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Quem diz que não podemos criar?

Outro dia, estava passeando no meu Instagram – uma rede social dedicada a fotografias e que agrada muito a minha faixa-etária dos 30 e poucos anos – e nele, tem uma função chamada “Stories”, onde há a possibilidade de acompanhar a vida dos amigos e vero que as pessoas estão fazendo no momento. Essa “história” fica guardada por 24 horas, depois ela desaparece da rede social. Nela, você vê seus amigos fazendo bolo, em como eles estão felizes com as plantas que têm em casa, uns registram a evolução dos filhos, outros falam sobre autoconhecimento, alguns esbravejam sobre política e tem aqueles que apenas postam coisas fofas ou engraçadas.

E nessas minhas andanças virtuais, tinha uma conhecida que estava bem brava! E essa braveza toda era direcionada ao público consumidor de arte e também àqueles que se “intrometem a fazer arte sem estudo pra isso”. E, no final, questionou: “o que é arte para você”?

Boa pergunta! Mas na sua fala, ela lamentava o fato de algumas pessoas se aventurarem em qualquer tipo de arte sem ao menos ter um curso sobre o que estavam criando. “Não sabem nem sobre a história da arte, e querem se meter a fazê-la”! A sua fala me fez refletir sobre o assunto. Num primeiro momento, pensei: poxa, isso pode ser verdade! Como alguém vai querer realizar uma coisa sem ao menos saber sobre como essa coisa surgiu, suas técnicas, ou até mesmo conhecer outros que a fazem, para ter referência? Foi aí que pensei no seu Zezinho que vive na periferia e faz esculturas de barro e vende na feirinha da sua cidade, transformando sua arte em renda. Ou então, a Cristina que faz roupa para expor na sua lojinha e as adolescentes “arrasam” nas baladinhas que vão. Pensei na Mariana, que faz música para espantar a tristeza e mesmo não tendo faculdade de música, mexe positivamente com as pessoas que a escutam. Ou no Tiago, engenheiro elétrico, que ama escrever poesia e posta na internet. Pensei em todas essas pessoas e me incluí nessa, porque na quarentena eu tenho explorado demais o meu lado criativo. E pelas conversas que tenho tido, muita gente está no mesmo caminho. É alívio para alma.

Existem critérios para quem quer produzir arte? Precisa-se necessariamente de estudo, técnica, referência? Longe de mim querer diminuir a luta daqueles que estudam, se dedicam e se aprofundam para ter excelência no que fazem, mas podemos, por isso, diminuir o trabalho dos outros que não tem um “canudo” na mão?

Fiquei bem reflexiva com tudo isso e cheguei a uma conclusão: a arte não é limitadora, ela é libertadora! Não pode ser uma premissa ter que pagar alguém que nos diga que somos pessoas criadoras ou não.

Essa prisão que nos colocam, aquela em que para sermos valorizados precisamos de alguém que nos habilite e nos conceda uma autorização para criar, é de uma tristeza sem tamanho. E percebo que essa ideia capitalista vem de uma geração mais antiga que a minha e que ecoa até hoje em minha geração: a de que nós somos medidos pelo que temos e não pelo que somos. Isso gera uma falta de autoconfiança tremenda e, ao mesmo tempo, medo nas pessoas, o que é um impeditivo em criar coisas lindas e originais.

Precisamos começar a olhar mais além desses papéis assinados por pessoas que nem nos conhecem, mas que atestam que somos habilitados para criar música, poesia, desenhos, esculturas, pinturas, objetos, e um mundo inteiro que nem cabe na nossa imaginação.

O que é arte para mim? Respondendo a pergunta da minha colega, é a forma pela qual eu encontro Deus. Quem é habilitado para assinar um papel timbrado que me proporcione esses momentos tão intensos e particulares?

Adriana Marques/MS

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