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Almodóvar reflete sobre a eutanásia no seu primeiro filme em inglês

Pedro Almodóvar com as suas atrizes Tilda Swinton (à esquerda) e Julianne Moore, na passadeira vermelha de Veneza, na estreia de “The room next door”. Foto: AFP

“The room next door”, novo drama do realizador espanhol, com as atrizes Julianne Moore e Tilda Swinton, concorre ao Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza.

O realizador espanhol Pedro Almodóvar estreou a primeira longa-metragem em inglês, “The room next door” (“O quarto do lado”, em tradução literal) , no Festival de Cinema de Veneza, em Itália, e concorre ao Leão de Ouro. O palmarés é anunciado no próximo sábado.

Após anos de incertezas e tentativas fracassadas em Hollywood, Almodóvar optou por ambientar a nova obra no estado de Nova Iorque, cidade que lhe abriu as portas dos Estados Unidos nos anos 1980.

O filme narra a decisão de uma escritora de sucesso (Julianne Moore) que acompanha os últimos dias da amiga, uma correspondente de guerra (Tilda Swinton) que tem um cancro terminal. O ator John Turturro completa o trio de protagonistas.

“The room next door” é uma reflexão melancólica sobre a morte, a amizade, a maternidade e o direito à eutanásia. É também uma tentativa de aceitação do fim da vida, revelou Almodóvar, que tem 74 anos e já fez mais de 40 filmes.

“Este é um filme a favor da eutanásia”

“Sinto-me muito mais próximo da personagem de Julianne, não consigo compreender que algo que está vivo tem que morrer. A morte está por todo lado, mas é algo que nunca compreendi bem”, confessou à imprensa o diretor de “Dor e glória”.

Durante as filmagens “conversamos tanto sobre a vida que tive a sensação de que estavamos a fazer um filme sobre a vida”, disse Tilda Swinton, que já trabalhou com Almodóvar na curta-metragem em inglês, “A voz humana”, obra baseada no livro homónimo de Jean Cocteau.

Swinton revelou sentir-se próxima da sua personagem em “The room next door”, alguém que prepara com calma sua despedida do mundo. “Pessoalmente, nunca tive medo da morte. Sei que ela chegará, sinto que chegará. E apoio os meus amigos quando começam a transição”, disse a atriz.

“Este é um filme a favor da eutanásia. A doença está lá e o que é admirável na personagem de Tilda é que ela decide que o cancro não me vai apanhar se eu decidir primeiro'”, citou Almodóvar, que além de realizar o drama também escreveu o argumento.

“O filme fala de uma mulher que morre num mundo que provavelmente também está a agonizar”, acrescentou Almodóvar, que denunciou “os discursos de ódio” da “extrema direita espanhola e em outros lugares do Mundo”.

“O que há de tão fascinante neste filme é que (…) poucas vezes vemos um filme sobre a amizade entre duas mulheres, especialmente mulheres mais velhas. Não sei se outro diretor de cinema faria isso, exceto o Pedro”, acrescentou Julianne Moore.

Prémio de carreira em San Sebastian

 “The room next door”, baseado no livro “What are you going through”, escrito por Sigrid Nunez, estreia nos cinemas europeus em meados de outubro.

Pedro Almodóvar é conhecido por controlar rigorosamente as suas obras artísticas – tudo, do argumento aos cenários e figurinos, à direção artística, e sobretudo, o “final cut”, tem que ter a sua aprovação.

Ícone sem par na cena cultural espanhola, Almodóvar começou a sua carreira com comédias kitsch e ousadas, como “Pepi, Luci e Bom” ou “O que eu fiz para merecer isso?”. Em 1988, “Mulheres à beira de um ataque de nervos” marcou a sua explosão internacional: ganhou o prémio de Melhor Argumento no Festival de Veneza e o Oscar de Melhor Filme Internacional.

Agora, após esta estreia em Veneza, festival onde concorre ao prémio máximo, o Leão de Ouro que distingue o melhor filme a concurso, Pedro Almodóvar receberá um prémio pelo conjunto da obra no festival de San Sebastián, no País Basco, em Espanha, no final deste mês de setembro.

JN/MS

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