{"id":106066,"date":"2023-05-12T10:28:57","date_gmt":"2023-05-12T14:28:57","guid":{"rendered":"https:\/\/mileniostadium.com\/?p=106066"},"modified":"2023-05-12T10:28:57","modified_gmt":"2023-05-12T14:28:57","slug":"paulo-neves-nao-ha-escultura-sem-escultor","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/mileniostadium.com\/temas-de-capa\/paulo-neves-nao-ha-escultura-sem-escultor\/","title":{"rendered":"Paulo Neves: N\u00e3o h\u00e1 escultura sem escultor"},"content":{"rendered":"

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Paulo Neves refugia-se na natureza e mostra-nos essa sua vis\u00e3o atrav\u00e9s de obras imponentes, marcadas pela sua m\u00e3o de artista escultor, reconhecido pelo seu jeito simples que esconde uma aura art\u00edstica. Paulo Neves \u00e9 natural de Cucuj\u00e3es, uma freguesia no concelho de Oliveira de Azem\u00e9is, \u00e9 apontado como um dos melhores escultores da sua gera\u00e7\u00e3o. Troncos, pedras, escadas, pain\u00e9is, rodelas\u2026s\u00e3o apenas alguns dos imensos exemplos de arte que encontramos no mundo de Paulo Neves.<\/strong><\/p>\n

Mil\u00e9nio Stadium: Paulo Neves, \u00e9 um privil\u00e9gio estar aqui na sua casa, rodeado de arte, rodeado daquilo que pensa e daquilo que faz. <\/strong>
\nPaulo Neves:<\/strong> Obrigado. Eu agrade\u00e7o muito terem vindo c\u00e1.<\/p>\n

MS: O Paulo Neves pensa, sonha e realiza? <\/strong>
\nPN:<\/strong> Eu sonho, realizo e depois penso, acho que \u00e9 mais isso. Muitas vezes fa\u00e7o as coisas quase inconsciente.
\nN\u00e3o sei muito bem porque \u00e9 que as fa\u00e7o. Depois de estarem feitas eu penso sobre elas e chego \u00e0 conclus\u00e3o se est\u00e3o bem ou se n\u00e3o est\u00e3o bem.<\/p>\n

MS: Atrav\u00e9s da modifica\u00e7\u00e3o que se tem da mat\u00e9ria, o Paulo consegue transformar a mat\u00e9ria em emo\u00e7\u00f5es para as pessoas?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Eu consigo, \u00e0s vezes, surpreender-me a mim pr\u00f3prio. E quando me surpreendo, tamb\u00e9m vou surpreender os outros. Isto n\u00e3o tem uma f\u00f3rmula, n\u00e3o h\u00e1 uma f\u00f3rmula de surpreender, n\u00e3o h\u00e1 uma f\u00f3rmula de fazer. Acho que \u00e9 o ir fazendo.
\n\u00c9 um bocado como conviver, n\u00e3o \u00e9? Quer dizer, tu vais vivendo e as coisas v\u00e3o acontecendo e as coisas v\u00e3o acontecendo e tu vais vivendo. Nunca sabes muito bem como \u00e9 que vai ser uma viagem. Pode chegar ao fim de dois quil\u00f3metros por teres um furo ou teres um acidente e a viagem fica por ali.<\/p>\n

MS: Miguel \u00c2ngelo dizia que a mat\u00e9ria \u00e9 mat\u00e9ria, mas a escultura est\u00e1 l\u00e1 e o artista s\u00f3 tira o excesso.<\/strong>
\nPN:<\/strong> Sim, Michelangelo dizia isso quando era escultura da pedra, n\u00e3o \u00e9? Retirava o que estava a mais. Agora, por exemplo, o Z\u00e9 Rodrigues dizia ao contr\u00e1rio. Ele quando trabalhava com barro era sempre a p\u00f4r mais.
\nNo barro est\u00e1s sempre a p\u00f4r, na pedra est\u00e1s sempre a tirar e na madeira tamb\u00e9m. Mas tamb\u00e9m tens sempre essa hip\u00f3tese de tiras e depois colas outras coisas. Na madeira permite-nos isso tamb\u00e9m. Est\u00e1 tudo dentro de n\u00f3s pr\u00f3prios, temos \u00e9 que descobri-las, n\u00e3o \u00e9?<\/p>\n

MS: O Paulo, com as descobertas, transforma o trabalho numa realiza\u00e7\u00e3o pessoal?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Sim, eu vivo para o meu trabalho, eu costumo dizer. Sou quase como um monge que vive para aquilo que fa\u00e7o e dou a minha vida toda em fun\u00e7\u00e3o do meu trabalho. E acho que vale a pena, sim.<\/p>\n

