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Ser português. O que é isto de ser português? Que significado tem ainda o país de origem, para quem escolheu um outro para viver? Como se sente a cultura de um povo a milhares de quilómetros? Que futuro terá a cultura portuguesa que, durante anos e anos, se manteve graças ao trabalho de tantos e tantas que se dedicaram às associações e clubes? E que futuro têm esses organismos, numa era em que o afastamento entre pessoas ganhou quase forma de lei impedindo confraternizações e festas?  Fomos procurar respostas para estas perguntas num momento em que a vida nos obriga a reflexões diferentes, com perspetivas diversas das que tínhamos como certas há um ano. Este é o ano do grande desafio para a humanidade que se chama Covid-19. O ano que nos toldou o futuro, tornando-se cheio de sombras de incerteza.  A conclusão que tiramos é que este ambiente de dúvida sobre o amanhã não consegue, no entanto, perturbar minimamente o sentimento de orgulho de ser português. Um sentimento que parece tornar-se maior com a distância.

Susana Gomes

1 – Que significado tem para si o Dia de Portugal?

Eu acho que desde que saí de Portugal, este dia tem mais impacto na minha vida. Sinto que é uma comemoração que me toca muito mais agora, talvez porque dou muito mais valor agora ao meu país do que dava antes. Dizem que só valorizamos o que temos quando deixamos de ter, não é?

2 – No seu dia a dia, na maneira como vive e se relaciona com os outros, sente influência de Portugal e tudo o que se relaciona com a cultura portuguesa?

Sinto, muito. Acho que, primeiro, pela forma como levo a vida e me relaciono seja com quem for, porque os valores e os princípios têm muito que ver com a cultura que trago comigo. Depois pela comida, como 90% de coisas portuguesas, adoro a nossa gastronomia! Por isso quem vier a minha casa vai sempre comer um bacalhau ou umas tripas à moda do Porto! (risos)

3 – De que maneira vai mantendo a ligação com a cultura portuguesa?

Olhe, através da gastronomia, precisamente, mas também pela música! A música faz-me sentir mais perto de casa. E quando digo casa quero dizer Portugal, porque é lá que me sinto em casa.

4 – Como vê o futuro dos clubes e associações comunitárias no Ontário?

Não vejo grande futuro, principalmente agora depois desta pandemia, acredito que seja muito complicado para eles pagarem as contas, porque tiveram que parar com as festas e jantares. Para além disso, se não tiverem uma vertente mais moderna, mais atual do que realmente Portugal é hoje, acho que não vão conseguir continuar a viver do passado.


Beatriz Cardante

1 – Que significado tem para si o Dia de Portugal?

O Dia de Portugal para mim tem muito significado, é um dia onde celebro e recordo as minhas tradições que um dia mais tarde passarei para os meus “filhos”.

2 – No seu dia a dia, na maneira como vive e se relaciona com os outros, sente influência de Portugal e tudo o que se relaciona com a cultura portuguesa?

Sim, a minha mãe sempre fez questão de cá em casa nunca deixar morrer as nossas tradições de usos e costumes com os nossos jantares em família e celebrando datas festivas.

3 – De que maneira vai mantendo a ligação com a cultura portuguesa?

Desde o meu tempo de adolescente entrei para o Rancho da ACMT, onde ainda participo – aqui conheci muitas pessoas da minha idade e mais velhas, o que me ajudou imenso a praticar o meu português que já estava a ficar esquecido e hoje posso dizer que me sinto muito mais confiante a falar português.

4 – Como vê o futuro dos clubes e associações comunitárias no Ontário?

No meu ponto de vista temos muito para fazer se queremos manter vivos os clubes e associações. A comunidade portuguesa tem que ser mais unida.


Carla Vieria

1 – Que significado tem para si o Dia de Portugal?

Antes de responder a pergunta deixe-me referir que o dia de Camões e das Comunidades Portuguesas é celebrado nesta data, pois foi neste dia, a 10 de junho de 1580, que o que foi considerado representante da pátria – Luís Vaz de Camões – morreu. Também é o dia do anjo Custódio de Portugal, daí terem reunido as duas coisas e tornaram-nas numa só festividade .

Para mim é um dia importante, pois é neste dia que se celebram os atos heroicos dos portugueses, bem como se homenageiam as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo , e nos faz parar e pensar quão heroicos, aventureiros e destemidos nós portugueses somos .  Também é um prazer estarmos no estrangeiro e vermos a nossa cultura ser exibida para as diferentes etnias e assim passarmos um pouco do conhecimento das nossas tradições.

2 – No seu dia a dia, na maneira como vive e se relaciona com os outros, sente influência de Portugal e tudo o que se relaciona com a cultura portuguesa?

Bom, a nossa cultura é algo que está entranhado em nós principalmente se deixamos o nosso país já numa idade adulta. O modo como vivemos, a educação que passamos às futuras gerações, a nossa forma de estar, as nossas reações e atitudes devem-se ao que herdamos, às nossas raízes. Com o tempo e por força de estarmos a residir num país multicultural vai havendo uma mistura de hábitos, e por força das circunstâncias vamos sendo obrigados, sem que nos apercebamos, a fazer adaptações e algumas mudanças.

