Viagens

Buenos Aires, Paris da América Latina

Viaja-se de Florianópolis até Buenos Aires em menos de três horas de voo. Ao chegar à capital da Argentina, senti-me “em casa” dado o ar europeu da cidade. Há largas avenidas, praças com estátuas imponentes de heróis do país, bairros residenciais com lindos palacetes, teatros, museus, jardins e parques verdejantes. É conhecida como a “Paris” da América do Sul mas também como a “Rainha do Prata”, o rio em cujo estuário fica localizada. Daí ser considerada uma cidade-porto e os seus habitantes “porteños”.

 

Obelisco

Um dos primeiros lugares históricos que visitei foi a tragicamente célebre “Plaza de Mayo”, onde se situa o Palácio Rosa, a sede do governo. Lembro-me muito bem do impacto que teve, em Portugal, o começo da ditadura na Argentina quando mal tínhamos saído da nossa. O povo argentino sofreu muito entre 1976-1983: cerca de 30.000 pessoas desapareceram sem que as famílias tivessem obtido qualquer explicação, ou pedido de perdão, da parte dos responsáveis. As lágrimas vieram-me aos olhos ao ver ainda, passados mais de 40 anos, um pequeno grupo de mulheres com seus lenços na cabeça e um cartaz, a manter o protesto. As “Mães da Plaza de Mayo” simbolizam a revolta, a resistência, e o amor incondicional pelos “desaparecidos”.

O cemitério da Recoleta, localizado num dos mais famosos bairros da cidade, era outro lugar que não poderia deixar de visitar. Ver Madonna no papel de Evita Péron despertou a minha curiosidade de lá ir. Queria ver com os meus olhos a devoção dos “porteños” a essa ex-atriz, primeira-dama do presidente Péron, que desempenhou um papel político relevante. Foi preciso esperar para tirar fotografias, já que há sempre gente a rezar e a prestar-lhe homenagem, apesar de passadas seis décadas sobre a sua morte.

Buenos Aires é mundialmente famosa pelo “tango”, que se dança por toda a cidade, sendo os seus mais distintos músicos representantes Carlos Gardel e Astor Piazzolla. No bairro La Boca ou no de San Telmo, o mais antigo da cidade, vi dançar nas ruas casais idosos que continuam a exibir seu talento aprimorado por anos de prática, mas também os muito jovens que, em roupas “sexy”, demonstram a sua graciosidade e sensualidade. Fez-me, de certo modo, lembrar Lisboa e a popularidade crescente do fado nos bairros de Alfama ou Mouraria, onde se ouvem tanto os fadistas tradicionais como os mais modernos, dando ao fado um toque atual.

Para quem gosta de arte como eu, Buenos Aires é inesgotável. O Teatro Colón é o mais famoso da América Latina, mas há dezenas de peças a serem apresentadas nas muitas casas de espetáculo. Fui ao Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, o MALBA, onde estão expostas obras dos melhores artistas plásticos. Não pude deixar de entrar no Ateneo Grand Splendid, um teatro de 1919, que agora alberga uma das mais lindas e impressionantes livrarias do mundo. O National Geographic colocou-a em primeiro lugar, em janeiro de 2019.

A Argentina deu à humanidade personalidades admiráveis. Refiro alguns que me fascinaram em áreas diferentes: Che Guevara, o guerrilheiro; Quino, o criador literário dos livros de banda desenhada da Mafalda; Fangio, o piloto da Fórmula Um, cinco vezes campeão mundial; Maradona – “Deus no céu e Maradona na terra” dizem os argentinos -; e Messi, o rival de Cristiano Ronaldo.

Seria pecado, todavia, não referir, em lugar de destaque, o Papa Francisco, o jesuíta Jorge Bergoglio e ex-arcebispo de Buenos Aires, que conquistou o cargo mais elevado na hierarquia da Igreja Católica. É o primeiro não-europeu a ser eleito, em mais de 1200 anos, além de ser o primeiro Papa jesuíta. Não é preciso ser católico para admirar a postura e a sabedoria que este líder religioso tem demonstrado. Numa altura em que a Igreja Católica enfrenta uma crise incomparável, o argentino tem conquistado, desde 2013, a consideração e o respeito da população mundial de diferentes credos, devido às suas posições progressistas face a temas polémicos do nosso tempo.
Fiquei com muita vontade de regressar e conhecer melhor a Argentina. Talvez um dia possa voltar à “Paris da Améria Latina” para apreciar mais demoradamente a história, as belezas e a riqueza cultural da cidade.

Manuela Marujo

Imagens cedidas por Manuela Marujo

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