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Estações do ano e mudança de perspetiva

Dias atrás começou a esquentar. As árvores em frente onde moro simplesmente estouraram em folhas verdes, brilhantes e vistosas. Como num passe de mágica, de um dia para o outro, a vida ressurgiu. Um calorzinho gostoso, que há meses não sentia, me deixou feliz e me fez lembrar momentos de quase toda uma vida vivida no Brasil, quando sentia esse calor, tinha árvores e pássaros no meu dia a dia e não me dava conta do quanto isso era importante.

Aqui no Canadá são meses de frio intenso, de recolhimento forçado. Claro que tem a sua beleza e importância mas, são meses e meses sem poder vestir uma roupa leve ou sair na rua de chinelos, andar de bicicleta, correr contra o vento; normalidades que eu, no Brasil, não imaginava o quanto sentiria falta.

Mas, morar aqui, me ensinou a valorizar cada momento vivido, inclusive no frio intenso. Me divirto muito com a neve e me encanto com os flocos que caem. Me lembro dos filmes que assistia quando criança e sonhava com aquele mundo branco de neve tão lindo e distante da minha realidade.

A conclusão que eu tiro desse recorte da minha vida é a importância da mudança de perspectiva.

Precisei passar por certas experiências  que me fizeram valorizar momentos, pessoas e fases da existência. Já ouviu alguém falar: “só valorizou quando perdeu”? É mais ou menos por esse caminho. A impressão que tenho é que nunca estamos presentes e gratos com o momento que vivemos. Nos prendermos ao passado: “ah, eu era feliz e não sabia” e ao futuro: “só vou ser feliz no dia em que realizar tal coisa”. Não nos satisfazemos com o que a vida nos apresenta.

Outra consideração que faço a respeito da importância da mudança de perspectiva, é  a possibilidade (se não concretamente, pelo menos na imaginação) de experimentarmos o 8 e o 80, ou seja, sentir os contrapontos do mesmo fato. Isso nos dá condições de nos tornarmos mais metaformáticos e compassivos.

Cada vez que incorporamos em nós mesmos que as perspectivas são diferentes para todos, aprendemos a ter, cada vez mais, respeito pelo próximo. Como assim? Entender que cada um de nós carrega uma bagagem, uma experiência, ou está numa fase da vida e que o meu olhar, definitivamente, não é o olhar do outro, gera um senso de empatia e respeito ao momento de cada um. É difícil sim, eu sei. Particularmente, ainda tenho muita dificuldade em entender a perspectiva alheia, diferente da minha. Mas percebi a necessidade que é exercitar esse olhar compreensivo, sem julgar, pois também somos medidos pela lente do outro. Ou seja…

Acredito que essa postura de respeito possibilita as discussões de ideias antagônicas, discussões essas tão necessárias para nossa evolução como sociedade. Ouvir opiniões diferentes  e poder dizer nossas próprias é algo imperativo numa democracia. Porém, se nos fecharmos dentro das nossas próprias perspectivas estaremos fadados a estacionar no mesmo ponto em termos de conhecimento e aprendizado. E parar no tempo nunca é bom, afinal de contas, a vida é dinâmica. As estações do ano mudam, as sementes germinam, os  bebês se tornam adultos, o tempo todo ocorrem transformações na natureza, na tecnologia; então por que congelar nossas percepções sobre um determinado assunto?

Deixe-me fazer uma pergunta: Tem alguma coisa que você mudou dentro de você? Algo que você olha para trás e pensa: como eu pude pensar sobre aquele assunto daquela maneira? Pois é! Talvez o que você pense agora seja completamente diferente do que você pensará amanhã. Tudo depende da abertura que damos ao novo, ao diferente, ao inusitado.

Mudar faz parte da nossa natureza. Não paremos  nas estações, seja calor ou frio, vivamos hic et nunc (aqui e agora), e apreciemos cada uma dessas fases que enriquecem a nossa perspectiva e colaboram para nosso amadurecimento.

Adriana Marques/MS

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