Gordura já não é formosura

Pronto, já está a terminar a época em que a praia, ou apenas o calor, levam ao uso de roupas que nos desprotegem o corpo. Libertamo-nos nesta época de verão (que está quase a terminar) do peso de casacos, camisolas, o que é ótimo, mas para quem tem problemas com obesidade ou mesmo “apenas” excesso de peso, pode tornar-se um problema de saúde e não estamos apenas a falar do físico. A aceitação (ou não aceitação) do corpo tal como ele é, pode transformar-se em algo grave, do ponto de vista da saúde mental. Mas para além da perspetiva individual desta questão, o excesso de peso e a obesidade representam um grave problema de saúde pública, que afeta mais de metade da população mundial e que tem enormes implicações no aparecimento de diversas doenças crónicas, nomeadamente diabetes e doenças cérebro-cardiovasculares.

Vivemos a correr, comemos a correr (quando comemos…) e a hora da refeição, na esmagadora maioria das vezes, já não é sagrada. Vivemos efetivamente numa sociedade cada vez mais apressada, onde o “comer alguma coisa” é a solução para a correria diária. E depois temos a agravante de se ter adotado como viável, para a resolução deste problema, a ideia das comidas pré-cozinhadas, vendidas nos supermercados, ou então, a opção pelos restaurantes fast food. O problema é que tudo isto tem tido um impacto extremamente negativo na saúde – lembram-se… obesidade, diabetes etc.. Já nem se fala do espírito e dinâmica familiar que a hora da refeição proporcionava, e que desapareceu, tornando o tempo de partilha e socialização à mesa demasiado raro ou escasso.

Para além de tudo isto, há que falar também da elevada concentração de açúcar presente em alimentos ingeridos com frequência por crianças, nomeadamente cereais de pequeno-almoço, bolachas, gelados, produtos de pastelaria e iogurtes líquidos e sólidos. Como resultado de hábitos não saudáveis, como por exemplo o consumo elevado de alimentos ultra processados, o extremo sedentarismo ou a redução de práticas de atividade física, a obesidade infantil é cada vez mais uma realidade preocupante. É que a gordura não é formosura, é uma condição propícia para o desenvolvimento de obesidade, uma doença crónica que pode levar a outros problemas de saúde graves, como é o caso da hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares e cancro.
E não se esqueçam que, quando falamos de obesidade na infância, as consequências podem ser para toda a vida, pois o peso elevado pode continuar durante a fase adulta. Diversos estudos comprovam que as crianças acima do peso possuem 75% mais hipóteses de se tornarem adolescentes obesos, que por sua vez têm 89% de hipóteses de se transformarem em adultos obesos.

Para além de tudo o mais, uma criança com obesidade pode vir a sofrer com práticas de bullying. As consequências disso podem ser muito graves, quer durante a infância, quer na fase adulta, podendo levar a um desinteresse e abandono escolar, perturbações psicológicas e emocionais, depressão, compulsão alimentar, vícios do cigarro/álcool, bem como um efeito negativo no que respeita às relações sociais e profissionais. Alguns estudos mais recentes sugerem também que o consumo excessivo de açúcar pode contribuir para o aumento da prevalência de PHDA (perturbação de hiperatividade e défice de atenção) na infância e adolescência. Esta é uma possibilidade preocupante, sobretudo quando a maior quantidade de açúcar consumida por estas crianças vem através de alimentos que diariamente ingerem, como sumos artificiais ou achocolatados e os refrigerantes consumidos em média duas a quatro vezes por semana.

Em suma, o consumo de açúcar tem consequências que podem ser nefastas tanto para a saúde física, como para a saúde mental de crianças, jovens e adultos. Daí que se torne essencial a adoção de medidas que promovam as boas práticas alimentares desde a infância à idade adulta.

MB/MS

Fonte: Live Science