{"id":115403,"date":"2024-07-05T11:31:01","date_gmt":"2024-07-05T15:31:01","guid":{"rendered":"https:\/\/mileniostadium.com\/?p=115403"},"modified":"2024-07-05T11:32:45","modified_gmt":"2024-07-05T15:32:45","slug":"obrigada-ana","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/mileniostadium.com\/opiniao\/aida-batista\/obrigada-ana\/","title":{"rendered":"Obrigada, Ana."},"content":{"rendered":"

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Se podes olhar, v\u00ea. Se podes ver, repara.<\/p>\n

Jos\u00e9 Saramago, \u201cEnsaio sobre a cegueira\u201d<\/cite><\/p><\/blockquote>\n

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A Macaron\u00e9sia, que etimologicamente significa \u201cAs ilhas da felicidade\u201d, \u00e9 formada por uma \u00e1rea biogeogr\u00e1fica composta pelos arquip\u00e9lagos dos A\u00e7ores, Madeira, Can\u00e1rias e Cabo Verde.<\/strong><\/p>\n

Ana Roque de Oliveira, Engenheira do Ambiente, visitava os A\u00e7ores (o arquip\u00e9lago mais a Norte da Macaron\u00e9sia) quando recebeu uma proposta de trabalho para a cidade do Mindelo, Cabo Verde (o arquip\u00e9lago mais a Sul da Macaron\u00e9sia), que em boa hora aceitou. E digo \u201cem boa hora\u201d porque foi o resultado dessa decis\u00e3o, e a sua passagem por Cabo Verde, que lhe permitiu ir presenteando um grupo de amigos, entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2024, com bel\u00edssimas fotos selecionadas e ilustradas por breves textos.<\/p>\n

Publicadas no Di\u00e1rio dos A\u00e7ores, a convite de Osvaldo Lopes, deram agora origem a um livro, cuja distribui\u00e7\u00e3o em Portugal \u00e9 feita pela Alma Letra, que foi lan\u00e7ado no Centro Cultural de Cabo Verde (Lisboa), no passado dia 21 de junho.<\/p>\n

A autora, em jeito de sinopse, considera-o um reposit\u00f3rio de \u201cd\u00e1divas de mem\u00f3rias, risos, esperan\u00e7a\u201d. Como excelente fot\u00f3grafa que \u00e9, Ana Oliveira escolheu como ep\u00edgrafe uma frase de Maria Velho da Costa \u201cH\u00e1 lugares que se apropriam dos olhos, que alertam como que revelados\u201d. Sim, esses lugares existem, mas s\u00f3 um olhar atento como o de Ana Oliveira, que v\u00ea o que outros n\u00e3o veem, consegue captar a natureza no seu estado original, a ess\u00eancia dos mais variados espa\u00e7os rurais e urbanos, a fauna e a flora que os habitam, bem como a alma das pessoas que por eles circulam em quotidianos de sobreviv\u00eancia.<\/p>\n

Al\u00e9m das bel\u00edssimas fotografias, somos surpreendidos com as suas \u201cdivaga\u00e7\u00f5es e coisinhas\u201d, expressas em curtas interven\u00e7\u00f5es que, na perfei\u00e7\u00e3o, estabelecem um di\u00e1logo po\u00e9tico entre as palavras e as imagens. Por muito que se repita que uma imagem vale mais do que mil palavras, a verdade \u00e9 que a Ana sabe escolher as palavras certas para com elas percorrermos o caminho do seu encontro com o objeto fotografado. N\u00e3o se trata de legendas, pelo contr\u00e1rio, mas de reflex\u00f5es profundas sobre o que est\u00e1 para al\u00e9m da imagem. Nesse sentido, apetece tamb\u00e9m descansar o olhar sobre a literariedade da sua escrita, e descobrir o instante em que imagem e texto se fundem carregados de um elevado sentido est\u00e9tico.<\/p>\n

Para exemplificar, poderia destacar v\u00e1rios textos, mas fico-me por este: \u201cJ\u00e1 pensei em fazer-me ao mar, acompanhar os pescadores numa noite de pesca \u00e0 linha. Apenas para sentir o que est\u00e1 dentro do sil\u00eancio destes homens. Parece que os homens trazem dentro de si a paz do mar.\u201d<\/p>\n

A Ana n\u00e3o precisou de entrar no mar com os pescadores, porque foi em terra, e a perscrutar horizontes, que ela fez a sua pesca \u00e0 linha – n\u00e3o s\u00f3 do sil\u00eancio de muitas vidas, mas tamb\u00e9m da alegria dos homens, mulheres e crian\u00e7as que sorriem ao futuro, mesmo quando os seus quotidianos lhes s\u00e3o adversos. Ao percorrer as duas ilhas, S. Vicente e St\u00ba Ant\u00e3o, descobriu-os por todo o lado: nas cidades e vilas \u00e0 beira-mar, mas tamb\u00e9m nas encostas escarpadas – rasgadas por vales profundos -, domesticadas em socalcos alinhados para deles se extrair o p\u00e3o. Por isso, no meio da aridez dominante, surgem aqui e ali tufos de verdura que denunciam a teimosia de quem n\u00e3o desiste e consegue levar a maior na sua luta tit\u00e2nica contra os determinismos do destino.<\/p>\n

A Ana que, tal como eles, tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 uma desistente, teve de fazer v\u00e1rias vezes as mesmas estradas e caminhos por entre nuvens cerradas, na certeza de que estas, mais cedo ou mais tarde, cederiam \u00e0 sua curiosidade para nos deslumbrar com as imagens que este livro nos oferece.<\/p>\n

As gentes de S. Vicente e St\u00ba Ant\u00e3o agradecem. E n\u00f3s tamb\u00e9m. Obrigada, Ana.
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Aida Batista<\/a>\/MS<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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