Ambiente

Terra Viva – Árvore

A árvore mais antiga de Portugal situa-se em Abrantes. De nome: “Oliveira do Mouchão”, é uma oliveira com 3.350 anos e contínua a dar azeitonas.

Pensemos na história a que esta árvore assistiu, que teve as suas azeitonas colhidas por povos e civilizações que já não existem, deitaram-se à sua sombra crianças anteriores aos Romanos e aos Mouros, as suas azeitonas foram alimento de cerca de uma centena de gerações, o seu azeite queimou nas lamparinas anteriores a Cristo… É admirável!

Sempre percebemos a importância das árvores e agora, mais do que nunca, serão com certeza uma das maiores ajudas possíveis contra as alterações climáticas.

Apesar da produção de oxigénio, que acabam também por consumir, a sua maior contribuição será na retenção de carbono, integrado nos seus corpos, deixando assim mais oxigénio livre, contribuindo para a diminuição de dióxido de carbono. Por cada molécula de carbono retida nos seus troncos, duas moléculas de oxigénio estarão livres. Porém, a importância das árvores não se limita à sua relação com os ciclos do oxigénio ou do carbono – é de todo sabido que regulam a temperatura, a humidade, a fertilidade dos solos, a fixação dos solos contrariando a erosão, que diminuem a possibilidade de enxurradas, que são abrigo e alimento para inúmeras espécies, que os seus frutos são absolutamente essenciais à alimentação humana e de outros seres.

Não nos iludamos porém com a nossa desenfreada plantação de apenas algumas espécies de árvores: todas são diferentes, e só na diversidade aliada à quantidade é que haverá equilíbrio. As florestas têm forçosamente de ter diversidade de árvores, e com certeza de todos os outros seres, só assim são sustentáveis – cada espécie depende, em alguma forma, de outras espécies. E mesmo quando mortas, são imprescindíveis à renovação das próprias florestas – os seus troncos em decomposição alimentam o solo, são abrigo e alimento para milhares de outras espécies, insetos, fungos, bactérias, mamíferos, anfíbios, plantas, enfim, todos dependem delas, mesmo quando mortas, sendo essencial que se permita a sua decomposição. Assim se percebe o porquê da necessidade de deixar árvores mortas nas florestas.

As indicações mais antigas da existência de árvores chegam-nos através de fósseis encontrados na região de Gilboa, no estado de Nova Iorque, datando de há 380 milhões de anos. Especula-se que nesta zona existiria a mais antiga floresta do mundo. Elas estão cá há muito mais tempo que nós, e agora que nos juntamos à sua existência, esperemos poder acompanhá-las na viagem do tempo, sendo verdadeiros companheiros de viagem.

Permitam-me que partilhe a minha admiração e respeito por estes seres vegetais magníficos, que descarreguei em poema.

“Ficas aí a crescer sem nunca mudar de lugar…

Porque não precisas!

O lugar vai mudando e tu assistes.

E assim, o mesmo lugar vai dando lugar a outros lugares, a maior parte das vezes lentamente, uma vez ou outra cataclismicamente.

Vão ficando os vestígios dos lugares anteriores que teimam em alimentar a memória e que vão deixando pistas sobre como respiravam.

E tu ficas aí a crescer sem nunca mudar de lugar…

Mas vendo os lugares passarem por ti.

Mudam as gentes, mudam as aves, mudam as formas e as construções humanas que te rodeiam, mudam os sons e os cânticos, muda o vento, o calor, o frio, a chuva e o estio…

E tu ficas aí a sorver o todo…

Sem nunca mudar de lugar.

Mas com todos os lugares contidos em ti!

In “Tem dias” – Paulo Gil Cardoso,

Seda Publicações, 2019

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