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Covid-19: diferentes fatores que têm influenciado a vida de cada um.
Todos sentimos, de uma forma ou de outra, as mudanças provocadas pela pandemia da Covid-19. Desde o empresário ao funcionário. Do professor ao estudante. Todos, sem exceção, tivemos que nos adaptar e sujeitar às regras ditadas por uma doença que atingiu, para além da saúde, a economia mundial. No fim de contas não há ninguém que saia a ganhar neste jogo. Nesta edição do jornal Milénio Stadium, tentamos pôr em equação os diferentes fatores que têm influenciado a vida de cada um.
- Sandra Santos, 28 anos, cabeleireira
1 – O seu trabalho foi afetado pela pandemia? Se sim, em que medida?
Sim, muito. O cabeleireiro onde trabalho esteve fechado quatro meses.
2 – Como foi viver esses meses?
Olhe foi difícil, claro, mas podia ter sido bem pior se o Governo não tivesse pagado aqueles 2000 dólares. O pior de tudo foi ficar sem saber quando é que isto iria terminar. Deu-me cabo da cabeça. Estar fechada em casa é bonito, mas só por alguns dias.
3 – E agora como está a correr o regresso ao trabalho?
Dentro dos possíveis… bem. Só trabalhamos por marcação. Temos muito menos gente por dia. Estamos sempre a desinfetar tudo. O mais aborrecido é trabalhar sempre com máscara. Chega a um ponto que se torna mesmo insuportável. Também estou a ganhar menos porque a minha patroa diminuiu-me as horas de trabalho por semana. Eu compreendo porque ela também tem menos rendimento, mas faz-me muita diferença…
4 – Estamos a caminhar a passos largos para o outono/inverno. Fala-se muito da possibilidade de uma segunda vaga da pandemia. Como olha para o futuro?
Nem me fale nisso. Eu até já nem vejo notícias. Só de pensar que vou ficar outra vez em casa, sem trabalhar…
- Valentina Borges, 55 anos, apoio a idosos
1 – O seu trabalho foi afetado pela pandemia? Se sim, em que medida?
Sim, foi muito afetado. Mas nunca deixei de trabalhar. Só que agora é veste bata, despe bata, trabalhar sempre com máscara e, às vezes, viseira, desinfetar as mãos até fazer ferida por ficarem tão secas… enfim… Além disso, no final de março e até durante o mês de abril deixei de ir a casa de alguns idosos porque a família não queria.
2 – Não teve medo de ser contaminada?
Muito! Muito mesmo. Cheguei a ter dificuldade em dormir. Depois entrei numa paranoia – andava sempre a medir a febre, sentia tosse… cheguei a ir fazer o teste da Covid porque andava em pânico. Enfim… afetou-me muito. Tinha medo por mim e pelos meus.
3 – Mas em termos económicos, não sentiu diferença ao fim do mês?
Não. Acabei por não sentir diferença. Felizmente.
4 – Estamos a caminhar a passos largos para o outono/inverno. Fala-se muito da possibilidade de uma segunda vaga da pandemia. Como olha para o futuro?
Ai eu acho que isto vai ser muito difícil. As pessoas continuam a não ter cuidado. Pensam que isto já passou, mas não é verdade. Para mim não vai deixar de haver trabalho, só tenho medo é de não ter saúde. Isto no inverno ainda ver ser pior. Deus nos guarde.
- Jason Gonçalves, 34 anos, operário
1 – O seu trabalho foi afetado pela pandemia? Se sim, em que medida?
E de que maneira… Sim, foi muito afetado. Não podia ter sido pior. Fui para lay-off, porque a fábrica teve que fechar. Primeiro por causa do perigo de nos contaminarmos uns aos outros e depois porque não havia trabalho. Agora felizmente já está tudo a voltar ao normal, aos poucos.
2 – Como viveu estes meses que esteve em lay-off? Foi contemplado com o CERB?
Sim. Nesse aspeto correu tudo bem. Esse dinheiro veio ajudar-me a suportar as despesas com a minha família. A minha mulher não veio para casa, mas se ficássemos sem o meu vencimento, não tínhamos conseguido passar por isto. Assim com os 2000 dólares do CERB acabou por ser tudo mais tranquilo.
3 – E agora que regressou ao trabalho – como se sente?
Olhe para ser sincero eu por um lado queria muito voltar – já estava farto de estar em casa, mas tenho um bocado de receio. Somos muitos na minha linha de produção e nem todos temos cuidado.
4 – Estamos a caminhar a passos largos para o outono/inverno. Fala-se muito da possibilidade de uma segunda vaga da pandemia. Como olha para o futuro?
Se eu conseguisse adivinhar, ficava rico. (risos) Eu estou a brincar, mas estou muito preocupado. Não sei se vamos aguentar se tudo voltar atrás. A minha fábrica não sei se aguenta… e depois estou preocupado com a saúde de todos. Bem, mas não podemos pensar muito. Temos que viver o dia a dia.
- Nathan Oliveira, 23, estudante
1 – O teu percurso académico foi afetado pela pandemia?
Foi, bastante. Tive aulas online, claro, mas não é a mesma coisa. A concentração não é a mesma, a troca de ideias com professores e outros alunos não acontece com a mesma naturalidade e frequência. Além disso, tive disciplinas que não consegui acabar, porque são mais práticas – o que eles consideram aulas de laboratório – e online não dava.
2 – Tinhas um emprego antes da pandemia que te ajudava a suportar os custos do teu curso?
Tinha, um part-time. Também não tive mais trabalho onde estava empregado antes, mas agora também tenho algum receio de voltar. Acho que estou a ficar paranoico. Eu servia ao público e tenho receio de me relacionar com estranhos agora.
3- E como será se eventualmente voltares a frequentar presencialmente as aulas?
Pois, vai ser o mesmo pânico. Mas vou às instalações o mínimo indispensável, tudo o resto faço online. Acho que nada compensa o risco, desde que eu consiga conciliar as aulas práticas com uma dedicação extra em casa. Fala-se tanto de uma nova fase da pandemia e de números altos novamente, principalmente na altura do inverno, e eu quero proteger-me para assim proteger os meus em casa também.
4- Como imaginas o futuro?
Tenho esperança de que a vacina venha em bom tempo e que assim consigamos viver a vida com mais tranquilidade. Quero mesmo acreditar que daqui a um ano tudo estará bem melhor. Até lá temos que aguentar, da melhor forma possível. Sei que para muita gente a parte económica está a ser muito afetada, a minha família também se queixa bastante, mas eu tento pensar que se calhar esta pausa tinha que ser. E sinceramente, se tivermos que nos proteger durante um ano, por exemplo, o que é isso ao lado de tanta gente que tem doenças sem cura e que não é a trabalhar de casa ou a usar máscara que se protegem? Por isso acho que somos uns sortudos e temos que ter isso em conta quando tendemos a fazermo-nos de vítimas.
Catarina Balça/MS
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