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Quando somos jovens muitas vezes preferimos nem pensar muito nesse assunto, afinal para quê chatear-se com questões de um futuro que parece tão longe a nossos olhos? O fato é que a velhice chega para todos nós. Não importa o quão jovens, bem-sucedidos ou saudáveis sejamos…chegará nossa vez de exibir cabelos brancos, rugas e enfrentar o peso dos anos vividos e lidar com as questões de uma saúde mais fragilizada.

E todos merecemos vivenciar essa fase derradeira da vida de maneira digna e respeitosa. Pensando em proporcionar isso aos membros da terceira idade da comunidade que fala português no Canadá, um grupo de pessoas munidas de boa vontade e dedicação, pôs em pé o projeto do Magellan Community Centre. Para que esse projeto se torne realidade, e os idosos possam de fato já desfrutar do centro em 2025, como se planeja, muito ainda precisa ser feito e um dos apelos dos organizadores dessa causa é pela ajuda dos membros mais jovens da comunidade lusófona.

O envolvimento dessa juventude, que tanto tem para colaborar, é fundamental para que o sonho se torne real. Essa semana estivemos à conversa com alguns deles, que compartilham suas experiências nos cuidados com os idosos, sejam familiares ou não, relatam as dificuldades que se passa nessa jornada e como a criação de um lar de idosos, unidades de habitação acessíveis e um centro comunitário, todos com referências a cultura portuguesa- seja a língua falada ou comida- poderia facilitar a adaptação e melhor convívio entre os idosos.

Lizandra Ongaratto/MS

Jéssica da Cunha,43 anos, child and youth worker

Qual sua opinião sobre a importância da criação de um lar de idosos destinado a receber os portugueses e lusodescendentes?
Eu acho super importante ter um lar de idosos destinado a receber os portugueses e lusodescendentes porque quem ter de ir para um lar faz muita confusão na cabeça dos idosos, é um momento de muita dificuldade e para quem não fala inglês é mais complicado ainda pensar que vão para um lugar sem saber se comunicar. Os idosos são um grupo muito vulnerável e sem o poder de se comunicarem tornam-se ainda mais vulneráveis.

Um idoso requer mais cuidados por causa da saúde, de questões relacionadas a heranças, familiares e cuidados. Ás vezes as famílias dos idosos não concordam com a maneira como esses cuidados são prestados, então ter um lar destinado à comunidade portuguesa e lusodescendente eu considero muito importante porque vai ter informação em português como cuidados com um médico-geriatra, cuidados especiais para idosos, informação de advocacia para ajudar os idosos a tomar decisão informadas, em relação a diversas questões importantes do fim da vida que ninguém gosta de pensar mas que é necessário e importante. Assim também a pessoa idosa pode ter paz a pensar que vai ter o que precisa.

Você já teve que cuidar de uma pessoa mais velha ou conhece alguém que tenha tido essa responsabilidade? Pode falar sobre os desafios que isso implica?
Sim, a minha mãe tem 83 anos e tem sido um desafio muito complicado, porque os médicos de família não sabem ou não dão a atenção necessária para as pessoas idosas. Quando eu levo a minha mãe para o hospital vários médicos já disseram que uma mulher idosa recebe ou mínimo atendimento. Isso é normal? Como? Porquê? No caso da minha mãe tudo sempre foi uma luta, desde simples apontamentos com especialistas.

Eu nunca entendi porquê? Isso não faz sinto na minha cabeça, agora depois de 3 anos a pedir, discutir, a minha mãe tem o acompanhamento de especialistas. Não é fácil, e a única coisa que eu posso dizer é que a comunidade portuguesa idosa precisa ser bem informada e pedir para ter um geriatric doctor e ser acompanhada por pessoas especializadas. Porque essas clínicas sabem melhor as dificuldades que os corpos/mentes têm nessa fase da vida.

Hoje em dia existem ajudas e programas para facilitar a vida das comunidades idosas. Recentemente descobri um no qual auxiliam no pagamento das contas da casa e inclusive dão descontos, mas é preciso se inscrever e qualificar. Também existem profissionais que podem ir até a casa da pessoa idosa ajudar com tarefas como tomar remédios, fazer esse acompanhamento, mas é preciso estar bem informado e se qualificar para receber essas ajudas. A pessoa que está a cuidar da pessoa idosa precisa de muita informação ou isso pode se muito difícil no dia a dia.

