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Nesta edição do jornal Milénio Stadium, dedicada a Portugal, a quem somos e quem seremos, quisemos saber de que forma se sentem aqueles que serão o futuro da comunidade portuguesa na GTA. O que representa para estes jovens, muitos deles nascidos no Canadá, ser português? Será que se sentem integrados nos atuais moldes da nossa comunidade portuguesa?

Catarina Balça/MS

 

Tiago Ferreira, 32 anos

O que é para ti ser português?
Uma pergunta difícil de responder porque nunca fui outra coisa, portanto não sei o que é sentir ter duas nacionalidades, por exemplo. Mas desde que imigrei para o Canadá, país super multicultural, comecei a dar valor a tanto que nem fazia ideia tinha valor quando vivia em Portugal. Ser português é ser empático, ser (por norma) simpático, determinado, ambicioso, mas principalmente muito família. É dar valor aos amigos e não os descartar. É ter comida saborosa em cima da mesa. É partilhar a comida saborosa em cima da mesa. Acho que ser português é ter um coração grande e, por norma, bom senso – pelo menos bom senso português, daquele que eu gosto.

Que ligação tens com a comunidade portuguesa aqui em Toronto/GTA?
Quase nenhuma. Talvez nenhuma mesmo. Não consigo identificar-me com os eventos que promovem aqui, sinceramente acho até (perdoem-me) ofensivo venderem uma imagem de Portugal tão parada no tempo. Se possível convivo com pessoas portuguesas, tenho muitos amigos portugueses e são a minha “home away from home”, mas se falarmos da comunidade portuguesa aqui, no geral, eu realmente não me sinto nada representado e por isso fico de fora.

Diz-nos quais são as coisas com as quais te identificas mais e com as quais te identificas menos?
Eu identifico-me com alguns restaurantes, ali sinto que faço parte, a comida liga-me a casa, penso que será por aí. No entanto, sinceramente, de forma assim geral, Portugal não é o que se vê nas festinhas e bailes que aqui se promovem.
Respeito o rancho, respeito o fado, mas acho que pararam em 1960 – há tanta boa música, moderna, incluindo fado mais atual. Mas aqui não… Vamos sempre parar ao mesmo género de festas, com folclore ou música pimba, e pronto. Portugal de hoje (e de há pelo menos 20 anos) não é isso.

O que achas que poderia ser feito para envolver mais jovens nos eventos comunitários?
Se o objetivo for cativar jovens, então está tudo ao contrário… Eu sei que talvez os jovens não decidam pegar numa direção de alguma associação e fazer algo daquilo, porque desde raiz não se identificam com o que esperam deles, ou com aquilo que a casa X ou Y representa.
De forma geral, acho que se apostassem em fazer eventos a pensar no que os jovens querem e não no que os avós dos jovens estão habituados a ter aqui, talvez assim conseguissem começar aos poucos a criar uma ligação com uma camada mais fresca.
Mas aqui também há sempre a “cruz” de que os jovens são todos uns malandros e não fazem nada, não querem saber dos clubes e associações… E é também porque os jovens não se identificam com essas mentalidades que nem perdemos tempo com isso.

 


 

Jéssica da Cunha Pacheco, 38 anos

O que é para ti ser português?
Para mim ser português é tudo quem eu sou, do jeito que eu sou, o meu modo de vida, limpeza, hábitos, ligação à família, à igreja e comunidade, a Portugal, à língua. A minha primeira língua foi o português (eu nasci no Canadá). Aliás, eu lembro-me de no meu primeiro dia de escola ter sido quando eu descobri que o mundo fora da minha casa não falava português! Eu disse à minha mãe que eu nunca mais ia voltar para a escola. Para mim desde pequena a língua portuguesa, a cultura, comunidade, igreja, tudo isso está diretamente ligado a quem eu sou. Eu fui criada na baixa de Toronto, mas não parece, porque todas as minhas lembranças desde nova são com a minha família, onde todos falavam português, nas festas da igreja, promessas a Fátima, férias em Portugal. Tudo tem um toque português. Mesmo a viver downtown a minha família continua a viver uma vida bem portuguesa. Só vemos canais portugueses na televisão, frequentamos negócios portugueses, padarias, talhos, supermercados, restaurantes, clubes portugueses. Eventos na comunidade portuguesa. Então ser português é tudo aquilo que faz parte de mim, dos meus valores, do meu dia a dia.

Que ligação tens com a comunidade portuguesa aqui em Toronto/GTA?
Eu tenho uma grande ligação com a comunidade portuguesa em Toronto, frequento eventos na comunidade e sou mais feliz por isso. Acho que Toronto é uma cidade melhor para viver porque as comunidades são bem vivas aqui.

Diz-nos quais são as coisas com as quais te identificas mais e com as quais te identificas menos?
Eu identifico-me com a igreja, a fé e a música. O que eu me identifico menos é com uns costumes e ideais antigos sobre como a vida tem de ser. Mas todos nós temos direito de ser felizes como queremos.
O que achas que poderia ser feito para envolver mais jovens nos eventos comunitários?
Eu acho que os centros comunitários têm de fazer apresentações nas escolas, porque outras comunidades fazem, por que não a portuguesa? Acho que a comunidade deve ter coisas de interesse para jovens, que eles possam aproveitar, coisas que só a nossa cultura tem. Temos culinária maravilhosa, desportos, arte, azulejos, história linda, música… Tantas, tantas coisas, que os jovens iam gostar e gostava que se envolvessem mais.

 


 

Ana Sousa, 28 anos

O que é para ti ser português?
De uma maneira geral nós portugueses temos uma forma muito específica de estar na vida, de nos relacionarmos uns com os outros, a forma como pensamos e as coisas que apreciamos.
Somos dedicados, temos um coração aberto e gostamos das coisas simples da vida.

Que ligação tens com a comunidade portuguesa aqui em Toronto/GTA?
Eu convivo com muitas pessoas da comunidade no dia a dia, mais num contexto de trabalho, mas não costumo estar presente nos eventos e iniciativas durante o ano.

Diz-nos quais são as coisas com as quais te identificas mais e com as quais te identificas menos?
Identifico-me mais com as tendências portuguesas atuais e aquilo que Portugal representa nos dias de hoje.
Identifico-me menos com os costumes antiquados que, embora façam parte das nossas raízes, estão completamente ultrapassados, não mostram aquilo que é o nosso Portugal evoluído e modernizado.
O que achas que poderia ser feito para envolver mais jovens nos eventos comunitários?
Precisamos de modernizar a forma como celebramos a nossa cultura deste lado, os clubes podiam fazer outras atividades além dos ranchos que não são apelativos para os jovens, nas festas apostar noutros tipos de artistas e programas. Por exemplo, o baile do sócio ou a matança do porco são tipos de eventos que na realidade repelem os jovens.

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