Mundo Segundo e Sam the Kid: A criação e a evolução do Hip-Hop
Com uma carreira com mais de duas décadas, Mundo Segundo e Sam the Kid estão no ativo e é impossível não admirar a componente artística que ambos mantêm dentro do hip-hop português. Partilham uma grande amizade e parceria, mas também o compromisso de uma autenticidade musical e a resistência ao mercado de um sucesso instantâneo. Os dois artistas mostram como a música pode, sim, encontrar a felicidade e a verdade. Sabem que tem um papel importante no hip-hop em Portugal.
Mundo Segundo e Sam the Kid, ao longo das suas carreiras, ambos os artistas resistiram ao caminho fácil do sucesso, construindo as suas carreiras com paciência e autenticidade. Cada faixa construída passa por um intenso processo de aperfeiçoamento, muitas vezes durando mais de um ano. Isso mostra respeito pelo público, mas também pelo próprio trabalho.
Na indústria da música, onde a tendência é lançar hits rápidos e seguir tendências, Mundo Segundo e Sam the Kid preferem investir no detalhe e na qualidade das suas composições. Eles são, nas palavras de Sam, “fogo de vista, o solista na minha lista, o sovina capitalista”, um manifesto de resistência à pressão comercial. Esse processo de criação musical pode ser entendido como uma encontrar uma felicidade genuína que reside em cada verso e beat, e não no sucesso imediato. Assim como uma relação amorosa que é mantida com base na saudade e admiração, o hip-hop de Mundo Segundo e Sam the Kid é cultivado pela distância e pela paciência. É o tipo de felicidade que só se atinge com dedicação e respeito ao próprio processo, sem a rapidez da indústria. Mundo Segundo e Sam the Kid conheceram-se no final dos anos 90, uma época em que o hip-hop português ainda era uma subcultura desconhecida para muitos. Essa amizade foi ficando cada vez mais forte ao longo dos anos, enquanto ambos partilhavam experiências, ideias e inspirações. Segundo eles, é essa base sólida de amizade que sustenta e fortalece o trabalho que desenvolvem juntos.
A confiança e a cumplicidade ajudam que cada um traga as suas ideias e se arrisque nos processos de tentativa e erro, garantindo que cada produção seja aprimorada com o tempo. A sua amizade serve como uma metáfora para o próprio hip-hop, que teve origem na coletividade e na união de indivíduos com as mesmas inquietações e desejos. A colaboração de Mundo Segundo e Sam the Kid traz à tona a essência dessa cultura, onde a individualidade de cada artista é respeitada, mas o trabalho em conjunto é celebrado. A parceria entre estes dois ícones prova que a verdadeira arte tem que ter confiança mútua e colaboração e nunca com rivalidade. Mundo Segundo e Sam the Kid foram testemunhas da evolução do hip-hop em Portugal. Quando começaram, a cena era limitada, e a maioria das pessoas nem sabia o que era rap. Hoje, o hip-hop está presente em quase todos os festivais, encabeçando line-ups e alcançando grande público. A transformação da cultura hip-hop reflete uma maior aceitação, mas também uma série de desafios, como a tentação de seguir tendências e modelos que possam descaracterizar a essência original do estilo.
Os dois artistas são extremamente cuidadosos com isso. Abraçam as mudanças que lhes agrada, mas resistem a adotar qualquer “ferramenta que está na moda” apenas pelo desejo de seguir a corrente. Para eles, cada novidade deve ser avaliada com critério, o que permite que as suas músicas mantenham uma estética própria, sem serem confundidas com o que está “na crista da onda”.Apesar de uma postura crítica em relação ao modelo que quase obriga os artistas a seguir, Mundo Segundo e Sam the Kid mantêm as mentes abertas para novas influências e sons.
O conceito de cada música é falado pelos dois e ajustando detalhes das faixas meses após as gravações iniciais. O processo criativo dos dois é uma mistura de planos e improviso, onde cada detalhe pode ser discutido e aperfeiçoado, até que ambos estejam satisfeitos com o resultado final. Mundo Segundo e Sam the Kid estão felizes de ver o hip-hop a se expandir e a se diversificar, uma satisfação que vai além da realização pessoal. O compromisso com a cultura hip-hop, tanto com as suas raízes quanto nas suas evoluções, reflete o desejo de contribuir positivamente para algo maior que as suas próprias carreiras.Eles estão a “cozinhar algo para breve” e que o próximo single deve ser lançado ainda este ano. Essa ideia de “cozinhar” a música indica que a arte é, para eles, algo a ser saboreado lentamente, um processo onde o próprio ato de criar é uma fonte de felicidade, e não apenas o resultado final.
Já atuaram nos Estados Unidos e no Brasil, e a perspectiva de levar o hip-hop português a novos territórios, como o Canadá, é algo que os desejam. Eles percebem que seu papel na cultura hip-hop transcende as fronteiras de Portugal e que podem inspirar outros a seguirem o mesmo caminho. A importância de manter a chama do hip-hop acesa nas suas formas mais diversas é uma responsabilidade que ambos abraçam, sabendo que o seu trabalho pode influenciar novas gerações de artistas, tanto em Portugal quanto no exterior. Ao olharmos para o futuro, a persistência de Mundo Segundo e Sam the Kid serve como exemplo para aqueles que estão começando no mundo da música.
Para eles, a música é um caminho de constante evolução e autodescoberta, onde a felicidade é encontrada não apenas no sucesso externo, mas também na realização interna de fazer algo grande. São a prova que o hip-hop é muito mais que um gênero musical; é uma expressão cultural que abrange identidade e amizade. Procuram pelo melhor de si mesmos numa satisfação duradoura nas suas rimas e batidas.
Paulo Perdiz/MS
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