Você se preocupa em como será o futuro dos mais velhos da sua família?
Sim, principalmente agora que a minha mãe é idosa e vejo, e sei, que não e fácil lidar com as mudanças da vida. Quando uma pessoa é jovem e saudável faz tudo, porém para uma pessoa idosa a atividade mais rotineira pode se tornar difícil. Muitas pessoas idosas estão bem e não precisam de cuidados mais muitos estão sozinhos e sofrem muito. A solidão às vezes é o pior.

Como membro da comunidade lusófona está disponível ou sente vontade de, de alguma forma, se envolver no projeto do Magellan Community Centre?
Sim, estou disponível para me envolver no projeto e acho muito importante ajudar a nossa comunidade porque sem os idosos nenhum de nós estaria aqui. A nossa comunidade lutou muito e este é o momento de retribuirmos. Informação e educação são muito importantes principalmente quando não falam a língua. É importante a gente educar os idosos para eles terem o melhor do que merecem. Trabalharam tanto neste país e agora merecem aproveitar o que de melhor o país tem em termos de cuidados e atendimento para os idosos.

Chiara Picão, 20 anos, presidente da Luso Can-Tuna

Qual sua opinião sobre a importância da criação de um lar de idosos destinado a receber os portugueses e lusodescendentes?
Acho que este lar é muito importante para a nossa comunidade. Os recetores deste lar são principalmente imigrantes que trabalharam muito para criar uma vida no Canadá, e é importante que a parte mais jovem da nossa comunidade tome conta deles porque eles fizeram tanto por nós. Também há muitas considerações culturais em tratar dos idosos, então um centro adaptado às necessidades culturais dos nossos membros mais idosos da nossa comunidade é uma muita boa ideia.

Você já teve que cuidar de uma pessoa mais velha ou conhece alguém que tenha tido essa responsabilidade? Pode falar sobre os desafios que isso implica.
Sim, já tratei dos familiares idosos. Como jovens, sentimo-nos muito responsáveis por ajudar a cuidar dos nossos familiares idosos, mas pode ser muito difícil de muitas maneiras, mentalmente e emocionalmente.

Muitos de nós têm desafios para encontrar apoio e recursos não só para cuidar dos idosos, mas especialmente para cuidar dos lusófonos idosos.

Você se preocupa em como será o futuro dos mais velhos da sua família?
Penso sempre nos meus avós. Vieram para o Canadá e tiveram muitos desafios para dar à minha família a vida que temos hoje. Porque sou uma criança e neta de diáspora lusófona, sinto a necessidade de garantir que os meus avós e os membros idosos da nossa comunidade tenham uma vida confortável. Esta é uma maneira minha de agradecer-lhes por tudo o que me deram.

Como membro da comunidade lusófona está disponível ou sente vontade de, de alguma forma, se envolver no projeto do Magellan Community Centre?
Gostaria de me envolver neste projeto, porque acredito que este trabalho é muito importante. Estou ansiosa por ouvir falar de oportunidades voluntárias para os jovens participarem!

Culturalmente, temos muito para aprender dos idosos portugueses e lusófonos, e isso seria uma grande oportunidade para ganhar conhecimentos culturais para os jovens e tomar conta dos nossos idosos.

Renata Borges – 46 – Program Manager at Reconnect Community Health Services

Qual sua opinião sobre a importância da criação de um lar de idosos destinado a receber os portugueses e lusodescendentes?
A importância de um lar para idosos destinado a portugueses e lusodescendentes a meu ver se dá pelo fato de muitos não dominarem o idioma o que torna difícil a comunicação principalmente quando surgem problemas cognitivos, também pelo fato de hábitos alimentares e culturais.
Você já teve que cuidar de uma pessoa mais velha ou conhece alguém que tenha tido essa responsabilidade? Pode falar sobre os desafios que isso implica.
Os desafios de cuidar de um idoso são diversos: a perda da independência do idoso por motivos de saúde, a dificuldade financeira que pode levá-los a não terem outra opção a não ser irem morar na casa dos filhos, filhos esses que ainda estão no mercado de trabalho, que por vezes moram distante e precisam reorganizar a rotina diária para poder cuidar de seus pais ou avós.

Você se preocupa em como será o futuro dos mais velhos da sua família?
Sim, me preocupo.

