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Ana Margarida Prado: Um bonito prado de fado

 

O fado reflete a alma portuguesa em toda a sua emoção, tem uma nova voz que nos traz uma nova força: Ana Margarida Prado. A artista, que já conquistou um lugar de destaque no fado contemporâneo, apresenta-se com o álbum de estreia a solo, Laço, um trabalho que combina tradição e modernidade de forma exemplar. Num tempo em que o fado continua a evoluir, Prado oferece uma proposta artística que, além de honrar o património Fado, convida à sua reinvenção, sempre com uma dose de autenticidade e inovação. Mais do que uma simples intérprete, ela é uma artista que dá novas cores e formas ao fado, explorando temas recentes com uma abordagem fresca e de coragem até.

O lançamento de Laço, pelo Museu do Fado, é um marco que traz consigo uma carga simbólica e artística importante. Além de se tratar de um álbum que respeita a cultura do fado, conta com a colaboração de alguns dos mais prestigiados compositores e autores da música portuguesa dos nossos dias, como Agir, Luísa Sobral, Mário Laginha e Vitorino. Este grupo gigante de vozes criativas que se entram no álbum, fazem o disco ir mais além do fado tradicional, assumindo-se como um reflexo das várias nuances e tensões que a música pode e deve mostrar a quem a sente e ouve.

A mistura de estilos e composições que encontramos em Laço é o testemunho da capacidade de Ana Margarida Prado em usar diferentes registos, sempre mantendo a integridade da sua expressão artística e pessoal. Este é um álbum que fala sobre o amor, o destino e a paixão, mas também sobre a vida urbana, as relações humanas e as dificuldades dos tempos em que vivemos. Nas palavras de Prado, estas canções são uma “viagem emocional” por temas que tocam a todos de formas universais, mas que, ao mesmo tempo, remetem para uma Lisboa, com a sua história e paisagem cultural únicas. Lisboa é, de facto, uma personagem central na obra, servindo de cenário tanto para as histórias que o fado tradicional sempre contou como para as novas narrativas que nascem. Ao olhar para o retrato social da cidade, Prado mostra que o fado é uma expressão cultural que está enraizada no presente e que se atualiza com o mundo moderno.

Ana Margarida Prado tem autenticidade. Num universo musical onde a autenticidade pode ser escassa, Prado surge como uma artista que vive e respira o que canta. A sua maturidade artística, aliada a uma sensibilidade vocal única, faz com que cada palavra, cada verso e cada nota carregam uma troca emocional rara. Uma “verdade natural”, é o que a distingue de muitos outros artistas. Prado não apenas canta o fado; ela é o fado, no sentido mais puro do termo. E talvez por isso tenha sido merecedora do prémio de “Melhor Performance de Fado” nos International Portuguese Music Awards de 2024, pelo tema A Ver as Vistas. Este reconhecimento internacional é uma prova do impacto que a sua arte tem, não só em Portugal, mas também além-fronteiras.

O título Laço é, por si só, uma metáfora poderosa. Refere-se aos laços afetivos, culturais e artísticos que unem Prado ao fado e ao seu público, mas também às relações que constroem a sua obra. Há, neste álbum, uma geografia afetiva que se estende para além da música, envolvendo colaborações com alguns dos mais brilhantes talentos da música portuguesa. Estas colaborações são mais do que uma simples soma de partes; são parcerias que ajudam a dar forma a um som moderno que, embora enraizado na tradição, não se limita aos moldes rígidos do fado clássico.

A presença de músicos como Luísa Sobral e Mário Laginha, conhecidos pelo seu trabalho em géneros que vão do jazz ao pop, é um sinal claro dessa intenção de ampliar os horizontes do fado. Prado, assim, faz do fado um espaço de diálogo entre o antigo e o novo, entre a tradição e a inovação. E este diálogo é vital para a sobrevivência e relevância contínua do fado. Ao longo da sua história, o fado sempre foi uma música de resistência, que se adaptou às circunstâncias e aos tempos. Em Laço, encontramos essa renovação constante que a crítica tem elogiado, uma renovação que se manifesta tanto nas letras como nos arranjos musicais. Esta sensibilidade é fundamental para que o fado continue a ser uma forma de arte viva, capaz de captar a atenção das novas gerações sem perder a profundidade que o caracteriza.

As composições de Laço, assinadas por nomes como Bernardo Couto, João Filipe, Pedro de Castro e Vitorino Salomé, exploram uma vasta gama de sentimentos e experiências. Os temas abordam desde a nostalgia e a melancolia, que são emoções clássicas do fado, até a esperança e a celebração da vida.

Prado não foge das emoções mais cruas, mas também não se deixa aprisionar por elas. Ela mostra que o fado pode ser tanto um espaço de lamento como um lugar onde a vida é celebrada em todas as suas contradições. O álbum Laço é, sem dúvida, uma obra marcante no panorama do fado atual. É um disco que não só celebra o que o fado tem de melhor, mas que também desafia as convenções e abre novas possibilidades para o futuro do género. Ana Margarida Prado, com a sua voz singular e inconfundível, tem todas as qualidades para se afirmar como uma das grandes fadistas da sua geração. Em conclusão, Ana Margarida Prado traz ao fado uma nova energia, uma nova visão e uma voz que é, ao mesmo tempo, clássica e moderna. Laço é mais do que um álbum de estreia; é uma declaração artística, uma afirmação do que o fado pode ser nos nossos dias. Prado não tem medo de correr riscos, e isso é o que a torna tão especial, prova que o fado está vivo, em constante renovação e pronto para continuar a tocar corações por muitos anos.

Paulo Perdiz/MS

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