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Vox Pop – A arte da mentira

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Inocentes, necessárias, inconscientes, educadas ou maliciosas – são muitos os tipos de mentiras que todos nós, sem exceção, vamos contando ao longo da nossa vida. E nem vale a pena negar!

Este comportamento, que chega a ser visto por especialistas como necessário à nossa convivência em sociedade, é comum a todos nós e começa, por exemplo, nas promessas que fazemos a nós próprios no começo de um novo ano: fazer dieta, ser mais tolerante ou adotar um estilo de vida mais saudável fazem parte, não raras vezes, da nossa lista de desejos e/ou objetivos para uma nova jornada de 355 dias… O “problema” é que na maioria das vezes acabam por não sair do papel!

Mas existe um lado mais negro e que vai além das mentiras tidas como “socialmente aceites”: a mitomania. Estas são pessoas que sofrem de um distúrbio que as faz mentir compulsivamente e viver num mundo de “faz de conta” – de tal forma que as leva a destruir relacionamentos, perder o controlo de vários aspetos da sua vida, incluindo a parte financeira, prejudicar a sua saúde mental e de outros, e em alguns casos envolver-se em complicações legais, que as obriga a responder judicialmente.

Nesta edição do jornal Milénio Stadium, em que tentamos perceber as razões, influência e consequências que as mentiras ou omissões têm no nosso dia a dia e nas nossas relações interpessoais, quisemos saber junto de pessoas de várias faixas etárias qual a sua posição e opinião perante as diferentes inverdades com que nos deparamos na nossa vida.
Inês Barbosa/MS

 

André Marques – 53 anos

Tem por hábito mentir a si próprio/a? Se sim, em que contexto/circunstâncias é que o faz?
Sempre mentimos para nós próprios quando prometemos algo que sabemos que não vamos cumprir. Ir para academia todo dia, por exemplo. Eu sempre prometo que semana que vem eu vou todo dia, isso raramente acontece.

Quantas vezes já prometeu coisas a si próprio/a que depois acabou por não cumprir? Porque é que acha que isso acontece/aconteceu?
Frequentemente prometo coisas a mim mesmo. Isso acho que faz parte da natureza humana, como uma tentativa de evolução. Quando não cumprimos, deve ser porque o resultado daquela promessa não era tão relevante para nossa vida e pôde ser deixado de lado. O fato de ninguém mais saber dessa promessa também afeta, pois não devemos explicações a ninguém.

Considera as mentiras sociais (em que mentimos de forma a não prejudicar alguém ou apenas para sermos simpáticos/as, por exemplo) aceitáveis? Porquê?
Sim, aceitáveis e necessárias para evitarmos embates desnecessários.

Se se visse confrontado/a com uma situação em que mentir impediria que fosse afetado/a negativamente ou até que lhe permitisse tirar algum proveito da mesma, mentiria?
Sim, com certeza, e isso já aconteceu. Faz parte da autodefesa. Claro que sem prejudicar terceiros gravemente.

Conhece ou já conheceu alguém que minta compulsivamente? Se sim, que impacto é que essa pessoa teve na sua vida?
Conheço e isso não me impactou muito pois descobri rapidamente. Mas esse mundo fantasioso em que essa pessoa vive só faz mal para ela mesma (ou não, pois ela acredita em tudo que vive). Mas o dia em que ela cair em si, talvez seja tarde demais.

 

Isabele Matos de Souza, 28 anos

Tem por hábito mentir a si próprio/a? Se sim, em que contexto/circunstâncias é que o faz?
Eu acredito que as mentiras que eu conto para mim mesma, são coisas que não me parecem sérias ou que alterem a minha percepção de realidade. Coisas como “vou começar a dieta amanhã” ou “vou estudar todos os dias pelo menos um pouco”, não me parecem mentiras que possam me prejudicar gravemente ou prejudicar um terceiro. Mas sim, conto essas pequenas mentiras pra mim mesma, quase todos os dias.

Quantas vezes já prometeu coisas a si próprio/a que depois acabou por não cumprir? Porque é que acha que isso acontece/aconteceu?
Incontáveis as vezes que não cumpro o que prometo. Eu acho que a gente se engana para nos sentir menos mal com o não cumprimento das coisas que gostaríamos de cumprir e assim vai se seguindo, num ciclo sem fim de promessas.

Considera as mentiras sociais (em que mentimos de forma a não prejudicar alguém ou apenas para sermos simpáticos/as, por exemplo) aceitáveis? Porquê?
Considero, muito. Acredito que sem essas mentiras, o convívio em sociedade poderia colapsar.

Se se visse confrontado/a com uma situação em que mentir impediria que fosse afetado/a negativamente ou até que lhe permitisse tirar algum proveito da mesma, mentiria?
Se não prejudicasse absolutamente ninguém, talvez o faria. Mas geralmente, eu procuro arcar com as consequências dos meus erros e falhas. Em relação a me beneficiar através da mentira, a minha consciência tem que estar tranquila de que realmente mereci esse benefício. Então, não me sentiria bem em mentir para colher privilégios.

Conhece ou já conheceu alguém que minta compulsivamente? Se sim, que impacto é que essa pessoa teve na sua vida?
Sim, conheci algumas. Eu sinto pena de pessoas que têm essa péssima característica, porque elas vivem numa realidade paralela. Geralmente, corto relações com pessoas assim.

 

Rosa Teixeira – 63 anos

Tem por hábito mentir a si próprio/a? Se sim, em que contexto/circunstâncias é que o faz?
Não, não tenho.

