Lifestyle

Sonhar com Casuarinas

Aida Batista

“Novo Ano, vida nova” não passa de um simples ditado popular que, na maioria das vezes, nem sempre é levado à letra. Nos tempos que vivemos, ainda menos, porque a volatilidade dos acontecimentos muda a uma velocidade que, há muito, deixamos de controlar.
O que agora é pode deixar de ser nos segundos seguintes. Acontece na economia, na política, na saúde, e em tudo o mais que rege as nossas vidas privadas. No entanto, as novas circunstâncias ainda não nos impedem de fazer o balanço do ano que acaba, e traçar objetivos para o que se inicia.
Eu pertenço ao grupo dos que gosta de elaborar uma curta lista de intenções, mesmo que nunca as cumpra na totalidade. Fica, no entanto, a certeza de que neste jogo de probabilidades, algumas serão concretizadas.
Como “O prometido é devido” (mais outro ditado nem sempre levado a sério), recordo que, na minha última crónica de natal, prometi falar-vos de uma peça da iconografia natalícia, que todos os anos temos de levar (desta vez foi escolhido o sino), feita apenas de materiais reciclados. Nada pode ser comprado, e devemos tirar partido do que é descartável, ou seja, que vai para o lixo ou tenha sobrado de anos anteriores.
Como também temos por hábito, submeter a decoração cada ano a um tema diferente (sem que se percam os elementos alusivos à quadra), ficou decidido que o de 2017 seria “O Mar”. Como já estão a imaginar, os tons utilizados foram o azul do mar, o branco da espuma das ondas e o prateado da luz refletida à noite, sobre o espelho de água. Deixando de parte outros pormenores, que a alguns muito agradaria conhecer, passo ao assunto dos sinos.
Sendo o tema “O Mar”, todos deveriam ter a preocupação de que os materiais a utilizar apontariam para elementos marinhos. Ora, tendo eu vivido uma parte da minha vida em Benguela, uma cidade do litoral de Angola, a imagem da praia que eu e minha família frequentávamos, continua a ser a das casuarinas, onde cada um de nós buscava a sombra, onde pousava os sacos e estendia a toalha para se proteger do sol. Barraquinhas, como as que se veem na Nazaré, por exemplo, ou chapéus de sol coloridos levados de casa, foi cenário que nunca fez parte do meu imaginário e que apenas aprendi a conhecer depois de me instalar em Portugal.
Contrariamente ao que muitos poderão pensar, no areal da nossa praia Morena nem palmeiras havia, porque em Benguela dominavam as casuarinas. Esta árvore tem a configuração do nosso pinheiro. No entanto, em vez de uma ramagem de agulhas que picam, estas pendem de forma suave, como se fossem plumas de um pássaro, que se chama “casuar”, e é uma ave não voadora semelhante à avestruz. Também não tem pinhas grandes como as dos nossos pinheiros, ou as médias e suaves dos abetos nórdicos. Estas são muito pequenas e apresentam em cacho.
Em homenagem à minha família, que tantas horas gozou da sombra destas árvores, inspirei-me nelas para fazer o meu sino. A foto não consegue, de modo algum, retratar os detalhes da composição. Por isso, me atrevi a acrescentar o pormenor de uma das laterais para que se vejam as pinhas.
Sei que, em Toronto, as temperaturas estão muito baixas. Na impossibilidade de irem até uma praia das caraíbas com palmeiras, deixo-vos a imagem desta com casuarinas.
O sonho é gratuito e livre como um casuar!

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