![\"img_640x426$2019_03_05_12_52_08_575782\"](\"https:\/\/mileniostadium.com\/wp-content\/uploads\/2023\/11\/img_640x4262019_03_05_12_52_08_575782.jpg\")
<\/a><\/p>\n\nQuando eu mais precisei, seguraste a minha m\u00e3o.<\/p>\n
Augusto Branco, poeta brasileiro.<\/cite><\/p><\/blockquote>\n
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N\u00e3o tenho por h\u00e1bito escrever sobre pol\u00edtica. Contudo, n\u00e3o deixo de ter as minhas convic\u00e7\u00f5es partid\u00e1rias, nem nunca me senti impedida de exprimir a minha opini\u00e3o. Tratou-se simplesmente de uma op\u00e7\u00e3o. Considerando que a vida \u00e0 minha volta me d\u00e1 mat\u00e9ria-prima suficiente para escrever, deixo a pol\u00edtica para os que a ela se dedicam.
\nFelizmente, e desde que iniciei a minha colabora\u00e7\u00e3o neste jornal, sempre me foi dada liberdade total para escolher os temas sobre os quais me debru\u00e7o, sem nunca me ter sido recusada a publica\u00e7\u00e3o de qualquer texto.
\nDesta vez, tamb\u00e9m n\u00e3o vou quebrar a regra, mas, de forma enviesada, talvez assim possa ser interpretada. Portugal est\u00e1 a viver uma profunda crise pol\u00edtica, todos o sabemos. Temos um primeiro-ministro demission\u00e1rio (mas ainda n\u00e3o exonerado), e elei\u00e7\u00f5es antecipadas j\u00e1 marcadas para dar voz ao povo, que \u00e9 \u201cquem mais ordena\u201d. Entretanto, no passado s\u00e1bado (11), foi amplamente divulgado pela comunica\u00e7\u00e3o social que Ant\u00f3nio Costa faria uma comunica\u00e7\u00e3o ao pa\u00eds \u00e0s 20 h.<\/p>\nComo \u00e9 h\u00e1bito, nestas situa\u00e7\u00f5es, fica-se suspenso do que ir\u00e1 ser dito. Seguem-se horas e horas de coment\u00e1rios feitos por \u201cach\u00f3logos\u201d e \u201ctud\u00f3logos\u201d (como por c\u00e1 dizemos), que tentam vaticinar o conte\u00fado do discurso, havendo opini\u00f5es para todos os gostos, neste jogo de adivinha\u00e7\u00e3o com que os espetadores s\u00e3o entretidos. Fic\u00e1mos tamb\u00e9m a saber que, ap\u00f3s a comunica\u00e7\u00e3o, os jornalistas teriam direito a colocar quest\u00f5es.<\/p>\n
N\u00e3o vou referir nenhuma das que versaram assuntos de car\u00e1ter econ\u00f3mico, pol\u00edtico, \u00e9tico ou moral, mas apenas aquela que achei absolutamente inusitada, e se prendia com o porqu\u00ea de, naquela noite, o primeiro-ministro ter levado a sua mulher. (Registe-se que segui tudo em direto na SIC Not\u00edcias). Quando Ant\u00f3nio Costa se dirigiu \u00e0 tribuna para falar, entrou por uma porta sozinho e com as folhas de papel na m\u00e3o. Em momento algum, enquanto Ant\u00f3nio Costa discursou e respondeu \u00e0s quest\u00f5es postas pelos jornalistas, foi captada qualquer imagem da sua mulher. Soube-se, posteriormente, que Fernanda Tadeu j\u00e1 se encontrava sentada na carpete que cobria o ch\u00e3o da sala.<\/p>\n
O Pal\u00e1cio de S. Bento \u00e9 a resid\u00eancia oficial do primeiro-ministro de Portugal, assim como o Pal\u00e1cio de Bel\u00e9m \u00e9 a resid\u00eancia oficial do Presidente da Rep\u00fablica, a menos que estes decidam prescindir de o fazer, mantendo-se a viver nas suas pr\u00f3prias casas. Cavaco Silva, por exemplo, ao longo de quase 10 anos, viveu em S. Bento; Santana Lopes tamb\u00e9m o fez, tendo mais tarde declarado n\u00e3o ter sido uma boa decis\u00e3o, pelo desconforto de n\u00e3o ter a fam\u00edlia por perto e, principalmente, pela falta de uma mulher que o apoiasse. N\u00e3o tem sido a pr\u00e1tica de Ant\u00f3nio Costa (e de outros que o antecederam) que, como sabemos, vive na sua pr\u00f3pria casa em Benfica.<\/p>\n
Aonde quero chegar \u00e9 que, sendo o Pal\u00e1cio de S. Bento resid\u00eancia oficial do primeiro-ministro, e salvaguardados os casos em que o protocolo n\u00e3o permite, por que raz\u00e3o n\u00e3o poderia Ant\u00f3nio Costa ter levado consigo a sua mulher? Independentemente dos ju\u00edzos de valor que dele se possam fazer como governante, Fernanda Tadeu, mais n\u00e3o fez do que cumprir o juramento prestado a seu marido: \u201cestar ao seu lado na alegria e na tristeza, na sa\u00fade e na doen\u00e7a, todos os dias da vida que partilhariam juntos\u201d e que j\u00e1 s\u00e3o muitos. Ant\u00f3nio Costa, que n\u00e3o gosta de expressar publicamente as suas emo\u00e7\u00f5es, limitou-se a responder: \u201cH\u00e1 gestos de carinho que n\u00e3o carecem de explica\u00e7\u00e3o, s\u00f3 de gratid\u00e3o.\u201d<\/p>\n
De tudo o que foi dito naquela noite, foi esta declara\u00e7\u00e3o humana de gratid\u00e3o que retive, tendo-me lembrado de uma outra c\u00e9lebre frase da liturgia do casamento, que aqui reduzo a \u201cFale agora ou cale-se para sempre\u201d.
\nEm situa\u00e7\u00f5es graves, como a que presentemente vivemos, quem t\u00e3o a desprop\u00f3sito faz perguntas deste tipo deveria estar calado. Para sempre!<\/p>\n