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Consciência pesada

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Usando a linha de pensamento de Aristóteles e o estoicismo, é dito que a propensão a sentir arrependimento pode até ser considerada um ato de virtude. E foi um pouco a apoiar-se nisso, e a tentar promover algum tipo de reparação moral com o Estado — talvez porque rezar um Pai-Nosso e cinco Ave-Marias não era o suficiente — que em 1950 o Governo dos Estados Unidos oficializou o Fundo de Consciência.

Esta história da “culpa” americana começou em 1811, quando o gabinete do governo recebeu um envelope anónimo com uma nota de US$ 5, acompanhado de um pedido de desculpas da pessoa por defraudar o governo. Inspirado pelo gesto revolucionário, o Departamento do Tesouro do governo do Presidente James Madison (1751-1836) criou uma espécie de poupança para aqueles que prejudicaram o Estado, ou qualquer pessoa, para que fosse assim possível fazer as pazes através de uma doação monetária.

O preço da consciência

A oficialização do fundo na década de 1950 tocou no coração de muitos americanos que roubaram tanto na rua quanto a própria instituição do governo.

Um artigo do The Baltimore Sun divulgou a carta endereçada ao Fundo de Consciência de um doador anónimo que dizia: “Há oito anos eu estava numa estação ferroviária e peguei num item no valor de US$ 25, e isso é algo que está na minha consciência até hoje, portanto, estou agora a enviar US$ 50 para limpar minha consciência”.
Assim como aconteceu nesse caso, tornou-se comum que a quantia “devolvida” fosse maior que a roubada ou desviada, como uma espécie de juros moral pela prática ilícita. Isto chegou a acontecer até mesmo em casos de dinheiro encontrado na rua.

Assim como tudo o que um padre ouve na privacidade do seu confessionário, desde banalidades a atos graves, as doações permanecem anónimas por parte dos doadores que, apesar de estarem a desculpar-se, ainda assim não querem ser responsabilizados pelos seus atos, muito menos querem as suas identidades expostas.

Remissão dos pecados

Portanto, envia-se o dinheiro através de terceiros, como advogados ou familiares, sempre em cheques bancários ou dinheiro em espécie. Mas Wilson Fadely, porta-voz do Internal Revenue Service, em entrevista ao Christian Science Monitor, disse que o fundo não tem como intenção mover uma ação legal contra os doadores, e que nunca houve um mandato para isso, ainda que o Departamento do Tesouro tenha o direito legal de processar os doadores.

Por enquanto, o máximo que os arrependidos vão receber serão bilhetes com agradecimentos em nome do governo, caso incluam as suas moradas nos envelopes. Mas quem arriscaria, não é?

E se vocês se estão a questionar o que é que o Departamento do Tesouro faz com esse dinheiro, quando o doador não sinaliza qual o seu desejo, a quantia é colocada numa conta para gastos em despesas gerais.
Segundo o Business Insider, a maior quantia doada foi de US$ 155.502, em contraste com os nove centavos recebidos em 2017, figurando a mais baixa já doada ao Fundo de Consciência. Só em 2014, a poupança contabilizou US$ 1 milhão em doações, no entanto esse número começou a cair a partir de 2016, em que houve entrada de apenas US$ 23 mil.

O jornalista Chris Weller correlacionou essa queda brusca em doações com os níveis historicamente baixos de confiança no governo, ainda que o próprio Departamento do Tesouro tenha evitado vincular as atitudes do Estado com as doações.

Kika/MS

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