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“A arte urbana em lixo” – Bordalo II

 

Bordalo II  - milenio stadium

 

Bordalo II usa lixo que encontra nas ruas e com ele constrói esculturas que nos mostram que o lixo de uns é o tesouro de outros, neste caso é arte. O uso artístico do lixo é, também, uma espécie de crítica ao mundo em que vivemos; um mundo em que coisas que outrora valiosas e importantes, perdem rapidamente o valor ou a utilidade.

Paulo Perdiz: Fazes coisas bonitas com o lixo?
Bordalo II: Faz parte do processo porque a parte de transformar, de fazer coisas bonitas com o lixo é apenas uma parte do processo que talvez faça o espectador parar e interessar-se. Mas está longe de ser o conceito que realmente me interessa. Essa parte estética, se calhar, serve só para captar a atenção e aquilo que interessa depois é que o espectador, que as pessoas entendam todas as mensagens subliminares que estão por detrás das obras de arte, portanto a preocupação ambiental, o alerta em relação àquilo que nós estamos a fazer ao planeta, etc.

PP: E como é que surgiu esta matéria principal que tu usas nas tuas obras de arte na tua vida? Foi espontâneo? Foi esse mesmo alerta que tu querias dar às pessoas?
BII: Inicialmente foi espontâneo. Comecei a utilizar coisas que tinha à mão mas rapidamente entendi que estar a trabalhar com este tipo de material dava-me uma possibilidade de falar sobre coisas relevantes. Portanto eu comecei a utilizar o “lixo” porque estava à mão mas rapidamente entendi que nós trabalhando com um material tão forte que tem um significado cada vez mais importante nos dias de hoje em relação àquilo que tem que ser feito e todos os cuidados que devem ser tomados que vi que dava para criar uma relação interessante.

PP: Isto é uma arte urbana. Como está a arte urbana em Portugal?
BII: Também pode ser arte rural (risos). Há montes de artistas a fazerem coisas interessantes. Eu não gosto de meter uma etiqueta a dizer que é street art ou arte urbana, acho que é arte contemporânea mas dentro duma corrente do grafitti, inicialmente, são coisas que acabam por estar ligeiramente ligadas porque partilham o mesmo espaço e porque as raízes vêm do mesmo sítio apesar de serem coisas completamente diferentes.Os trabalhos com recurso ao desperdício começaram como uma experiência, gostou do efeito criado pela junção de embalagens, mas, mais do que isso, percebeu o potencial do lixo a nível estético tendo como base edifícios outrora decadentes, agora embelezados com arte.
A mim o que me interessa é conseguir trabalhar em superfícies decadentes que eu acho que valorizam o meu próprio trabalho porque, todas essas estruturas dos sítios abandonados são interessantes e por outro lado também, às vezes, poder valorizar zonas que em vez de estar tudo apenas degradado possamos usar esse background para criar um espaço mais interessante mesmo para a própria população e fazê-la também pensar sobre a obra de arte.

PP: Quando nós estamos em Lisboa é fácil encontrar as tuas obras. A tua exposição, que tiveste aqui no teu próprio atelier, deu-te o boom que precisavas para expandir a tua arte e o teu conceito?
BII: Eu acho que todos os trabalhos que são feitos acabam sempre por abranger o público que reconhece o nosso trabalho. Quanto à exposição em Lisboa, foi quase que uma retrospectiva daquilo que eu tinha estado a fazer durante os anos anteriores mas muito mais pelo mundo fora e em murais. Consegui trazer isso para a minha cidade com um pouco, se calhar, de todas as ideias e as coisas que eu fui aprendendo pelo mundo fora em formatos mais pequenos para conseguir ter peças que possam ser visitadas num espaço fechado.

PP: Os animais são as tuas personagens principais.
BII: São sim, porque são a representação mais direta da natureza e a mais pura também.

 

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PP: Uma das instalações maiores é o lince ibérico que tens no Parque das Nações. Conta-nos um pouco dessa história desse lince ibérico, um animal tão especial para nós.
BII: Sim, é um animal especial para nós, é um exemplo daquilo que pode acontecer a muitas espécies se nós não tivermos cuidado com o que fazemos ao meio ambiente. O lince ibérico é uma espécie em vias de extinção, esteve em risco mesmo muito grave; está a recuperar, há imensos programas de reabilitação, está-se a fazer um bom trabalho nesse campo mas quer dizer, dá que pensar: porque é que é preciso deixar as coisas chegarem a esse ponto para as pessoas abrirem os olhos e terem que se preocupar? Não é mais simples tomar precauções e não deixar que as coisas cheguem a um limite para depois tentar fazer alguma coisa em que se torna até mais difícil de tentar salvar uma espécie? Eu quando falo da natureza, acho que é importante relembrar que isto é a nossa casa e o que mata os animais mata-nos a nós também porque nós também somos bichos.

PP: Em quantos países é que tens exposto os teus trabalhos?
BII: Não sei, bastantes.

PP: Mas assim um dos mais marcantes. Talvez aquele que te deu mais desafio fazer.
BII: Não sei, acho que cada sítio é uma experiência interessante. Claro que há algumas que são mais interessantes. Um dos lugares onde provavelmente nós temos sempre uma experiência mais interessante porque temos sempre contacto com a população e vamos visitar toda a zona, é a Polinésia Francesa porque é um local lindíssimo, é um paraíso em que temos a oportunidade de trabalhar, fazer várias séries de trabalhos, de ir passear e acho que, todo aquele ambiente acaba por ser super inspirador também para um criativo não é.

PP: Bordalo espanta os olhares nacionais e internacionais com a sua arte feita de lixo, um lixo que a sociedade tende a ignorar. Usa o lixo como uma mensagem direta de que é preciso mudar o mundo, ajudar a natureza e os animais. Esta é uma arte difícil de explicar, mas incrível de ver.
BII: Bem, acho que para fechar aqui a temática, quero dar mais ênfase ao facto que para além da parte da componente artística, aquilo que me interessa mesmo dizer é que nós temos de ter atenção e temos que preservar o planeta que temos. É o único sítio que temos para viver, portanto, tudo o que tenha a ver com a natureza, a ecologia, os animais, porque nós também somos animais, tem de ser preservado e temos de ter atenção às nossas atitudes.

Paulo Perdiz/MS

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