Viagens

Subir ou descer o Douro

Esteve na minha lista, durante algumas décadas, ir fazer um cruzeiro no Rio Douro. Amigos portugueses e estrangeiros contavam-me, entusiasmados, como era lindo fazer esse passeio pela Região Demarcada mais antiga do Mundo (desde 1756). Todos os anos eu dizia: tenho que planear com antecedência e fazer um desses cruzeiros!

Finalmente desci o Douro
Finalmente desci o Douro

Fiz, finalmente, um dos percursos. Como adoro andar de comboio, comecei por 3h de viagem do Porto até ao Pocinho, a estação final da famosa “linha do Douro”. As carruagens desse comboio regional iam bastante vazias e a viagem foi muito tranquila. Passámos por estações de que conhecia vagamente o nome, depois à Régua, no coração da região vinhateira e onde entrou muita gente. Mais tarde, o comboio parou na linda estação de Pinhão onde algumas pessoas desceram para apanhar um barco nesse cais. Reconheci o nome engraçado da estação Carrazede de Ansiães onde se inicia outra linha muito conhecida, a do rio Tua.

Foi uma viagem bastante agradável e a paisagem é um encanto – dois terços fazem-se sempre muito próximo do rio Douro. Um dia de sol esplendoroso fazia refletir na água a vegetação das margens dando-lhe bonitos tons de verde. Viam-se vales abertos cheios de socalcos circundantes onde a vinha cresce nesse clima propício, pontilhada por um casarão branco lá no alto ou junto ao rio.

No Pocinho, o barco que nos aguardava, com capacidade para 400 pessoas, fez a descida até à Régua. O almoço a bordo, animado por música ao vivo, foi servido enquanto se passava a primeira das barragens. Achei interessante observar como se faz aquela operação hidráulica. Descemos ainda mais duas, a de Valeira e Bagaúste. Descer a barragem da Valeira, com a altura de 32 metros, é admirável pela suavidade com que tudo se processa.
Numa certa zona do rio, o barco passa em gargantas estreitas de rochas graníticas escuras, com formatos estranhos a lembrar figuras humanas, de animais, ou outras, conforme a imaginação de cada um. Ouvi que foi a rainha Dona Maria I quem mandou dinamitar a garganta do Cachão da Valeira, até aí intransponível, o que permitiu tornar navegável aquela parte do rio. Há nas rochas uma inscrição a lembrar essa obra realizada entre 1780-1791.
O que gostei mais, todavia, foi ir reconhecendo as grandes quintas vinhateiras que, ao longo das margens do Douro, nos fazem lembrar a importância económica do vinho do Porto.

Reconheci as grandes propriedades com nomes ingleses das marcas mais famosas como Grahams, Sandeman e Croft, mas também muitos nomes portugueses como Vesúvio, Barca Velha e outros. Sempre fui uma admiradora da “Ferreirinha” (Antónia Adelaide Ferreira), essa negociante forte e inovadora, proprietária da Quinta do Vallado (estabelecida em 1716 e ainda na posse da família) e que se conseguiu impor num mundo tão exclusivo de negociantes homens. A Quinta fica nas margens do rio Corgo, afluente do Douro, perto de Peso da Régua. Fiquei com pena de não a ter avistado.

É muito natural que se esteja, desde há bastantes anos, a tirar partido da beleza dessa região do Douro para efeitos turísticos. Há um público apreciador dessa região demarcada e classificada como património da UNESCO. Até do barco se podiam ver pequenos hotéis e anúncios de alojamento em quintas cultivadas. Destinam-se a apreciadores de paz e sossego, bom vinho e certamente boa comida.

Não vi muitos barcos de recreio privados, nem barulhentos barcos a motor, nem muitos cais de embarque e desembarque. Imaginava mais movimento no grande Rio Douro e fiquei agradavelmente surpreendida.
Desci no cais da Régua, uma cidadezinha profundamente ligada ao comércio do vinho do Porto, onde contei cinco pontes, e com vistas lindas do seu miradouro junto à estação.

Ali apanhei novamente o comboio que me levou ao Porto. Desta vez, os muitos portugueses que enchiam as carruagens, talvez famílias regressadas de fim de semana em família, enchiam o comboio. A algazarra e maneiras típicas de nosso bom povo português fizeram-me sentir em casa. Para o bem ou para o mal somos expansivos, barulhentos e alegres.

Manuela Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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