MS: Um dos primeiros trabalhos que o Paulo fez foi um Cristo que, segundo a investiga\u00e7\u00e3o que fiz, ainda se encontra num s\u00edtio da tua casa, um Cristo que foi dedicado ao seu pai.<\/strong>
\nPN:<\/strong> Sim, eu fiz um Cristo quando tinha sete anos de idade, com os form\u00f5es que o meu pai l\u00e1 tinha e um bocado de madeira que eu, por acaso, h\u00e1 uns cinco ou seis anos descobri esse Cristo l\u00e1 no meio de ferramentas e de coisas e fiquei muito feliz. Fiquei muito contente.<\/p>\n

MS: Esse Cristo foi o princ\u00edpio de tudo e que foi feito com madeira que iria para a fogueira?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Sim. Acho que as coisas come\u00e7aram todas quando eu, um dia, fui \u00e0 lenha para a lareira e reparei nos bocados que tinham formas bonitas. Que formas bonitas tinham! E ent\u00e3o porque n\u00e3o salv\u00e1- las do fogo? E fazer com elas outra coisa sem ser alimentar a lareira? E come\u00e7ou tudo por a\u00ed.<\/p>\n

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\"paulo_neves2_1_1024_2500\"<\/a><\/p>\n

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MS: Naquele tempo, voc\u00ea v\u00ea o Homem a ir \u00e0 Lua. Foi hist\u00f3rico para a humanidade. O Paulo tamb\u00e9m fez um trabalho inspirado nesse acontecimento.<\/strong>
\nPN:<\/strong> Eu fiz uma coisa dedicada aos astronautas, embora eu n\u00e3o acreditasse naquilo, achava que aquilo era tudo um bluff, que os homens n\u00e3o tinham ido \u00e0 Lua. Que era tudo fantasia. Mas apesar disso tudo, eu fiz um trabalho.
\nAinda me lembro. Aquilo era um cepo de um eucalipto, daquelas cunhas quando se mete um eucalipto grande abaixo. Aquela cunha que sai, eu encontrei-a e gravei uns astronautas.<\/p>\n

MS: Como \u00e9 que era encarada a tua habilidade art\u00edstica nesses tempos? Eram tempos dif\u00edceis para assimilar a arte?<\/strong>
\nPN:<\/strong> \u00c9 sempre dif\u00edcil, at\u00e9 hoje. Quer dizer, at\u00e9 hoje, para mim pr\u00f3prio \u00e9 sempre um sofrimento. N\u00e3o \u00e9 …o que \u00e9 que \u00e9 a arte? Eu estou sempre a p\u00f4r em quest\u00e3o aquilo que eu fa\u00e7o. Ser\u00e1 que vale a pena? O que \u00e9 que \u00e9 afinal isto? O que \u00e9 que eu pretendo dar? O que \u00e9 que eu pretendo com as pe\u00e7as que vou fazendo, n\u00e3o \u00e9? \u00c9 sempre muito dif\u00edcil e \u00e9 dif\u00edcil para mim, \u00e9 dif\u00edcil tamb\u00e9m para os outros, para as pessoas que me rodeiam.<\/p>\n

MS: Andaste, mas n\u00e3o terminaste o curso de Desenho das Belas Artes. A melhor escola foi mesmo m\u00e3o na massa?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Eu estive l\u00e1 como aluno volunt\u00e1rio s\u00f3 dois anos, porque eu tamb\u00e9m na altura tinha de trabalhar e estudar. E um dia cansei disso e disse n\u00e3o, eu vou embora, vou embora daqui. E acho que a vida, a viagem, o viajar foi muito importante para mim. Foi ter chegado h\u00e1 50 anos ao Louvre e descobrir tudo aquilo. Paris foi muito importante para mim na altura, por ter chegado a Paris e ter descoberto outros artistas a fazer coisas e porque eu vivo num s\u00edtio pequeno. Cucuj\u00e3es \u00e9 uma aldeia.
\nO Porto tamb\u00e9m \u00e9 uma aldeia, no ponto de vista art\u00edstico, n\u00e3o \u00e9? Mas chegar a Paris e ter aqueles museus todos foi uma coisa fabulosa. Foi o momento em que parece que enchi os pulm\u00f5es de ar e pensei \u201cPorra, p\u00e1, n\u00e3o estou sozinho no mundo, estou acompanhado. H\u00e1 muita gente com o mesmo processo. H\u00e1 muita gente a gostar disto, h\u00e1 muita gente a viver, a pensar neste processo. N\u00e3o estou sozinho no mundo\u201d. Em Cucuj\u00e3es sentia-me sozinho, n\u00e3o \u00e9? Hoje n\u00e3o me sinto mais sozinho. Eu tenho tanta coisa para fazer e tantas coisas que gostaria ainda de fazer e tenho o tempo todo ocupado. Chego \u00e0 noite e j\u00e1 estou a pensar o que \u00e9 que vou fazer no dia de amanh\u00e3. Quer dizer, h\u00e1 muita coisa que eu quero fazer e acho que por isso n\u00e3o me sinto sozinho, n\u00e3o \u00e9? E h\u00e1 muita gente tamb\u00e9m que passa por c\u00e1. Hoje \u00e9 diferente. H\u00e1 40 anos era outro, era outro filme.<\/p>\n

