Viagens

Mergulhar na cultura do Japão

Quando fui ao Japão, não visitei Tóquio, nem Kyoto, as cidades mais conhecidas e procuradas pelos turistas. Aterrei no aeroporto de Fukuoka, na ilha de Kyushu, para me dirigir a uma pequena cidade chamada Kurume. Ao chegar à casa da família japonesa que me esperava, cometi um erro de etiqueta – fiz o gesto de abraçar a mãe da minha antiga aluna Yuki. A senhora recuou, e a pobre Yuki avisou, aflita: “we do not touch”. A partir desse momento, fiz vénias a toda a gente.

Yuki – estudante japonesa

A casa onde fui recebida, com o interior dividido por portas corridas, esteiras no chão, muitas almofadas, mesas baixas e um jardim só acessível por dentro de casa, confirmava o que conhecia de filmes sobre o Japão. As refeições eram servidas numa mesa baixinha e todos nos sentávamos no chão. À noite, uma esteira numa das divisões, até aí discretamente enrolada e envolta numa capa, era desenrolada e servia de cama.

De qualquer lado em Kurume, se destaca a estátua de uma deusa enorme, com 62 metros de altura, Jibo Kannonzou. É uma figura maternal, a deusa dos aflitos, que vela pela salvação das crianças abortadas. A estátua e essa devoção desconhecida deixaram-me impressionada. Nesse templo, vêem-se igualmente muitas figuras de Buda e é especial a de Sentaibutu, representando as mil imagens de Buda.

Um lugar inesquecível que visitei foi o povoado de Okawachiyama, nas montanhas, perto de Imari. Fez-me lembrar Sintra, o meu lugar favorito em Portugal. Situado numa colina verdejante, carateriza-se pelas ruas estreitas e íngremes, com muitas lojinhas. Vai-se a Okawachiyama para ver os artistas que trabalham a fina cerâmica.
Entra-se em qualquer uma das pequenas oficinas, após descalçar os sapatos à porta. Uma chávena de chá é-nos, amavelmente, oferecida. Artistas de mãos delicadas pintam desenhos minuciosos em chávenas, pratos e outros objetos. Trouxe de lembrança uma caixinha para a minha preciosa coleção.

Um dia, parámos num pequeno povoado onde vários membros da mesma família usavam teares e tingiam o algodão em tons de anil, com métodos tradicionais. Numa outra povoação aprendi como se faz o papel de arroz, decorado com florinhas campestres coloridas, e fiquei orgulhosa dos lindos marcadores de livros que fiz.

A Yuki empenhou-se em mostrar-me Yanagawa, “a cidade de chorões e canais”, que me fez lembrar Aveiro. Antes de dar um passeio de barco, almoçámos num restaurante perto de água. Depois de uma explicação sobre o que era a comida típica quis experimentar. Embarcámos, a seguir, para um passeio nos canais, conduzido por uma espécie de gondoleiro, de chapéu de palha em bico e cujos dentes postiços de ouro brilhavam ao sol.

Assustei-me ao ver cobras de água enormes, de cabeças no ar e línguas de fora, que seguiam o barco. A minha amiga riu-se do meu receio e apressou-se a dizer que eram inofensivas, pois toda a gente as pescava para comer. Tinha sido o nosso almoço, acrescentou. Afinal, eu não tinha percebido a explicação dada no restaurante e fiquei maldisposta só de pensar que tinha comido cobra! Desde então, não fui capaz de voltar a comer enguias.

Um dos passeios mais bonitos que fizemos, foi a visita guiada a uma plantação de chá verde, localizada na montanha. No restaurante da propriedade, assistimos a uma cerimónia tradicional de chá realizada por empregadas vestidas de atraentes kimonos de seda bordados.

Os japoneses são conhecidos por beber chá a todas as refeições. Para eles, o chá verde tem propriedades não só medicinais mas também espirituais. Para além disso, acreditam ser o chá o segredo do corpo esbelto e da longevidade que caracteriza o seu povo.

Manuela Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

Gostou de ler sobre esta viagem?

Contribua fazendo um donativo (“tax credit donation”) para uma viagem de estudante da Universidade de Toronto a um país lusófono. Clique no link abaixo e selecione THE MANUELA MARUJO TRAVEL SCHOLARSHIP

https://donate.utoronto.ca/give/show/79

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER