{"id":39503,"date":"2019-07-05T00:01:05","date_gmt":"2019-07-05T04:01:05","guid":{"rendered":"http:\/\/mileniostadium.com\/?p=39503"},"modified":"2019-07-05T11:31:35","modified_gmt":"2019-07-05T15:31:35","slug":"cabo-verde-mais-maduro-no-caminho-do-progresso","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/mileniostadium.com\/africa\/cabo-verde-mais-maduro-no-caminho-do-progresso\/","title":{"rendered":"Cabo Verde mais maduro no caminho do progresso!"},"content":{"rendered":"

Cabo Verde, cuja exist\u00eancia sempre foi marcada pela seca e pela fome que ao longo dos s\u00e9culos ceifaram milhares e milhares de vida e empurraram in\u00fameros filhos seus para a triste e dura realidade que \u00e9 a emigra\u00e7\u00e3o, atingiu a maturidade, mas ainda tem muitos degraus por galgar para corresponder \u00e0s expectativas pol\u00edticas, econ\u00f3micas, sociais e culturais dos seus cidad\u00e3os. <\/strong><\/p>\n

Pa\u00eds pequeno e pobre, marcado por dificuldades v\u00e1rias que passam por uma total aus\u00eancia de recursos naturais, Cabo Verde \u00e9 uma na\u00e7\u00e3o possuidora de uma rica, complexa e aliciante Hist\u00f3ria digna de figurar nos anais da narrativa hodierna de \u00c1frica e, qui\u00e7\u00e1, do mundo. Quem souber mais sobre ela (Hist\u00f3ria) que conte melhor sobre este Cabo Verde que, convenhamos, vai deixando de ser verde para ser cada vez mais \u201cmaduro\u201d no contexto da Lusofonia e das Na\u00e7\u00f5es. Que conte \u00e0 vontade e, se poss\u00edvel, ao som dolente de uma morna ou ao ritmo eletrizante de uma coladeira, pois nesta sexta-feira, 5 de Julho, \u00e9 Dia de Cabo Verde; dia de festa, festa do \u201cPovo Crioulo\u201d.<\/p>\n

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S\u00e3o passados 44 anos desde que na sua qualidade de primeiro presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Ab\u00edlio Duarte, numa improvisada tribuna de honra, proclamava, com o simbolismo que impunha a circunst\u00e2ncia, no est\u00e1dio da V\u00e1rzea (cidade da Praia), a independ\u00eancia da Na\u00e7\u00e3o e do Estado cabo-verdiano. O Sol estava no z\u00e9nite. O calor era intenso. As moscas zuniam nos ouvidos dos presentes. Mas a indiferen\u00e7a mandava-as zunirem noutro lugar qualquer que n\u00e3o aquele. O ato que prendia a aten\u00e7\u00e3o dos presentes iria mudar as suas vidas de uma vez por todas, por isso zumbido de mosca alguma ou picadela de mosquito algum os faria tirar os olhos ou desviar a aten\u00e7\u00e3o do homem de \u00f3culos escuros, vestido de uma balalaika e cal\u00e7a boca de sino (e outros que se encontravam na tribuna) que iria anunciar algo que da\u00ed para a frente mudaria para sempre as suas vidas: Ab\u00edlio Duarte.<\/p>\n

O calend\u00e1rio gregoriano assinalava 5 de julho. Corria, de forma inexor\u00e1vel, o ano de 1975. Quase que n\u00e3o se sentia a leve aragem que passava quando no est\u00e1dio da V\u00e1rzea, apinhado de cabo-verdianos, pol\u00edticos convidados, jornalistas e amigos do arquip\u00e9lago, pediu-se a aten\u00e7\u00e3o do povo para ouvir o que diria Ab\u00edlio Duarte.
\nO suspense era total. O momento era solene. Os cora\u00e7\u00f5es palpitavam. Houve quem chorasse de alegria. Houve quem esfregasse os dedos por nervosismo. Houve quem se apoiasse e trocasse olhares inquietos com os companheiros de jornada e de circunst\u00e2ncia. Houve pais que colocaram os filhos aos ombros para que estes tamb\u00e9m pudessem testemunhar o momento. At\u00e9 mulheres com aventais tinham abandonado os afazeres de casa para n\u00e3o perderem a ocasi\u00e3o.<\/p>\n