Como membro da comunidade lusófona está disponível ou sente vontade de, de alguma forma, se envolver no projeto do Magellan Community Centre?
Não conheço o projeto, porém um Centro Comunitário só pode trazer benefícios à comunidade. Devido ao meu trabalho, vejo muitas situações, desde portugueses que não aceitam receber Meals on Wheels e já não podem cozinhar e os filhos moram longe e não podem ajudar, outros que estão sozinhos e têm home-care e não aceitam homens indo dar banho ou limpando a casa; ou que nem abrem a porta para o cuidador pois a memória já falha e não entendem inglês então quando a PSW chega eles não sabem quem é.

Já vi minha família passando por isso também devido a cuidados com meu tio que é doente.

Inês Carpinteiro, 26 anos, coordenadora de redes sociais

Qual sua opinião sobre a importância da criação de um lar de idosos destinado a receber os portugueses e lusodescendentes?
Existindo vontade e iniciativa, acho que é um excelente projeto e que tem pernas para andar. Acho que o fim dos nossos dias é uma questão que não pensamos muito, mas a realidade é que uma grande parte da comunidade portuguesa não domina a língua inglesa. Existir um lar onde se sentem em casa é fundamental para a sua saúde tanto emocional como física.
Você já teve que cuidar de uma pessoa mais velha ou conhece alguém que tenha tido essa responsabilidade? Pode falar sobre os desafios que isso implica.
Ainda nunca tive de cuidar de ninguém mais velho, mas já assisti ao que isso exige – não aqui, apenas em Portugal. Os meus pais ainda são muito novos, mas já vi os meus avós tomarem conta dos pais deles, é um grande peso emocional e até financeiro. No final do dia, o que se quer é ter a certeza de que as pessoas que amamos estão bem entregues quando as obrigações da vida não nos permitem estar sempre por perto. Acho que morando no estrangeiro esta questão se torna ainda mais preocupante, pelas barreiras linguísticas e diferenças culturais.

Você se preocupa em como será o futuro dos mais velhos da sua família?
Sim, preocupo-me com os meus avós que moram em Portugal e não têm os filhos por perto para serem um apoio. Apesar de os meus pais serem ainda muito jovens, até agora a minha mãe não domina o inglês e isso seria um problema. Claro que a colocar num lar será sempre último recurso numa família mas nunca se sabe o dia de amanhã. Seja como for, gostava que tivessem uma velhice em que continuassem a ser ativos e acima de tudo, que não ficassem isolados.

Como membro da comunidade lusófona está disponível ou sente vontade de, de alguma forma, se envolver no projeto do Magellan Community Centre?
Sim, na verdade já me voluntariei e incentivo todos a fazê-lo. Primeiro porque a equipa recebe os voluntários de braços abertos e depois porque todos nós temos alguma coisa para oferecer, sejam aptidões ou somente o nosso tempo e boa-vontade. Viver em sociedade obriga a pensar nas necessidades do coletivo e não apenas nas nossas, portanto mesmo que não pensem recorrer aos serviços do Magellan basta conhecer o projeto para compreender que muita gente vai usufruir disto e poderá ser uma grande melhoria nas suas vidas.

Maria Pereira, 40 anos, comerciante

Qual sua opinião sobre a importância da criação de um lar de idosos destinado a receber os portugueses e lusodescendentes?
Deveria haver com empregados/cuidadores bem treinados e deveriam serem todos portugueses ou lusodescendentes.

Você já teve que cuidar de uma pessoa mais velha ou conhece alguém que tenha tido essa responsabilidade? Pode falar sobre os desafios que isso implica.
É muito gratificante cuidar realmente de um ente querido em sua própria casa ou na deles, ao invés de colocar a pessoa numa instituição. Pode ser cansativo fisicamente se uma pessoa trabalha em tempo integral, mas isso pode ser feito. Dedicação, paciência e amor é o que os idosos geralmente querem. O cuidador precisa se adaptar e dar um passo a frente, sem estresse excessivo. Convidar a pessoa interagir, incluir a pessoa idosa em passeios, etc.

Você se preocupa em como será o futuro dos mais velhos da sua família?
No momento eu só tenho uma tia e um tio idosos, e eles só têm um único filho, que tem problemas mentais, e me preocupo se afinal quem se responsabilizará por ele quando meus tios e forem?

Como membro da comunidade lusófona está disponível ou sente vontade de, de alguma forma, se envolver no projeto do Magellan Community Centre?
Eu não sei nada sobre o projeto. Devido ao meu trabalho me ausento por longos períodos o que me dificulta o voluntariado de forma regular.