MS: A frase \u00e9 tua – \u201cCucuj\u00e3es \u00e9 o centro do mundo\u201d.<\/strong>
\nPN:<\/strong> Cucuj\u00e3es \u00e9 o centro do meu mundo. E se \u00e9 o centro do meu mundo, para mim \u00e9 o centro do mundo. Eu hoje n\u00e3o trocaria Cucuj\u00e3es por, sei l\u00e1…. por Nova Iorque, n\u00e3o troco por Paris, n\u00e3o troco por nenhuma terra. De todas as terras que eu conhe\u00e7o, acho que para mim Cucuj\u00e3es \u00e9 a melhor terra. E porque \u00e9 que \u00e9 a minha terra? Porque eu aqui tenho um espa\u00e7o, tenho s\u00edtios onde posso trabalhar, conhe\u00e7o as ruas, sei onde posso comprar p\u00e3o…<\/p>\n

MS: Cucuj\u00e3es, \u00e9 teu universo, mas n\u00e3o tem aquele apelo dos grandes centros de arte que te poderiam ajudar numa ainda maior proje\u00e7\u00e3o.<\/strong>
\nPN:<\/strong> De vez em quando tenho necessidade de ir a grandes museus. Sei l\u00e1. De vez em quando tenho necessidade de ir a Serralves por exemplo… \u00e9 quase como tomar um banho para me lavar. \u00c0s vezes tamb\u00e9m tenho necessidade de ir a s\u00edtios, galerias e tomar um banho de cultura.<\/p>\n

MS: \u00c9 mais f\u00e1cil trabalhar pe\u00e7as de grande escal a numa mat\u00e9ria que j\u00e1 foi viva ou uma mat\u00e9ria como a pedra e o m\u00e1rmore?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Eu gosto tanto de trabalhar em pedracomo de trabalhar em madeira, como gosto de trabalhar em papel. Acho que cada material nos permite uma linguagem. E se me perguntares se gosto de trabalhar mais a pedra do que a madeira? N\u00e3o sei. Depende do dia, depende de muitas coisas. H\u00e1 dias que eu adoro trabalhar a pedra, outros dias a trabalhar madeira, mas por isso \u00e9 que eu ando sempre a saltar de um lado para o outro. \u00c9 por isso que eu tenho v\u00e1rios ateli\u00eas… de pedra, de madeira…<\/p>\n

MS: Qual \u00e9 a tua opini\u00e3o acerca da situa\u00e7\u00e3o da escultura em Portugal? \u00c9 vista e tratada da mesma forma como outras express\u00f5es de arte? Como \u00e9 que est\u00e1 essa situa\u00e7\u00e3o?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Sabes o que \u00e9 que eu acho? Eu acho que \u00e9 em Portugal e acho que tamb\u00e9m no mundo em geral, cada vez h\u00e1 menos escultores. Porqu\u00ea? Porque assim, para se fazer escultura tem que haver espa\u00e7o. Temos de ter espa\u00e7os onde possamos fazer barulho e onde existe muito p\u00f3. E cada vez mais os artistas est\u00e3o mais em cidades, procuram mais as cidades e a\u00ed \u00e9 imposs\u00edvel fazer esse tipo de trabalho.
\nAgora fazem esculturas de outra forma, feitas em 3D, as coisas s\u00e3o diferentes. Eu n\u00e3o posso dizer que a escultura est\u00e1 bem ou a escultura est\u00e1 mal. A escultura do meu tempo, acho que cada vez somos menos. Agora h\u00e1 outras formas de se fazer escultura. H\u00e1 outros meios que eu estou um bocadinho fora disso.<\/p>\n

MS: Quais s\u00e3o os planos agora que o Paulo tem para o futuro?<\/strong>
\nPN:<\/strong> Queria fazer a minha melhor escultura. Acho que o futuro \u00e9 sempre melhor. Eu gostava de viver, sei l\u00e1, mais 10 anos para poder fazer a minha melhor escultura. Eu acho que sei o que \u00e9 e o que quero fazer. N\u00e3o vou dizer agora. Mas eu acredito que o melhor est\u00e1 para acontecer. Assim, haja sa\u00fade. E eu acho que se houver sa\u00fade, eu acho que vou conseguir fazer o que quero.<\/p>\n

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