, indissoci\u00e1veis, portanto, da viol\u00eancia que em diversos momentos o livro acusa poeticamente.<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores: \u201cDe raiz de m\u00e1goa\u201d a \u201cQue paisagem apagar\u00e1s\u201d vai uma grande dist\u00e2ncia apenas na dura\u00e7\u00e3o ou tamb\u00e9m no estilo?<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt: <\/strong>O tempo faz-nos crescer e divergir, a nossa compreens\u00e3o do mundo altera-se, a rela\u00e7\u00e3o que mantemos com a linguagem torna-se mais aprofundada, mais exigente e tamb\u00e9m perme\u00e1vel ao contacto com a escrita do mundo \u2013 e essas coisas reflectem-se no modo como em cada momento olhamos para a nossa pr\u00f3pria escrita e para aquilo que pretendemos com ela. Raz\u00f5es mais do que suficientes para excluir poemas iniciais, em rela\u00e7\u00e3o aos quais me sinto desconfort\u00e1vel, incomodado mesmo com o seu excessivo voluntarismo, embora isso n\u00e3o me impe\u00e7a de reconhecer que h\u00e1 um certo ponto de vista cr\u00edtico e ir\u00f3nico que vem desde o in\u00edcio e que alguns temas se prolongam no tempo sob discursos diferenciados entre si.<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores: A poesia hoje est\u00e1 diferente?\u00a0<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt: <\/strong>A minha est\u00e1, seguramente. E, no geral, est\u00e1 diversa, como o comprova a recente antologia A Garganta Inflamada, que re\u00fane poemas de 33 autores de l\u00edngua portuguesa editados pela Companhia das Ilhas entre Maio de 2012 e Maio de 2019. Aspectos j\u00e1 referidos na resposta anterior, bem como a fun\u00e7\u00e3o atribu\u00edda por cada um \u00e0 poesia e ao seu lugar na sociedade e no espa\u00e7o p\u00fablico justificam essa diversidade.<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores: Temos que publicar mais antologias de autores a\u00e7orianos?\u00a0<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt: <\/strong>Podemos pensar em termos individuais e em termos colectivos. No primeiro caso, importa referir o que tem acontecido quanto \u00e0 obra de autores j\u00e1 falecidos e que v\u00e3o sendo recuperados lentamente. No ano passado saiu na Companhia das Ilhas a \u00abPoesia Reunida\u00bb, de Jos\u00e9 Martins Garcia, no \u00e2mbito da reedi\u00e7\u00e3o da obra completa deste autor picoense. H\u00e1 cerca de quatro ou cinco anos, a SREC promoveu a edi\u00e7\u00e3o da Obra Completa de Emanuel F\u00e9lix; j\u00e1 este ano a Imprensa Nacional publicou \u00abAlexandrina, como era\u00bb, todos os poemas de J. H. Santos Barros, o grande poeta da minha gera\u00e7\u00e3o que andou demasiado tempo arredado dos leitores. A Companhia das Ilhas em parceria com a Imprensa Nacional est\u00e1 a reeditar a obra de Vitorino Nem\u00e9sio. E o IAC acaba de apresentar \u00abFui ao mar buscar laranjas\u00bb, que re\u00fane a poesia completa de Pedro da Silveira, uma iniciativa de grande alcance em virtude da qualidade liter\u00e1ria do autor. Em termos colectivos, e no \u00e2mbito dos Col\u00f3quios da Lusofonia, a Calend\u00e1rio das Letras editou a antologia 9 ilhas 9 escritoras \u2013 organizada por Helena Chrystello e Ros\u00e1rio Gir\u00e3o, respons\u00e1veis tamb\u00e9m pela Antologia Bilingue de Autores A\u00e7orianos e ainda pela Antologia de Autores A\u00e7orianos Contempor\u00e2neos (dois volumes de poesia e prosa). Tudo isto j\u00e1 representa um contributo importante