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Síndrome de rapariga sortuda

 

síndrome rapariga sortuda - milenio stadium

 

O TikTok é, sem margem para dúvidas, uma mina de tendências – ainda mal ficámos a par de uma e, sem nos apercebermos, já estamos a ser “bombardeados” com outra. Mas se para a maioria de nós tal acaba por não afetar – de todo ou pelo menos não de uma maneira muito vincada – o nosso dia a dia o que é certo é que a Geração Z, que inclui as pessoas nascidas, em média, entre a segunda metade dos anos 90 e o início do ano de 2010, acaba por ser muito influenciado por tudo aquilo que é veiculado através das redes sociais. E isso inclui o bom e o mau…

Uma das plataformas mais utilizadas atualmente pelos jovens desta geração é, precisamente, o TikTok: por lá, conseguimos encontrar vídeos que abordam e “esmiuçam” tudo aquilo que conseguimos imaginar. Desde danças virais até teorias da conspiração, dicas de beleza, momentos de humor… e “síndromes”! Sim, leram bem – esta é uma das mais recentes tendências que nasceu e cresceu no TikTok: chama-se “Síndrome de Rapariga Sortuda” e consiste, basicamente, na cerca de que mantras afirmativos e uma mentalidade positiva na vida acabam por nos recompensar no nosso dia a dia. À semelhança das já bem conhecidas lei da atração ou da manifestação, esta “síndrome” promete uma total mudança na nossa vida – inclusive, segundo alguns relatos, a nível monetário.

COMO TUDO COMEÇOU

Como já foi referido, este tipo de atitude perante determinadas situações ou a vida em geral não é, de todo, uma novidade: afinal, quem é que nunca leu ou pelo menos ouviu falar de “O Segredo”? A obra de Rhonda Byrne, lançada em novembro de 2006, tornou-se não só no seu best-seller como também no livro de não-ficção mais vendido no mundo e deu origem a um documentário com o mesmo nome – no livro, a autora baseia-se então na lei da atração para justificar o sucesso em várias áreas da vida baseado na força do pensamento. A autora compilou ensinamentos de vários autores, tais como William Walker Atkinson, e transmitiu os mesmos, de forma clara, neste livro que se acredita ter mudado a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.

Se quisermos, no entanto, recuar até à origem deste tipo de pensamento, necessitamos de “viajar” até ao século XIX: o Novo Pensamento, um movimento espiritual, surge nos Estados Unidos e, entre outras crenças, defende que o espírito é a totalidade das coisas reais, que a verdadeira natureza humana é divina, que todas as doenças têm origem na mente e que o “pensamento certo” possui um efeito regenerador.

“Os pensamentos ditam a realidade de nossas vidas, quer o saibamos ou não. Se realmente queremos alguma coisa e realmente acreditamos que é possível, conseguimos”, escreveu Thomas Troward, autor inglês cujas obras influenciaram este movimento.

O “RENASCER”

Não é novidade que as redes sociais têm também o poder de fazer renascer muita coisa que – acreditávamos nós – era coisa do passado. Neste caso, apesar de se tratar de algo conhecido e que, muito provavelmente, milhares (ou milhões) de pessoas têm como base para encarar o seu dia a dia, o que é certo é que teve um grande aumento de popularidade nos últimos tempos – e tal pode ficar a dever-se a Laura Galebe, uma jovem criadora de conteúdo, de 22 anos, que, em dezembro de 2022 partilhou um vídeo no TikTok sobre a sua vida que dizia ser “incrível”. Na legenda escreveu: “Vamos falar sobre a síndrome da ‘rapariga sortuda’”. Ora, a partir desse momento começou a formar-se uma onda de outros vídeos semelhantes, onde outros utilizadores da plataforma contavam como a mudança de pensamento permitiu que a sua vida mudasse para melhor e que, inclusivamente, passaram a ter “mais sorte”.

Este fenómeno fez com que os vídeos do TikTok marcados com a hashtag #LuckyGirlSyndrome já som, atualmente, mais de 512 milhões de visualizações.

VALIDAÇÃO CIENTÍFICA

Mas com certeza concordam que não basta ouvirmos simplesmente alguém a dizer que algo funciona para acreditarmos, certo? Assim, da mesma maneira que os testemunhos se multiplicaram, também aumentaram o número de vídeos a tentar comprovar cientificamente esta “síndrome”.

Um dos conceitos científicos apontados como forma de validação é o Sistema de Ativação Reticular (SAR): Rachelle Indra, Life Coach, partilhou nas redes sociais um vídeo onde afirma que existe uma parte do nosso cérebro que tem como função l “ordenar” e “filtrar” a informação que chega até ao mesmo.

“Esse sistema começa a funcionar no segundo em que acordamos e pergunta no que é que tu te queres focar hoje, o que ambicionas no dia. E se tu acordas e pensas: ‘estou tão cansado, este dia vai ser mau’, “bam”, ele filtra toda a informação do teu cérebro para caminhos e eventos que realmente não prestam e promove o facto de estares cansado”, explica Rachelle no vídeo.

“Mas se disseres algo positivo como ‘eu sou sortudo, eu estou em paz’, começas a procurar isso porque é o que tu disseste que era importante para ti. Apenas tem a certeza que dizes coisas positivas, e não dizes ‘eu não quero ser’, porque o cérebro não entende a negativa, só a positiva. E se fizeres isso dia após dia eventualmente tu não precisarás de o fazer porque o teu cérebro já sabe. É o Sistema de Ativação Reticular a funcionar”, conclui.

MAS… SERÁ MESMO ASSIM?

Na realidade, o SAR é um conjunto de vários núcleos neurológicos localizado sobretudo numa zona do nosso sistema nervoso central, o tronco cerebral, que ao enviar informações para múltiplos locais no cérebro, acaba por estar envolvido em diversos contextos, tais como os ciclos de sono, o despertar e a filtragem de estímulos sensoriais, de forma a conseguirmos distinguir os estímulos relevantes e os irrelevantes (atenção seletiva), mas também noutras funções mais básicas do funcionamento do corpo como o controlo da frequência cardíaca, respiração, e também os reflexos.

Assim, especialistas acreditam que se possa estar a cair nalgum exagero ao colocar todo o foco no SAR –
“Apesar de ser parte muito integrante da forma como pensamos e sentimos emoções, é apenas um “ajudante” do processo global. O cérebro funciona como um todo e em contacto com o restante corpo”, explicou o neurologista e investigador Bruno Miranda à revista Visão. “Há outros sistemas no nosso sistema nervoso responsáveis pela parte da motivação, tomada de decisão, aprendizagem e emoção, que também têm um papel determinante”, acrescenta ainda.

Inês Barbosa/MS

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