Viagens

Camões no centro de Portugal

Como dizia o anúncio duma bem-sucedida campanha publicitária, “há sempre um Portugal desconhecido à sua espera”. Na última estadia, visitei vários pontos interessantes no centro de Portugal, a menos de duas horas de viagem de Lisboa. Na Serra da Melriça, concelho de Vila de Rei, estive no “umbigo de Portugal”, isto é, junto ao marco denominado PICOTO que define as coordenadas do Centro Geodésico de Portugal.

Do miradouro, a vista para a paisagem verdejante salpicada por pequenas freguesias é encantadora. Para quem não sabe, como eu também não sabia, o Centro Geodésico “é a coordenada zero em termos cartográficos e é daquele ponto que se fazem as medições da cartografia nacional”. Milhares de visitantes são atraídos ao cume da serra, onde, confesso senti algo de especial por ter estado no centro de Portugal!

Passei por Sardoal, Abrantes e Vila Nova da Barquinha com paragens curtas mas significativas dado cada uma oferecer razões para ali regressar e visitar os seus monumentos e outros lugares de interesse.

O meu objetivo, porém, era chegar a Constância, vila situada na convergência de dois importantes rios – o Zêzere e o Tejo – com foral de 1571, quando reinava El-Rei Dom Sebastião. O desenvolvimento desta localidade, ao longo dos séculos, deveu-se ao transporte fluvial, reparação de navios e pesca. Com a construção das barragens, perdeu essa importância.

Foi Luís de Camões, o nosso poeta nacional, quem me levou a Constância onde se encontra a “Casa-Memória de Camões”. Até então, nunca tinha parado para refletir que em Portugal, considerando a importância do poeta, não há uma “Casa de Camões” em qualquer outro lugar.

Segundo a crença popular, o poeta terá vivido durante algum tempo numa casa junto ao rio Tejo, devido a uma pena “cumprida no Ribatejo entre 1548 e 1550”. As ruínas dessa casa, comprovadamente construída nos fins do século XV ou início do século XVI, foram reconhecidas pelo governo como imóvel de interesse público em 1983. 

Graças ao empenho de vários entusiastas, entre os quais se destaca a jornalista Manuela Azevedo, foi construído nos anos 90, no mesmo local, um edifício moderno de três pisos, com todas as condições para albergar um museu, salas de exposições, auditório, biblioteca, etc. As ruínas não deixaram de ser preservadas. Há uma Associação Casa-Memória de Camões em Constância que realiza atividades culturais com regularidade, e tem lutado para um maior reconhecimento institucional. Felizmente, e já depois da minha visita, o Ministério da Cultura declarou, no dia 1 deste mês, a Casa-Memória de Camões de “interesse cultural” providenciando “apoio técnico” da tutela da Cultura “com vista ao tratamento do espólio existente”.

No dia 12 de outubro, Josiah Blackmore, antigo colega da Universidade de Toronto, agora professor na Universidade de Harvard, foi convidado, como camonista de méritos firmados,  para proferir uma palestra sobre “Os Mares Épicos de Camões”.Estive presente e foi uma oportunidade excelente para rever um amigo e me surpreender com um auditório cheio, a comprovar que o empenho da Associação se justifica plenamente.

Constância homenageia Camões também de outras maneiras. Junto ao lugar onde os rios confluem, foi desenhado um “Jardim-Horto de Camões” pelo conhecido arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles. Nele encontram-se as 52 espécies botânicas referenciadas em “Os Lusíadas” e na obra lírica, o Jardim de Macau, um painel de azulejos com o perfil dos continentes percorridos pelo poeta e um auditório ao ar livre com a reprodução do Planetário de Ptolomeu. No topo do jardim, vê-se a maior esfera armilar do país, comemorativa dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses. Uma estátua do poeta, oferta e criação do escultor Lagoa Henriques, marca a entrada do jardim-horto.

A Casa-Memória de Camões representa, para os que vivem em Portugal e fora dele, um elo importante da nossa identidade lusa que vale a pena conhecer.

Manuela Marujo

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Imagens cedidas por Manuela Marujo

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