para a divulga\u00e7\u00e3o e conhecimento do c\u00e2none liter\u00e1rio a\u00e7oriano, mas h\u00e1 nomes que precisam de ser de novo trazidos ao contacto do p\u00fablico, como o do poeta J.H. Borges Martins, para referir apenas um nome de momento. Em termos de modelo antol\u00f3gico, parecem-me uma boa solu\u00e7\u00e3o os Cadernos de Santiago, projecto desenvolvido na Madeira por um grupo de professores e escritores: cada autor antologiado tem espa\u00e7o para uma sequ\u00eancia po\u00e9tica representativa e coesa, seguida de uma leitura cr\u00edtica feita por um convidado, o que significa um avan\u00e7o a v\u00e1rios n\u00edveis em rela\u00e7\u00e3o ao modelo habitual, com ganhos liter\u00e1rios e de leitura. \u201cUma cidade ama-se. Ou odeia-se. E compreend\u00ea-la?\u201d (\u201cAlgumas das Cidades\u201d, 1995).<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores: Um homem do Pico, da Ponta da Ilha, \u00e9 universal? Compreende a Cidade onde vive ou a nostalgia dos lugares inspira?\u00a0<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt: <\/strong>Creio que a vida me tornou imune ao complexo do universalismo e ao, ainda mais doentio, complexo do cosmopolitismo. Apesar do espa\u00e7o e do isolamento, a Ponta da Ilha ficava a um palmo de S. Jorge e a um pouco mais da Terceira, avist\u00e1vel em dias de luz crua. E tirando bem o rumo a leste podia ainda chegar-se a S. Miguel, donde viera o meu bisav\u00f4 Rebelo e a que eu acabaria por aportar duas vezes, a segunda tornada definitiva. No Calhau passavam barcos e gentes, vozes diferenciadas como outros tantos sinais da diversidade do mundo, chegavam os jornais da comunidade a\u00e7oriana na Calif\u00f3rnia prolongando o espa\u00e7o insular para l\u00e1 do horizonte e estabelecendo uma esp\u00e9cie de proximidade e de conv\u00edvio virtual. E de um lado e de outro do territ\u00f3rio havia ainda os universos especiais da Calheta e de Santo Amaro, entre a balea\u00e7\u00e3o e a constru\u00e7\u00e3o naval, pretexto de viagens, em suma. Tudo isso atravessa a minha poesia como sombra dos lugares e se articula com a sombra de outros lugares mais extensos e abertos, mais violentos tamb\u00e9m, por vezes; \u00e9 a mat\u00e9ria residual que em parte a alimenta. Mas em termos puramente emp\u00edricos sou um homem de cidades, em cujas din\u00e2micas (paradoxais, por vezes) me formei, e sem grandes nostalgias de um campo que j\u00e1 n\u00e3o existe sen\u00e3o como mem\u00f3ria desfigurada de n\u00f3s pr\u00f3prios.<\/div>\n<\/div>\n
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Di\u00e1rio dos A\u00e7ores:<\/strong> Como vai ser apresentado e divulgado \u201cCom Navalhas e Navios\u201d?\u00a0<\/strong><\/div>\n
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Urbano Bettencourt: <\/strong>Para j\u00e1, com uma sess\u00e3o na Livraria Solmar, a 27 de Setembro ao fim da tarde. Al\u00e9m das interven\u00e7\u00f5es protocolares, o meu amigo e poeta Fernando Martinho Guimar\u00e3es apresentar\u00e1 a sua leitura, interpreta\u00e7\u00e3o, do livro, e os meus amigos Jos\u00e9 Carlos Jorge e Maria F\u00e1tima de Sousa ler\u00e3o alguns poemas, \u00e0 semelhan\u00e7a do que j\u00e1 fizeram, em contexto mais alargado, na apresenta\u00e7\u00e3o de \u00c1frica frente e verso. O resto ser\u00e1 um processo em desenvolvimento.<\/div>\n
DR<\/a><\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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