Viagens

E viva a Espanha!

A primeira vez que entrei em Espanha foi no tempo de estudante em Beja, na minha viagem de finalistas do liceu. Para uma adolescente da província, que apenas conhecia Lisboa duma curta visita, foi uma descoberta extraordinária conhecer as cidades andaluzas de Sevilha, Granada e Córdoba.

Viajar de Portugal para Espanha será ainda considerado ir ao estrangeiro? Nessa época, era preciso atravessar a fronteira; a mais próxima, depois de passar Vila Nova de Ficalho, ficava no Rosal de La Frontera. Presentemente, viajar entre Portugal e Espanha mudou muito depois da adesão à Comunidade Económica Europeia. Entra-se em Espanha sem quase darmos por isso, e ninguém nos pede identificação. Essa abertura e liberdade atraem portugueses e espanhóis, que hoje em dia convivem mais e se conhecem melhor, tendo sido quase esquecidas as lutas e rivalidades dum passado recuado.

Ao longo dos anos, voltei várias vezes a Andaluzia: em Sevilha continua a deixar-me maravilhada a impressionante catedral, a maior do mundo em estilo gótico, tão diferente das Sés de Lisboa ou Évora em estilo românico; em Granada, é o sumptuoso Palácio do Alhambra em que o legado mourisco se evidencia e nos faz sonhar com os contos das Mil e Uma Noites. Mas, das três cidades, a de que guardei memórias mais marcantes foi Córdoba, pela sua mesquita-catedral.

Voltei recentemente a Córdoba e escolhi alojar-me num hotel no centro histórico, para poder andar a pé pela cidade. A mesquita-catedral de Córdoba é a atração turística mais procurada e com toda a justificação. O magnífico edifício resulta de uma fusão de arquitetura islâmica e cristã. Os inúmeros e elevados arcos brancos pintados de vermelho é o que mais se destaca e torna o lugar único. As capelas cristãs inseridas no conjunto contrastam, e testemunham, o domínio das duas religiões em épocas distintas. Apesar de tanta gente visitar a mesquita ao mesmo tempo, sentimos a obrigação de manter o silêncio, caminhar lentamente, manifestando profundo respeito pelo trabalho artístico e os sinais de devoção que nos circundam. Recordava aquela magnitude, quando da minha primeira visita, mas desta vez os meus olhos souberam apreciar a mesquita com mais entendimento. Conheci, entretanto, outras em países diferentes, mas a de Córdoba continua a deixar-me maravilhada.

A cidade oferece, naturalmente, outros lugares cativantes. Como os demais visitantes, gostei de atravessar a Ponte Romana sobre o Guadalquivir, que nos faz recuar a outra época e civilização. Nela se encontra a conhecida Torre de Calahorra; a ponte une a zona histórica ao bairro de Fray Albino, na margem esquerda do rio.

As cidades de Andaluzia são conhecidas pelos típicos pátios interiores, em geral privados, ao gosto dos romanos; em Córdoba basta cirandar por São Basílio, um dos bairros mais interessantes, para poder apreciá-los. Os espanhóis parecem competir no bom gosto com que decoram os seus pátios com flores, azulejos, fontes e estatuetas. Cada um parece mais belo do que o outro. Parámos para jantar num pequeno restaurante localizado num desses pátios, onde escolhemos o típico salmonejo. O perfume das flores e o som duma pequena cascata isola-nos do mundo moderno; somos transportados para tempos idos enquanto saboreamos essa sopa fria e refrescante.

Um outro bairro que me encantou foi o da Judiaria, testemunho duma época histórica marcante em Espanha. Com ruas muito estreitas, vasos de flores garridas pendurados nas paredes caiadas de branco, anda-se um pouco em labirinto até chegar perto da Porta de Almodôvar, merecedora ela mesma de ser visitada.

Espanha e Andaluzia têm, acima de tudo algo que perturbou a adolescente, e continua a impressionar a mulher adulta: a música tradicional e o flamenco. Emocionam-me os sons da guitarra cigana, os movimentos sensuais da mulher espanhola ao bailar com as suas castanholas, e o sapateado vigoroso dos dançarinos de ambos os sexos. São, enfim, a cor, os sons e a exuberância do povo espanhol o que sobremaneira me atrai no país vizinho.

 

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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