Lenita Gentil: Uma Vida Dedicada à Música e ao Fado

Lenita Gentil nasceu na Marinha Grande, onde passou a sua infância até aos 14 anos. Mudou-se para o Porto, com a sua família, um momento da sua vida muito importante para a sua carreira, porque foi na cidade Invicta que o maestro Resende Dias, amigo do seu pai, descobriu o seu talento para cantar.
Impressionado pela sua afinação e musicalidade, incentivou-a a dar os primeiros passos na música, inscrevendo-a nos Serões para Trabalhadores, um programa radiofónico dos Emissores do Norte Reunidos. Aos 17 anos, Lenita Gentil estreia-se no emblemático Palácio de Cristal, marcando o início de uma bonita carreira. Pouco depois, surgem os convites para a televisão, destacando-se a sua participação no programa “Riso e Ritmo” (1964), de Francisco Nicholson e Armando Cortês. Desde então, foi um percurso sem pausas, com atuações em programas de televisão, gravação de discos e participação em festivais da canção em Portugal e no estrangeiro.
A cantora inscreveu o seu nome na história dos festivais portugueses ao participar no Festival da Canção da Figueira da Foz (1967) e ao vencer o Festival da Canção da Costa Verde, em Espinho (1968). Nesse mesmo ano, foi distinguida com o Prémio de Música Ligeira, na categoria de Cançonetista, pela Casa da Imprensa. Mais tarde, viria a participar em duas edições do Festival da Canção da RTP, em 1971 e 1989. A sua carreira internacional não tardou a ganhar dimensão, com vitórias em festivais como o de Aranda del Duero (Espanha), em 1966 e 1968. Representou Portugal em certames internacionais no México, Polónia, Roménia e nas Olimpíadas da Canção, na Grécia, onde foi agraciada com o prémio da crítica. Para Lenita, estas experiências foram extremamente enriquecedoras e impulsionaram a sua evolução artística. Paralelamente à sua carreira musical, Lenita Gentil aventurou-se noutras formas de expressão artística: em 1972, participou no filme “Os Toiros de Mary Foster”, realizado por Henrique Campos, e, em 1977, brilhou no teatro de revista com “Em Águas de Bacalhau”.
A sua versatilidade e talento permitiram-lhe mover-se entre diferentes registos musicais, desde a música ligeira ao fado e às marchas populares. A transição para o fado foi um marco na sua carreira. Lenita Gentil destacou-se como uma das primeiras cantoras de música ligeira a dedicar-se ao fado, lançando o seu primeiro LP de fado há mais de 28 anos e por gravar um álbum de fado, que conquistou o público com a sua interpretação emotiva e expressiva. O seu interesse pelo fado nasceu da admiração por Amália Rodrigues e pelo som singular da guitarra portuguesa. A convite de Simone de Oliveira, passou a atuar no restaurante da cantora, onde partilhou o palco com nomes como Vasco Rafael e Artur Garcia. Apesar de não se identificar com o ambiente tradicional das casas de fado, aceitou o desafio de atuar durante um mês no “Fado Menor”, de Tony de Matos. A experiência acabou por se prolongar e abriu-lhe as portas de “O Faia”, uma das casas de fado mais emblemáticas de Lisboa, onde ainda hoje canta. “Aprendi muito, foi uma grande escola. Deu-me experiência de vida e artística “, afirma Lenita Gentil sobre a sua passagem pelas casas de fado.
A sua carreira levou-a a percorrer praticamente toda a Europa, incluindo países do Leste, além de atuar na Austrália, Macau, Hong Kong, África do Sul, México, Estados Unidos e Canadá. A escolha criteriosa do seu repertório é um reflexo do seu profissionalismo, privilegiando temas de grandes poetas como Artur Ribeiro, Maria de Lurdes de Carvalho, Vasco de Lima Couto e Frederico de Brito. Outro aspecto distintivo do seu percurso é a sua interpretação do Fado de Coimbra, um registo menos comum entre as vozes femininas. Para Lenita, este fado é “muito rico, com melodia, nostálgico, uma coisa que entra e que se sente”. Em 2005, a editora Ovação lançou “Outro Lado do Fado”, um álbum que recebeu o Prémio Amália Rodrigues para Melhor Álbum de Fado.
O disco inclui temas inéditos e canções imortalizadas por Amália Rodrigues. Em 2012, lança “Momentos”, um disco que combina fados conhecidos do público com temas em espanhol e italiano, revelando, mais uma vez, a sua versatilidade musical. Apesar das digressões e inúmeros espetáculos, Lenita Gentil continua a encantar os apreciadores de fado em “O Faia”, um espaço de referência onde a sua voz perpetua a magia e a emoção do fado. O seu percurso é um testemunho de dedicação à música, uma carreira repleta de sucessos e reconhecimentos, onde a sua voz permanece como uma das mais autênticas e marcantes do panorama musical português.
Paulo Perdiz/MS
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