Existem várias coisas que fazemos quase em piloto automático e outras que quando olhamos já nem questionamos, porque faz parte da realidade do nosso dia a dia. Uma delas, e que vos trago hoje como tema, são as janelas dos aviões. É para nós quase um dado adquirido que as janelas dos aviões são redondas, verdade? Nem nunca nos questionamos a que propósito, se sempre assim foi ou se poderia ser diferente. Mas existe algum motivo, de facto, ou é apenas estética?
Se fizermos uma pesquisa encontraremos por aí algumas fotografias de pessoas que já viajaram em aviões, até mesmo jatos, cujas janelas eram quadradas. E isso durou até à década de 1950, época em que os aviões voavam mais baixo e mais lentamente.
Quando o britânico Geoffrey de Havilland, pioneiro da aviação, construiu os seus primeiros jatos, os chamados Cometas de Havilland, estes tinham janelas quadradas. À medida que essas aeronaves se tornaram mais populares, as companhias aéreas começaram a voar em altitudes cada vez maiores, e isto porque uma menor resistência do ar traduz-se em menores custos com combustível.
Mas mudar as janelas porquê?
Quando os Cometas de Havilland estavam no seu auge, entre os anos de 1953 e 1954, as janelas quadradas começaram a revelar-se altamente mortais. Naqueles dois anos, quatro aviões a jato da companhia inglesa, em diferentes rotas, sofreram terríveis acidentes enquanto voavam e muitas pessoas morreram. O primeiro-ministro inglês Winston Churchill revogou o certificado de navegação dos Cometas até que o mistério fosse esclarecido.
Juntando os destroços dos jatos destruídos, os investigadores descobriram o motivo dos acidentes: um fenómeno chamado “descompressão explosiva”.
Uma das novidades dos jatos era sua cabine pressurizada, ou seja, hermeticamente fechada e preenchida com oxigénio para que os passageiros pudessem respirar em grandes altitudes. Mas, com uma pressão interna mais alta dentro da cabine do que no exterior, é fundamental que a cabine permaneça selada até a aterragem. Caso contrário, o oxigénio que existe dentro da aeronave escapa com tanta violência que a força rasga o avião no meio. E foi o que ocorreu: alguma coisa tinha rompido a integridade da cabine. Mas, o quê exatamente?
A resposta foi que a fadiga do metal, que ocorre após várias pressurizações e despressurizações no corpo de metal da aeronave, que enfraqueceram lentamente os locais com cantos agudos: as janelas. Nesses ângulos, uma concentração de tensão pode provocar rachaduras eventuais que permitem a fuga do ar pressurizado. Resultado? Descompressão explosiva.
Por isso, a solução foi começar a construir aviões com janelas ovais, precisamente para eliminar a questão (mortal) dos cantos agudos. Aprender com os erros é uma das melhores formas de crescermos. E se esta velha máxima se pode aplicar à vida de cada um de nós, garantidamente que sempre se aplicou à indústria aeronáutica. As janelas continuam a ser uma das zonas mais sensíveis do avião e há até quem acredite que podem ser eliminadas de todo.
O futuro
Em 2018, o presidente da Emirates, Tim Clark, apresentou uma nova experiência a bordo dos aviões da companhia em que todos os passageiros tinham um lugar à janela, mesmo que estivessem sentados em lugares no meio da fuselagem do avião. Tal façanha só é possível porque numa das paredes das suites de primeira classe são aplicadas janelas virtuais que dão aos passageiros a sensação de estarem a olhar para a rua quando, na verdade, estão em frente a ecrãs de alta resolução. Com a aplicação desta medida, dizia o presidente da Emirates, era possível eliminar os tais pontos sensíveis do avião, mas também torná-lo mais leve, logo mais rápido e menos gastador de combustível.
Com estes ecrãs, acredita este responsável, os passageiros quase nem iam notar que estavam a olhar para ecrãs que refletiam o ambiente exterior em tempo real captado por câmaras no exterior da fuselagem.
FYI/Kika/MS
Redes Sociais - Comentários