Ambiente

Terra Viva – Atividade sísmica nos Açores

Desde 1522 aconteceram mais de 20 grandes sismos nos Açores, alguns deles bastante destrutivos.

Desde domingo, dia 3 de novembro, que tem havido atividade sísmica quase diariamente, numa zona do mar a uma distância entre os 25Km e os 30Km da Ilha do Faial. Durante a semana passada sentiram-se sismos na terça-feira (5), na quarta-feira (6) e na quinta-feira (7), respetivamente com magnitudes de 4,4, 3,9 e 3,4 da escala de Richter. No domingo (10) foram ainda registados mais dois tremores de terra de magnitude 3,5 e 3,6. Na madrugada de dia 12, terça-feira, houve um sismo de 4,2 que foi sentido nas ilhas do Faial, Pico e São Jorge. Segundo a Proteção Civil e Bombeiros dos Açores a ocorrência deu-se às 04:36 horas locais sendo o seu epicentro a cerca de 30Km a oeste do Capelo, na Ilha do Faial.

Estamos perante uma atividade sísmica que se tem revelado mais ou menos constante durante quase duas semanas. Para esta zona do Atlântico não é nada de extraordinário. Apesar da imprevisibilidade e dos danos que poderão causar estes fenómenos, estes são normais e recorrentes, uma vez que é nesta zona que as placas tectónicas continentais americana, euroasiática e africana se encontram. As placas vão-se movendo lentamente, pressionando-se ou afastando-se, permitindo também afloramentos de magma que resultam numa considerável atividade vulcânica. Esta dinâmica é a mãe do Arquipélago dos Açores, e é uma evidência do sistema vivo que é o nosso planeta.

Especula-se que em 300 milhões de anos as placas tectónicas terrestres se renovam através de uma lenta subducção, ou seja, como que mergulhando no interior fundido do manto de magma, emergindo, no entanto, esse mesmo magma, que solidificado se vai tornando na nova crosta. Por estranho que pareça, é nestas zonas de embate e por vezes de grandes cataclismos que se revela uma enorme biodiversidade. A riqueza destas zonas é transversal tanto à vida animal e vegetal, como a diversidade mineral ou química, havendo um manancial enorme de recursos naturais.

A atividade sísmica e vulcânica, ao mesmo tempo que pode ser destrutiva, é potenciadora de vida: existem seres nas profundezas oceânicas do arquipélago, que vivem longe da luz do Sol e dependem da energia e das emissões químicas e minerais com origem em fumarolas vulcânicas. As águas do mar têm nutrientes que permitem uma enorme diversidade e quantidade de espécies marinhas. Nos Açores, a natureza revela-se em toda a sua força.

É imprevisível quando acontecerá um grande cataclismo – os habitantes dos Açores têm vivido desde sempre com esta realidade, e muitas das tradições, festividades e cultos religiosos são resultado dessa relação com a natureza. Desde 1432, quando se iniciou o povoamento do arquipélago, aconteceram mais de 130 desastres naturais, desde atividade vulcânica, passando por tremores de terra, deslizamentos de terras, tempestades, secas, doenças, etc.. Apesar de tudo houve sempre uma notável capacidade de adaptação, resistência e resiliência dos açorianos, assim como de todas as formas de vida que sentem atração por esta zona no centro do Oceano Atlântico e que dependem desta para a sua existência.

A Terra respira, suspira, movimenta-se, revolve-se, adormece, acorda, tem humores… Admiremo-la e respeitemo-la.

Paulo Gil Cardoso

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