Quantas vezes já prometeu coisas a si próprio/a que depois acabou por não cumprir? Porque é que acha que isso acontece/aconteceu?
Várias. Acho que, na realidade, tinha esperança de as conseguir concretizar.

Considera as mentiras sociais (em que mentimos de forma a não prejudicar alguém ou apenas para sermos simpáticos/as, por exemplo) aceitáveis? Porquê?
Sim, porque vai influenciar positivamente o estado de espírito e ânimo da pessoa.

Se se visse confrontado/a com uma situação em que mentir impediria que fosse afetado/a negativamente ou até que lhe permitisse tirar algum proveito da mesma, mentiria?
Não, não seria capaz.

Conhece ou já conheceu alguém que minta compulsivamente? Se sim, que impacto é que essa pessoa teve na sua vida?
Sim, muitas pessoas. Não tiveram nenhum impacto, porque não permiti que influenciassem de qualquer forma a minha vida.

 

Manuel Gomes – 48 anos

Tem por hábito mentir a si próprio/a? Se sim, em que contexto/circunstâncias é que o faz?
Não minto a mim próprio, uma vez que a mentira acaba depois por ser um arrastar de um problema e nunca uma solução.

Quantas vezes já prometeu coisas a si próprio/a que depois acabou por não cumprir? Porque é que acha que isso acontece/aconteceu?
Já prometi algumas vezes a mim mesmo coisas e acabei por não conseguir, às vezes por adotar diferentes perspectivas ao longo do tempo e outras até mesmo por fatores extra que não consigo controlar.

Considera as mentiras sociais (em que mentimos de forma a não prejudicar alguém ou apenas para sermos simpáticos/as, por exemplo) aceitáveis? Porquê?
Considero que a mentira, independentemente de que tipo seja, não é aceitável. A verdade por mais que magoe e traga consequências desagradáveis deve ser sempre a opção. Como se costuma dizer, a verdade é libertadora.

Se se visse confrontado/a com uma situação em que mentir impediria que fosse afetado/a negativamente ou até que lhe permitisse tirar algum proveito da mesma, mentiria?
Não o faria. No momento parece trazer benefícios, mas a longo prazo a mentira, na minha opinião, é corrosiva e nefasta.

Conhece ou já conheceu alguém que minta compulsivamente? Se sim, que impacto é que essa pessoa teve na sua vida?
Sim, já conheci, tendo mesmo essas mentiras prejudicado a vida pessoal e familiar. Quanto a mim nunca me afetou diretamente, uma vez que tento perceber sempre as motivações das pessoas e dificilmente me deixo enganar.

 

Ana Silva – 21 anos

Tem por hábito mentir a si próprio/a? Se sim, em que contexto/circunstâncias é que o faz?
Algumas vezes. Por exemplo quando digo que vou acordar um bocadinho mais cedo… e nunca acontece!

Quantas vezes já prometeu coisas a si próprio/a que depois acabou por não cumprir? Porque é que acha que isso acontece/aconteceu?
Muitas vezes… Por exemplo, a resposta que lhe dei anteriormente. Acordar cedo para ir, por exemplo, ao ginásio. A razão? Preguiça, talvez!

Considera as mentiras sociais (em que mentimos de forma a não prejudicar alguém ou apenas para sermos simpáticos/as, por exemplo) aceitáveis? Porquê?
É uma resposta complexa. Porque, de certo modo, essas “mentiras” ou respostas mais simpáticas, por exemplo, são um bocado aceitáveis porque têm como objetivo não afetar negativamente alguém – por exemplo a sua autoestima. Então sim, por vezes é em certas ocasiões são aceitáveis.

Se se visse confrontado/a com uma situação em que mentir impediria que fosse afetado/a negativamente ou até que lhe permitisse tirar algum proveito da mesma, mentiria?
Não. Não acho que seja o método indicado para tirarmos proveito de alguma coisa.

Conhece ou já conheceu alguém que minta compulsivamente? Se sim, que impacto é que essa pessoa teve na sua vida?
Que eu saiba nunca conheci que mentisse compulsivamente, senão acredito que tivesse uma influência bastante negativa na minha vida.

 

Anthony Pascoal, 35 anos

Tem por hábito mentir a si próprio/a? Se sim, em que contexto/circunstâncias é que o faz?
Não!

Quantas vezes já prometeu coisas a si próprio/a que depois acabou por não cumprir? Porque é que acha que isso acontece/aconteceu?
Algumas aconteceram por falta de disciplina.

Considera as mentiras sociais (em que mentimos de forma a não prejudicar alguém ou apenas para sermos simpáticos/as, por exemplo) aceitáveis? Porquê?
Sim, porque a verdade com certeza tiraria o emprego de muita gente. Estamos em 2023, a sinceridade é um problema que ofende, e se ofende, é proibido!

Se se visse confrontado/a com uma situação em que mentir impediria que fosse afetado/a negativamente ou até que lhe permitisse tirar algum proveito da mesma, mentiria?
Não! A verdade já me tirou muito dinheiro, mas em outra mão, me trouxe felicidade, relações de amizade profunda e verdadeira! Valeu a pena e continua valendo!

Conhece ou já conheceu alguém que minta compulsivamente? Se sim, que impacto é que essa pessoa teve na sua vida?
Sim. E uma das pessoas mais financeiramente bem sucedidas que eu conheço. Por outro lado, no âmbito pessoal, é um fracasso completo.

 

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