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Cheias de Memórias Curtas

Terra Viva

 

cheias 1967 - milenio stadiu m

 

Dizem os registos que nos últimos 160 anos houve mais de 1680 cheias e inundações em Portugal.

O nosso breve tempo de vida e a elevada velocidade a que a sociedade atual funciona, parecem provocar uma espécie de amnésia civilizacional. Década após década, ano após ano, dia após dia, hora após hora, as solicitações, as interações sociais, o trabalho, os desejos e prazeres, a informação cibernética, a comunicação social, engolem-nos numa enorme vertigem de estímulos efémeros que se torna fátua qualquer retenção de memórias sólidas.

Em 160 anos de cheias houve mais de 1020 mortes, mais de 500 feridos, mais de 14 000 evacuados, cerca de 40 700 desalojados e mais de 130 desaparecidos. Relembremos apenas os anos das últimas 15 grandes cheias considerando somente a Área Metropolitana de Lisboa e Estuário do Tejo, 1945, 1957, 1967, 1969, 1979, 1991, 1992, 1996, 2001, 2007, 2008, 2010, 2014, 2020 e 2022. Destas, destacam-se as cheias de 1967, que foram as que mais mortes e destruição provocaram, havendo a lamentar os óbitos de cerca de 700 pessoas e a destruição de mais de 20 000 casas. Em apenas algumas horas da madrugada de 25 para 26 de novembro choveu o equivalente a 1/5 do expectável para um ano.

A nossa curta memória e o apanágio, tão português, de “só nos lembramos de Santa Bárbara quando está a trovejar”, não nos permitiram reagir cabalmente a tantos eventos de destruição e morte, e então continuamos a construir em leitos de cheia, a impermeabilizar solos, a não adequar as estruturas de drenagem a caudais de água extremos, a diminuir as áreas arborizadas, etc., etc…

Não foram as alterações climáticas as causas de todas as inundações dos últimos 160 anos, porém, com esta nova comprovada realidade, estamos sujeitos a que os próximos 160 anos sejam muito piores. É urgente, portanto, a rápida adequação e adaptação das nossas zonas urbanas. As mais elevadas capacidades da humanidade são a aprendizagem e adaptação, essas são as que nos permitiram progredir e prosperar nos meios mais variados.

Os humores do nosso planeta não se compadecem com sentimentos, desejos ou fé, e nunca serão ao nosso gosto. Teremos de lidar com a Terra com sapiência, e em vez de usar de teimosia e despeito, dever-nos-emos preparar para as suas iras e más disposições e acima de tudo evitar desestabilizá-la. Resumindo… amá-la com ela é.

Paulo Cardoso/MS

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