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Outono com “Nuit Blanche”

A cidade de Toronto transforma-se durante o festival anual de arte “Nuit Blanche” que começa ao crepúsculo e se prolonga até ao amanhecer (das 19h às 7h). A cor, criatividade e magia dos trabalhos artísticos expostos atraem, habitualmente, muitos milhares de pessoas às ruas. Este ano tem lugar na noite do dia 5 de outubro.

Ainda me recordo quando o festival começou em 2006, em zonas muito específicas da cidade: Yorkville, Campus St. George da U of T, Bloor Street, junto ao R.O.M. e pouco mais. Nos últimos 14 anos, o Festival expandiu-se para outros bairros e, desde o ano passado, até ao município de Scarborough.

A tradição da “Nuit Blanche” teve início em 2002, em Paris (daí o nome em francês). O entusiasmo do público que aderiu, para disfrutar de uma noite inteira de arte, foi tão grande que outras cidades seguiram o exemplo da capital da cultura e, atualmente, acontece, uma vez por ano em muitos países, incluindo Portugal.

A “Nuit Blanche” é uma noite dedicada à exibição de arte sob as mais variadas formas e nela participam museus, galerias públicas e privadas e centenas de artistas internacionais, com fotografias, quadros, instalações, atuações, etc. É uma maneira de proporcionar ao grande público, e de forma gratuita, o que de melhor se produz no mundo artístico.

Na cidade de Toronto tive a sorte de viver momentos inesquecíveis ao longo dos anos em várias das “Nuit Blanche”. Vielas, túneis, paredes, entradas de edifícios, praças grandes e pequenas, jardins, coretos, relvados – qualquer espaço se pode magicamente transformar numa galeria de arte viva. A imaginação do artista deixa-nos por vezes surpreendidos, deslumbrados ou confusos, mas nunca indiferentes.

Em 2013, vivi uma experiência memorável. Tinha regressado duma viagem a Portugal no avião da tarde, exatamente no dia da “Nuit Blanche”. Exausta, depois das oito horas e meia de voo, fui dormir, sem coragem para ir caminhar pelas ruas, como faço habitualmente. Completamente desperta pelas quatro da manhã, desafiei o meu marido. “Será que ainda há arte e artistas na rua a esta hora? E se fôssemos ver?” Àquela hora tardia, havia ainda pessoas nas ruas, mas já não as multidões que se encontram nas primeiras horas. Calmamente, íamos admirando várias das exposições. Ao chegar à Nathan Philip Square, ocupando um espaço enorme, mesmo em frente à Câmara Municipal, deparámo-nos com uma instalação feita com bicicletas do famoso artista chinês Wei Wei. Não tenho palavras para descrever a comoção que senti ao observar nessa noite chuvosa, sob a luz artificial, aquela sofisticada instalação.

Neste ano de 2019, cerca de 300 artistas aceitaram o desafio de refletir sobre o conceito de “Continuidade” (“Continuum”) que pretende sublinhar os paradoxos e, simultaneamente, as interligações que se estabelecem numa cidade em constante mudança. Entre eles, Rui Pimenta, um artista português, que colabora com Dayne Hinton, no Fort York, com a instalação “Criação-Destruição”.

Em anos anteriores tem havido também participação de vários artistas portugueses com as suas obras. Mafalda Silva, Teresa Ascensão e Aida Jordão são nomes que recordo.

Nas “Nuit Blanche” pelo mundo fora, a arte deixa de estar escondida, protegida e guardada nos museus e galerias; vem ao nosso encontro nos espaços públicos enquanto caminhamos sozinhos ou em companhia de amigos. É uma oportunidade única para nos educarmos e enriquecermos a nossa mente de maneira simples e agradável.

Gostaria de ajudar um estudante da U of T a ir visitar um país de língua portuguesa?

Pode fazê-lo com um donativo (“tax donation deductible”).

www.donate.utoronto.ca/Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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