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O relatório sobre alterações climáticas ponto por ponto

 

O relatório sobre alterações climáticas -mundo-mileniostadium
Foto: The Aegean Rebreath / AFP / Jn/ Global images

O novo relatório dos especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado esta segunda-feira, mostra de forma inequívoca que o clima está a mudar mais rapidamente do que se temia e que a culpa é das pessoas.

Segundo os cientistas e ativistas do painel mundial, apenas uma fração do aumento da temperatura pode ser atribuído, desde o século XIX, a causas naturais. No relatório com mais de três mil páginas, os especialistas traçam cinco cenários, mas avisam, desde já, que muitos efeitos do aquecimento global vão perdurar “séculos ou milénios”, faça-se o que se fizer.

Face às imagens de inundações e incêndios que fazem as manchetes em todo o mundo, as novas previsões climáticas, anunciadas três meses antes da Conferência do Clima COP26, são alarmantes, mas não foram propriamente uma surpresa para ninguém. Eis as principais conclusões da primeira avaliação abrangente do clima desde 2014, realizada por mais de 230 cientistas, de 66 nacionalidades, com base em 14.000 estudos publicados.

1,5°c

Em todos os cenários considerados – do mais otimista ao mais pessimista -, a temperatura global ultrapassa os 1,5 graus centígrados, em comparação com a era pré-industrial, até 2030 — ou seja, 10 anos antes da estimativa anterior do IPCC, feita há três anos. A temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa.

Carvão e combustíveis fósseis vão destruir o planeta se não forem travados - milenio stadium - mundo
O secretário-geral da ONU, António Guterres, considera que o relatório sobre o clima, hoje publicado pelos especialistas da ONU, é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”. EPA/Chema Moya

Sorvedouros estão a enfraquecer

Desde 1960, florestas, solos e oceanos absorveram 56% do dióxido de carbono (CO2) emitido para a atmosfera pelas atividades humanas. Sem essa ajuda da natureza, o planeta já seria muito mais quente e inóspito. Mas esses sorvedouros de carbono, aliados cruciais na luta contra as mudanças climáticas, estão a dar sinais de saturação e a percentagem de dióxido de carbono que absorvem deve diminuir ao longo do século.

A culpa é do aquecimento

O relatório destaca o progresso excecional na “ciência da atribuição”, que agora torna possível quantificar a parcela de responsabilidade do aquecimento num determinado evento climático extremo. Por exemplo, os cientistas mostraram que a onda de calor extraordinária no Canadá registada em junho, com temperaturas próximas a 50°c, teria sido “quase impossível” sem as mudanças climáticas.

Nível do mar sobe

O nível do mar aumentou cerca de 20 centímetros (cm) desde 1900 e a taxa desse aumento triplicou na última década, sob a influência crescente do derretimento dos polos terrestres. Mesmo que o aquecimento seja limitado a dois graus centígrados, os oceanos podem ganhar cerca de 50 cm no século XXI e esse aumento pode chegar a quase dois metros até 2300 — o dobro do estimado pelo IPCC em 2019. Devido à incerteza das zonas polares, os especialistas não podem descartar, na pior das hipóteses, um aumento de dois metros até 2100.

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Smoke rises from stacks of a thermal power station in Sofia. – Rising global temperature, rising sea levels, intensification of extreme events… The publication of the report of the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) is scheduled on August 9. (Photo by DIMITAR DILKOFF / AFP)

Passado alerta presente

O avanço do conhecimento sobre os climas anteriores serve como alerta para o presente. Por exemplo, há 125 mil anos, o último período em que a atmosfera era tão quente, o nível do mar estava provavelmente cinco a 10 metros mais alto do que hoje. Há três milhões de anos, quando a concentração de dióxido de carbono na atmosfera era equivalente à de hoje e a temperatura era 2,5 a 4°c mais alta, o nível do mar subiu 25 metros.

Metano no centro das atenções

O IPCC nunca falou tanto sobre o metano (CH4), segundo gás com efeito de estufa mais importante, depois do CO2, alertando: se as emissões de CH4 não forem reduzidas, isso pode prejudicar os objetivos do Acordo de Paris (tratado das Nações Unidas assinado por quase todos os países do mundo em 2015 e que fixa como limitar de aquecimento global os 1,5 graus centígrados).

As concentrações de CH4 na atmosfera — para as quais contribuem os vazamentos da produção de gás, mineração, eliminação de resíduos e gado – são as mais altas em 800 mil anos. O metano tem um poder de aquecimento muito maior do que o CO2, mesmo que tenha um período de permanência na atmosfera muito mais curto.

Diferenças regionais

Todo o planeta está a aquecer, mas algumas áreas mais rapidamente do que outras. No Ártico, por exemplo, espera-se que a temperatura média nos dias mais frios aumente três vezes mais rápido do que o aquecimento global. E, se o nível do mar se prevê que suba em todos os lugares, pode subir até 20 por cento mais do que a média em muitos litorais.

Pontos de rutura irreversíveis

Os pontos de rutura irreversíveis, mudanças abruptas no sistema climático de “baixa probabilidade”, mas “alto impacto” — por exemplo, o colapso dos glaciares, que pode fazer o mar subir dezenas de metros, o degelo do permafrost ou a transformação da floresta da Amazónia em savana — “não podem ser descartados”, avisa o IPCC.

Correntes atlânticas

A Atlantic Meridional Reversal Circulation (AMOC), um complexo sistema de correntes oceânicas que regulam o calor entre os trópicos e o hemisfério norte, está a desacelerar, uma tendência que “muito provavelmente” continuará ao longo do século. O IPCC também estima, com um nível de confiança “médio”, que a AMOC poderia parar completamente, o que levaria, em particular, a invernos mais rigorosos na Europa e a uma perturbação das monções na África e na Ásia.

JN/MS

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