Micaela: A Mulher, a Voz e a Artísta
Num final de um domingo,a poucas horas de ir para outro concerto,Micaela, uma das artistas mais conhecidas em Portugal, esteve nos estúdios da MDC Portugal para uma entrevista. Demos as boas-vindas à artista- “Micaela, representas muito bem um Portugal,”, uma frase simples, mas que trouxe um sorriso imediato ao rosto de Micaela. Representar Portugal é algo que ela faz naturalmente e com muito gosto. Conheci a mulher e a artista.
A sua música, a sua arte, são extensões da sua pessoa, profundamente enraizadas na cultura musical mais popular. Nasceu numa família onde a música e a tradição ligaram sempre as gerações, Micaela sempre carregou consigo essa quase responsabilidade boa.Com humildade e gratidão, Micaela respondeu: “É um dos grandes privilégios. Muito obrigada por me receberem aqui.” E assim, a conversa começou a desvendar um pouco da sua vida artística, um caminho que começou ainda na infância. A pergunta sobre como foi começar a cantar aos seis anos, fez Micaela mudar a expressão do seu rosto e de a viajar no tempo, de volta a uma época simples, onde o sonho de ser uma artista começava a tomar forma. “Aos seis anos de idade, tudo era ainda tão imaturo,” disse, com os olhos a brilhar com as lembranças. “Mas mesmo assim, já era algo que fazia parte de mim.”Micaela não é apenas uma cantora; é uma contadora de histórias nata.
Os temas que fala, tanto na música quanto na vida mais privada, prendem a atenção de quem a ouve. O seu pai, um homem profundamente ligado à cultura e à música, foi importante no seu percurso. “O meu pai, até hoje, com os seus 77 anos, ainda faz parte de uma coletividade,” disse com uma grande ternura. “Sempre organizou eventos, sempre esteve muito ligado a essa área, e eu cresci nesse ambiente.” Micaela descreveu com carinho como acompanhava o pai nos eventos, ouvindo cada música e cada nota com grande fascínio puro e infantil. Na música desde tão jovem e tão cedo fez nela um desejo profundo de também ser artista. “E quando é que sou eu? Quando é que sou eu?” Ela diz que se lembrava de perguntar insistentemente ao pai, na esperança de ter a sua chance de subir ao palco. Havia uma pureza nesse desejo, uma vontade de encontrar o seu palco no mundo. E o momento em que finalmente foi chamada ao palco para cantar “A Canção dos Bois” marcou o início de uma paixão que a acompanharia por toda a vida.
Com um sorriso de uma vida dedicada à música, ela diz: “E a partir daí, nunca mais parei.” A persistência e o amor pela música tornaram-se os pilares da sua carreira. Quando Micaela chegou aos 13 ou 14 anos,a sua relação com a música ficou mais forte. Foi então que juntou-se a um grupo de jovens cantores, um projeto que mudaria sua carreira. “Era uma grande paixão, sabes?” disse ela, relembrando aqueles tempos. “Naquela altura, éramos o grupo do momento. As pessoas adoravam ouvir as versões que cantávamos.” Fazer parte dos Onda Choc foi mais do que apenas cantar; foi integrar algo maior, algo que trouxe alegria a muitos e deixou uma marca profunda na cultura musical daquela geração. Micaela viu muitos de seus colegas seguirem carreiras de sucesso na música, mas sabia que o seu caminho estava apenas a começar. “A música estava no meu ADN de uma maneira tão forte, tão vincada, Hoje, aos 45 anos, ainda é isso que faço, é a minha profissão de raiz.”
A vida, como a música, tem seus altos e baixos, e para Micaela, cada momento foi uma parte importante. Um dos sucessos que é impossível ignorar na carreira dela, é o tema “Chupa no dedo”- “Sem dúvida. Ainda hoje faz parte do meu alinhamento dos concertos.” Aquela música específica, que a levou ao estrelato, é como um hino pessoal, um símbolo de identidade do seu estilo de música. “Foi a minha marca, o meu carinho,” explicou ela, falando como uma canção que poderia ter sido apenas mais uma tornou-se quase uma marca. Era mais do que uma simples música; era uma representação das suas lutas, das suas vitórias e de tudo o que ela se tornou ao longo dos anos. Nunca satisfeita em ficar parada, procurou sempre maneiras de crescer e de se reinventar, algo que se viu em todas as fases da sua carreira.
Em 2018, Micaela lançou um álbum que marcou uma nova etapa da carreira. O álbum, intitulado “Dualidade”, dividiu a parte artística e a mais pessoal. “Eu tive uma fase em que senti que tinha estagnado um pouquinho,” admitiu. “Tive que parar, refletir muito sobre o que queria fazer.” Essa pausa, essa necessidade de reflexão, foi importante para o seu desenvolvimento. Às vezes, a melhor maneira de seguir em frente é parar, respirar e realinhar-se com seus verdadeiros desejos e aspirações. E foi exatamente isso que Micaela fez. “Eu tive o privilégio de conhecer o Ricardo ( Manager), que fez a diferença,” explicou ela. “Foi quando as coisas começaram a acontecer novamente.” Esse reencontro com a música, e com novas colaborações, foi um renascimento para Micaela. Ela encontrou novos caminhos e novas formas de cantar, reavivando a chama que a movia desde a infância. “Na minha vida, nada é por acaso,” afirmou ela, com uma sabedoria adquirida ao longo de anos de experiência. “Deus sabe o que faz.” Para Micaela, cada passo, cada desafio e cada conquista tiveram um propósito maior. Essa fé ajudou a enfrentar os altos e baixos com determinação. Falando sobre suas experiências internacionais, Micaela destacou a importância das suas atuações para a comunidade portuguesa. “Cantar para a comunidade portuguesa no Canadá e na América do Norte é sempre uma experiência maravilhosa,” disse ela, com uma expressão de carinho no rosto.
As viagens e as apresentações para as comunidades portuguesas ao redor do mundo foram momentos de ligação e de troca de energia. “A comunidade lá recebe-nos com tanta saudade, com tanto amor,” continuou Micaela. “É uma energia maravilhosa.” Lembra -se de um concerto em que uma chuva torrencial não foi suficiente para afastar os fãs que vieram ver, um momento bonito. Embora sua agenda esteja sempre cheia, Micaela faz questão de conciliar compromissos para poder visitar as comunidades. “Hoje, tudo tem a ver com agendas,” explicou. “Mas eu tento sempre conciliar para poder visitar as comunidades.” Esse compromisso com seus fãs nunca mudou, mostrando o quanto ela valoriza e respeita aqueles que sempre a apoiaram. “Estamos sempre a trabalhar,” disse ela com um sorriso. Micaela prefere lançar singles ao longo do ano, assim tem mais liberdade criativa e flexibilidade para explorar diferentes aspectos da sua arte. E, no final da entrevista, com um brilho nos olhos, ela resumiu o que realmente a motiva: “A paixão e o amor pela música, é isso que nos move.” Micaela, com a sua voz e a sua história de vida, anda a conquistar os corações de todos que a ouvem. Desde a menina que sonhava em cantar até a mulher que conquistou palcos ao redor do mundo, é uma prova viva de que os sonhos, quando alimentados por paixão e dedicação, podem realmente ser um dia realidade.
Paulo Perdiz/MS
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