Este era o cen\u00e1rio do memor\u00e1vel \u201c5 de Julho de 1975\u201d no estado da V\u00e1rzea, cidade da Praia, Cabo Verde. Neste dia tudo era poss\u00edvel e aceite. Tudo era v\u00e1lido neste dia ou n\u00e3o ouviriam o an\u00fancio que daria conta do dia em que veriam o hastear da na\u00e7\u00e3o que nasceria no seio do Atl\u00e2ntico M\u00e9dio. Era, afinal, o Dia da Liberdade. Prova disso \u00e9 que a bandeira das cinco quinas era arreada para dar lugar ao estandarte que representava o desafogo dos cabo-verdianos.<\/p>\n

Legado Colonial <\/strong><\/span><\/h2>\n

A ins\u00edgnia da liberdade cabo-verdiana era de cor amarela, verde e vermelha e tinha como s\u00edmbolos uma concha, espigas de milho, uma estrela negra, uma roda dentada, um livro e, na parte superior, uma picareta que mais tarde a direc\u00e7\u00e3o do PAICV decidiu retirar.<\/p>\n

A concha significava a voca\u00e7\u00e3o mar\u00edtima do cabo-verdiano. As espigas de milho simbolizavam a base alimentar de Cabo Verde. A estrela negra representava o continente africano. A roda dentada e o livro exprimiam o desejo de progresso e estudo. Sob estas divisas j\u00e1 desfraldadas e a dan\u00e7arem sob o vento da liberdade, Cabo Verde ascendeu \u00e0 independ\u00eancia com uma popula\u00e7\u00e3o estimada em 28 mil habitantes e uma economia literalmente arruinada.<\/p>\n

A atestar estava o setor da ind\u00fastria cabo-verdiana se resumia a tr\u00eas padarias (obsoletas), uma f\u00e1brica de tabacos e duas unidades falidas localizadas nas ilhas de S\u00e3o Vicente e de Boavista.
\nDemogr\u00e1fica, social e economicamente, as ilhas de Cabo Verde estavam de rastos fruto do colonialismo atroz que acabava ouvir o seu \u201ccanto do cisne\u201d. Contudo, os portugueses quando arrearam a sua bandeira e meteram-na debaixo do bra\u00e7o com destino \u00e0 Metr\u00f3pole deixaram uma pequena heran\u00e7a. O esp\u00f3lio colonialista para a na\u00e7\u00e3o e o Estado cabo-verdiano traduzia-se em mais de 70 por cento da popula\u00e7\u00e3o analfabeta, pobreza, mis\u00e9ria cr\u00f3nicas, USD 200 de Produto Interno Bruto (PIB) per capita, seis m\u00e9dicos, dois liceus, pouco mais de duas d\u00fazias de estabelecimentos de instru\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria, um tesouro p\u00fablico exaurido e tecnicamente falido.<\/p>\n

\u201cAs ilhas dos Sacerdotes\u201d <\/span><\/h2>\n

O clima seco, quente, natureza agreste, entre outros fatores, tornou dura a vida dos cabo-verdianos, o que os obrigou a emigrar desde muito cedo para distintos pontos do mundo (Angola, Senegal Europa, Am\u00e9ricas e \u00c1sia). Este fen\u00f3meno levou a que as ilhas de Cabo-Verde ficassem quase despovoadas.<\/p>\n

O despovoamento de Cabo Verde levou a que elas passassem a ser conhecidas igualmente como \u201cIlhas dos Sacerdotes\u201d pelo facto de os padres – apesar de o Vaticano n\u00e3o ver com bons olhos – constitu\u00edrem fam\u00edlias e deixarem descendentes. O padre Nicolau (Cidade Velha), por exemplo, levou ao extremo o mandamento divino \u201ccrescei e multiplicai-vos\u201d, tendo contribu\u00eddo com 54 filhos para o povoamento das 10 ilhas que comp\u00f5em o Estado cabo-verdiano.<\/p>\n

Ab\u00edlio Duarte e Aristides Pereira, verbis gratia, s\u00e3o filhos de um padre e Dulce Almada Duarte neta de um c\u00f3nego. Am\u00edlcar Cabral, o \u201carquiteto das na\u00e7\u00f5es cabo-verdiana e guineense, era neto de um sacerdote. A recomenda\u00e7\u00e3o \u201cCrescei e Multiplicai-vos\u201d continua a atual e a ser cumprido \u00e0 risca. Hoje em Cabo Verde ainda \u00e9 poss\u00edvel encontrar uma rapariga com 19 anos sem instru\u00e7\u00e3o escolar nenhuma ou condi\u00e7\u00f5es de qualquer tipo, mas com quatro ou cinco filhos sob sua responsabilidade, enquanto que os jovens com idades situadas entre os 25 e 30 anos d\u00e3o-se ao luxo de dizer que cada cabo-verdiano pode ter quantas raparigas quiser e o n\u00famero de mulheres que desejar.<\/p>\n

Jorge Eurico<\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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