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O pensamento de Saramago sintetizado num único livro

Mais de meio milhar de frases marcantes do Nobel da Literatura foram reunidas por Paulo Neves da Silva na obra “Citações e pensamentos”.

A Universal como poucas, a obra de José Saramago atravessou diferentes épocas e lugares, mas também temas, numa cruzada do autor em busca de uma humanidade tantas vezes perdida. Esta evidência sai ainda mais reforçada no livro “Citações e pensamentos”, uma compilação de frases marcantes do Nobel da Literatura que impressiona, antes de mais, pela abrangência: são 640 citações, agrupadas por 280 temas e extraídas de mais de 40 livros.

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Eentrevista a José Saramagoem 24 de março de 2004. Foto: José Carlos Carvalho.

De ficção, naturalmente, mas também de crónicas, diários, memórias, contos, poemas e teatro, versando assuntos tão díspares como a democracia, a arte, a consciência, a crueldade ou simplesmente a amizade. Desafiado pelo editor da Contraponto, Rui Couceiro, Paulo Neves da Silva voltou a mergulhar a fundo nos livros de Saramago, de que já conhecia a maior parte.

Ao fazê-lo, começou por enfrentar as dúvidas iniciais que tinha. “Parti para o projeto receoso, porque tinha a ideia de que os seus livros não eram muito dados a citações ou aforismos”, revela, aludindo ao encadeamento narrativo e ao tom torrencial tão característicos da escrita de Saramago, que poderiam dificultar a deslocalização dessas frases para fora do seu habitat natural.

Um lado (quase) oculto

As hesitações não demoraram a cair com estrondo. Assim que iniciou a leitura em busca de frases marcantes, “elas começaram a saltar de todo o lado”, explica.

Para Neves da Silva, o “mistério” é de fácil explicação: se, enquanto leitores, estamos demasiado focados na trama para reparar noutros detalhes, já quando a tarefa é a de selecionar frases lapidares ou emblemáticas a sua presença salta à vista. “O meu objetivo é que as frases mantenham o sentido mesmo retiradas do contexto”, diz.

O cunho da escrita de José Saramago é tão forte que esbate até as diferenças entre os géneros. Em livros mais confessionais, como “As pequenas memórias” ou os diversos tomos de “Cadernos de Lanzarote”, o criador do site O Citador mostra-se convicto de que Saramago “quis sempre explorar a sua ideia do Mundo”.

Fê-lo muitas vezes até, sustenta Paulo Neves da Silva, através das suas personagens. Acima de tudo, “a sua grande mestria foi a de conseguir colocar no enredo de um romance a sua forma de ver o Mundo”, reforça.

Muitas vezes marcada pelo desencanto, a sua visão da realidade nunca perdeu em absoluto o desejo secreto de mudança. Até porque, como escreveu em “Os apontamentos”, “o Homem é o animal mais resistente da Terra, porque se nutre de um alimento invisível chamado esperança”.

Há citações em abundância de romances incontornáveis como “O ano da morte de Ricardo Reis”, “A jangada de pedra” e “Memorial do convento”, mas tão ou mais frequente s ainda são os fragmentos retirados dos títulos “Manual de pintura e caligrafia”, “História do cerco de Lisboa” ou “Viagem a Portugal”, menos destacados na vasta obra saramaguiana. “É verdade que mostro um Saramago para lá dos livros mais reconhecidos, mas isso emergiu mais como resultado do trabalho do que de uma intenção deliberada da minha parte”, diz o organizador.

JN/MS

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