A capacidade de regeneração do planeta será eventualmente maior do aquilo que se julga, no entanto, esta capacidade poderá não contemplar ambientes propícios à humanidade.

A vida no planeta Terra sempre se adaptou a novas circunstâncias. Diversas mudanças climáticas, temperaturas amenas e extremas, diferentes composições atmosféricas, pressão atmosférica diferente, gravidade diferente, radiação solar e estelar diferente, etc, etc…
Diferentes formas de vida foram surgindo ao longo dos diversos estados, momentos e condições da existência da Terra. Aproximadamente durante 3,5 mil milhões de anos a vida foi encontrando soluções para se manter e propagar. Houve vários momentos em que quase se finou, mas apesar das contrariedades, manteve-se e proliferou. Espécies houve que devido às suas excessivas populações, consumo de recursos ou emissões de produtos químicos resultantes das suas atividades ou funcionamento orgânico, provocaram gigantescas alterações na dinâmica físico-química do planeta. Com a sua própria existência condicionaram a existência de outros seres vivos, ao mesmo tempo condicionando a sua.
O impacto que a espécie humana tem em toda a vida na Terra, não é inédito – ao longo da história do planeta outras espécies provocaram alterações e rearranjos de equilíbrios, muitas desapareceram, outras mantêm-se.
As cianobactérias que provocaram uma mudança radical na composição atmosférica continuam a existir. A quantidade de oxigénio na atmosfera era muito inferior antes da sua existência e proliferação, no entanto os seres que necessitavam de uma atmosfera de composição diferente, com menos oxigénio, extinguiram-se.
O aumento do oxigénio, produzido por ação de espécies que realizam fotossíntese, condicionou toda a vida na Terra, permitindo a proliferação de uns e dificultando a existência de outros.
Há cerca de 2,4 mil milhões de anos, quando aconteceu o primeiro aumento significativo de oxigénio na atmosfera, toda a química, clima e biodiversidade se alteraram.
Na extinção do Devoniano, há cerca de 360 milhões de anos, desapareceram cerca de 75% de todas as espécies existentes então, desta feita, não por excesso de oxigénio, mas por falta dele. Alguns cientistas apontam como causa a proliferação de alguns vegetais que provocaram a anoxia (falta de oxigénio) em águas de superfície; as tão conhecidas trilobites (pela quantidade de fósseis existentes), foram umas das vítimas.
A espécie humana, assim como as outras espécies atualmente existentes, é o resultado de uma incomensurável quantidade de eventos, resultado de uma dinâmica interativa, de física, de química, de biologia. Este puzzle é dinâmico, nunca terminado, sempre em constante mutação.
Mas a espécie humana é diferente, tem a capacidade de perceber a existência da complexidade deste imenso sistema em perpétua mutação e movimento.
Os seres vivos que conhecemos e aqueles que existiram antes do Homem não mostram evidências de noção da complexidade que é a vida na Terra e no cosmos. Por esta única e mera diferença, a responsabilidade é acrescida. Saber que a sua própria existência condiciona ou limita a existência de outros, que pode levar outros à morte e à extinção, que atualmente a sua atividade irrefletida condicionará o futuro da vida na Terra, condicionará as possibilidades da sua própria existência, torna esta espécie criminosa.
Todos os seres vivos se poderão considerar inimputáveis, com exceção do Homem.
O Homem não pode ser a razão de uma extinção em massa, até porque se autointitula duplamente Sapiens. Vidas condicionam vidas, porém poderão fazê-lo com sapiência, só assim não se destruirão outros nem eles mesmos.
Paulo Gil Cardoso/MS
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