3 – De que maneira vai mantendo a ligação com a cultura portuguesa?

Estou de um certo modo bastante ligada à comunidade portuguesa, pois durante 14 anos trabalhei em dois escritórios de representação de dois bancos portugueses, cuja grande maioria de clientes eram portugueses. Também devido ao meu gosto por bijuteria, decidi dedicar um pouco do meu tempo a fazer algumas peças que exponho e vendo em muitas das festas organizadas pela comunidade portuguesa.

4 – Como vê o futuro dos clubes e associações comunitárias no Ontário?

Relativamente ao futuro dos clubes e associações portuguesas é com alguma tristeza que digo que vejo um futuro muito sombrio. Infelizmente os nossos jovens, que poderiam ser os futuros líderes das associações, não estão a ser incentivados por um lado pelos pais e por outro pelas próprias associações a se envolverem e tomarem liderança. Não são criadas condições que incentivem os jovens a permanecerem nas associações. Deveria de ser dada responsabilidade de chefia aos jovens. Criarem, dentro das associações, grupos de jovens e deixá-los planear, organizar festas dedicadas aos mais jovens, com a supervisão dos adultos que já têm experiência nessas andanças. Trazerem grupos de música portuguesa para a camada mais jovem, e atrair os outros jovens que não têm envolvimento com a comunidade portuguesa. Porque não as associações juntarem-se e criarem um dia dedicado à juventude portuguesa, e deixarem os próprios jovens organizar essa festa? A meu ver as associações deveriam de estar mais unidas, e deixarem de lado as rivalidades e competições. Deveria haver mais entreajuda. Só apostando nos jovens e que os clubes poderão sobreviver.


Milene Silva

1 – Que significado tem para si o Dia de Portugal?

O dia 10 de Junho para além de ser o Dia de Portugal é também o Dia das Comunidades e, como imigrante, este dia começou a fazer muito mais sentido. É um orgulho ser portuguesa, o povo português é muito acolhedor e apesar de ser um país pequenino gosta e sabe receber as pessoas. Vivendo fora do nosso país sentimos mais a necessidade de continuar a nossa cultura no local onde vivemos. Adoro este país que escolhi como o país onde quero viver e que me deu mais oportunidades, mas tenho o meu país no coração e em momento algum deixarei de vibrar com as conquistas que o meu país alcance. Temos orgulho de ouvir o Hino Nacional, temos orgulho das cores da bandeira. 

2 – No seu dia a dia, na maneira como vive e se relaciona com os outros, sente influência de Portugal e tudo o que se relaciona com a cultura portuguesa?

No meu dia a dia gosto de ver as notícias portuguesas, a comida, os produtos de Portugal. 

A minha alimentação é muito influenciada por tudo o que aprendi da minha cultura familiar e até pelos programas de receitas portuguesas. Nos temas de conversa com amigos é usual falar sobre assuntos de Portugal, pensamos nas férias de verão e das nossas terras, também da importância de rever familiares e matar saudades da nossa comida e dos produtos regionais. Assim que chego a casa ou que me reúno com amigos é inevitável falar na minha língua “mãe” e até de certa forma me faz sentir em “casa”.

3 – De que maneira vai mantendo a ligação com a cultura portuguesa?

Mantenho a cultura portuguesa diariamente no meu dia a dia, falando a língua, convivendo na área portuguesa, frequentando espaços portugueses e fazendo a minha alimentação com base na culinária portuguesa. Faço questão de fazer a maior parte das minhas compras em supermercados portugueses, optando pelos produtos de Portugal, ouvindo a rádio portuguesa e os canais de televisão portuguesa, vibrando com os desportos e com as equipas portuguesas. E fazer férias no meu país sempre que tenho possibilidade de ir aumentando a economia do país que me viu nascer e crescer.

4 – Como vê o futuro dos clubes e associações comunitárias no Ontário?

Têm tendência a acabar. As novas gerações que já nasceram neste país já não acompanham tanto a cultura e as tradições dos seus antepassados. Muitos dos jovens nas novas gerações têm a tendência a não se identificarem com a cultura portuguesa, não têm o interesse em frequentar os clubes portugueses (assim que podem decidir por si mesmos deixam de querer ir às festas destes locais). Não havendo os mais novos motivados a continuar este legado dos mais antigos, isso vai fazer com que inevitavelmente exista uma extinção gradualmente destes clubes. Na minha perspetiva, por outro lado, estes clubes/associações deveriam viver com e para os portugueses, deveriam acolher todo e qualquer português venha de que área de Portugal venha em vez de discriminar as zonas que representam para que todos os imigrantes se sintam acolhidos e queiram manter as tradições e ajudem a mantê-las ativas.

Catarina Balça/MS

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