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Terapia de Mozart

milenios stadium - Woman playing on a piano - Mozart - Saúde e bam estar
Créditos: DR

Em todo o mundo, cerca de 65 milhões de pessoas vivem com epilepsia, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Esta é uma doença neurológica associada a episódios de convulsões que resultam de uma alteração da atividade elétrica do cérebro. Para além de terem um início imprevisível, as crises de epilepsia são, por norma, de curta duração (podem ir de segundos a minutos, mas geralmente não ultrapassam os 15 minutos), sendo que o funcionamento cerebral se mantém entre elas.

Estas crises podem ser simples ou complexas, já que a doença não se manifesta de igual forma em todos os doentes, para além de dependerem do local onde se dá a descarga no cérebro. Assim, alguns dos sintomas associados incluem alterações na marcha, na face, no desenvolvimento de atividades específicas e/ou no estado de consciência. Não raras vezes são acompanhadas de movimentos automáticos e despropositados, como vestir/despir, caminhar, mastigar ou engolir. 

A epilepsia é mais frequentemente diagnosticada em pessoas muito novas ou então mais idosas, no entanto pode surgir em qualquer idade. Apesar de não ter cura, as crises associadas podem ser controladas ou amenizadas – normalmente o tratamento é feito com recurso a medicamentos, mas nem todos os pacientes conseguem os resultados pretendidos. 

Mas parece que há uma alternativa… e é exatamente sobre isso que vos gostaria de falar hoje! É que recentemente foi divulgado um estudo bastante interessante que alia a música ao tratamento da epilepsia. Mas não é uma música qualquer! É nada mais, nada menos do que a Sonata para Dois Pianos em Ré Maior (K.448), de Mozart!

Mas vamos ao início da história, que remonta a 1993: nessa altura, dois investigadores americanos – Gordon Shaw e Frances Rauscher -, perceberam que essa obra musical melhorava o desempenho de estudantes universitários em tarefas que envolviam raciocínio espacial e temporal e que a exposição à melodia também foi capaz de aumentar o QI dos mesmos em oito ou nove pontos – algo que ficou conhecido como “Efeito Mozart”. Alguns anos mais tarde foi a vez do neurologista John Hughes comprovar que a atividade epileptiforme – os impulsos elétricos que servem como biomarcadores epiléticos – apresentava uma redução quando os pacientes ouviam a sonata.

Ainda assim, algumas questões continuavam por responder, entre elas se seria esta a única música com este potencial. E se sim… porquê?

Foi aí que surgiu um outro estudo, levado a cabo por um grupo de investigadores da Dartmouth College, nos Estados Unidos da América e publicado na revista Scientific Reports. 

16 pessoas, divididas em dois grupos, foram monitorizadas recorrendo a implantes cerebrais, que tinham como objetivo mapear as descargas epileptiformes interictais (DEI) que ocorrem entre as crises epiléticas. O primeiro grupo ouviu a sonata durante 15 segundos e o segundo durante um minuto e meio – e foi neste último grupo que se registaram os resultados mais expressivos não só no que a diminuição de descargas epileptiformes diz respeito, como também na influência em partes do cérebro associadas às emoções. Descomplicando, a sonata acaba por ter um efeito antiepilético no cérebro dos doentes, prevenindo as crises convulsivas.

De referir que foi feito o mesmo teste com músicas favoritas dos participantes e com uma peça de Wagner, que não tem melodias reconhecíveis e “é organizada por mudanças sutis e graduais em vez de temas melódicos contrastantes”, mas não foi registado nenhum efeito semelhante. 

Mas afinal, porque é que tal acontece?

Segundo os investigadores, parece que a resposta a esta pergunta se pode encontrar na própria estrutura da música: os efeitos observados aumentavam durante transições de segmentos musicais longos, com uma duração de 10 ou mais segundos. Ou seja, a mudança inesperada entre tons melódicos pode estar associada a uma resposta emocional positiva e, consequentemente, à diminuição das DEIs. 

A equipa de cientistas olha para estes resultados com esperança, ganhando uma motivação extra para continuar a investigar os efeitos positivos que se podem retirar da música de Mozart, vendo-a inclusive como uma futura intervenção não-farmacológica e não-invasiva para a epilepsia.

Inês Barbosa/MS

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