Voluntariado é um dos valores canadianos

Segundo dados de 2018 da Statistics Canada, os canadianos dedicaram naquele ano cerca de 5 mil milhões de horas ao voluntariado, o que equivale a mais de 2,5 milhões de empregos a tempo inteiro durante todo o ano no país. Em termos de população significa que nesse mesmo ano mais de 12 milhões de canadianos (cerca de 75% da população) voluntariou-se para ajudar organizações.

As estatísticas em relação ao ano de 2021 ainda não estão disponíveis, mas em 2018 os hospitais e o setor religioso tinham registado o maior número de horas anuais de apoio voluntário formal. Em média os voluntários dedicaram 111 horas por ano a hospitais e 110 a igrejas, mesquitas, sinagogas, templos e outras organizações religiosas. Desporto e recreação tiveram uma média de 105 horas por ano e arte e cultura 104 horas médias por ano.

Naturalmente, por causa da pandemia, tanto em 2020 como em 2021, estes setores foram bastante afetados desde que o novo vírus chegou ao país. Em 2018 a Statistics Canada refere um dado curioso, que tanto millenials como baby boomers do género feminino têm mais horas de voluntariado do que os homens da mesma geração.
A geração Z, pessoas nascidas entre a segunda metade dos anos 1990 até o início do ano 2010, normalmente preferem voluntariado informal enquanto os Baby Boomers (pessoas nascidas entre 1946 e 1965) são mais propensos a integrar o Conselho de Administração de uma determinada organização.

Por voluntariado formal entende-se pessoas que prestam ajuda não remunerada a grupos, clubes e/ou organizações. Por outro lado, o voluntariado informal significa ajudar de forma não remunerada uma pessoa ou um determinado grupo de pessoas que não fazem parte da família do voluntário. Dentro deste último grupo fazem parte atividades como fazer compras a um vizinho idoso, limpar neve das ruas. Para os canadianos que praticam voluntariado formal, as principais motivações são: melhorar a carreira profissional, contribuir para o bem-estar da comunidade em geral ou apenas por motivos religiosos. As crianças no Canadá são encorajadas a praticar voluntariado e os estudantes do ensino secundário em Ontário têm de realizar 40 horas em voluntariado para terem um certificado emitido pela província. O país acredita que desta forma os jovens podem aprender mais sobre si próprios e sobre possíveis oportunidades profissionais. Os adultos voluntariam o seu tempo e as suas competências para instituições de caridade, organizações sem fins lucrativos, partidos políticos, organizações religiosas, grupos de jovens, e muitos outros lugares.

Dar de volta à comunidade é geralmente bem considerado e valorizado na sociedade canadiana. Esta semana a propósito deste tema entrevistámos Heather Grand, Chief Executive Officer do Luso Canadian Charitable Society (LCCS), uma instituição que apoia pessoas com deficiência e Angie Camara Jr., responsável pelo departamento de Marketing e Comunicação do Magellan, o primeiro lar de idosos com cuidados e serviços em língua portuguesa que vai ser construído em Toronto.

Milénio Stadium: Como é que recrutam voluntários no LCCS?
Heather Grand: Recrutamos voluntários de várias formas. Muitos são encaminhamentos da comunidade local, membros da família Luso ou através de parceiros comerciais com os quais trabalhamos ao longo do ano, tais como escolas ou patrocinadores empresariais. Fora das referências da comunidade e dos voluntários existentes, os indivíduos visitam o nosso website para saber mais sobre Luso e explorar oportunidades de voluntariado nos nossos programas e eventos. Muitas vezes, os voluntários nos nossos eventos regressam ano após ano e apresentam outros à organização.

MS: Normalmente os voluntários são sobretudo portugueses e/ou canadianos?
HG: Embora os voluntários de língua portuguesa ou de origem portuguesa constituam a maioria da nossa base de voluntariado, também temos a sorte de ter voluntários de outras culturas que oferecem as suas competências e o tempo.

MS: Pode dar-nos o perfil de voluntário de Luso? (normalmente é jovem ou mais velho e são mais mulheres ou homens)
HG: Há muitas formas de voluntariado no Luso e os nossos voluntários refletem esse leque diversificado de oportunidades. Estes voluntários podem ser jovens estudantes com 13 anos ou indivíduos reformados que querem retribuir à comunidade e partilhar os seus interesses ou conhecimentos com os nossos utentes. Acolhemos voluntários e a sua contribuição no apoio a pessoas com deficiência.

MS: Quantos voluntários é que o LCCS tem e quantas horas da sua vida é que eles oferecem a esta organização? Se estes voluntários fossem funcionários, quanto é que teriam de pagar em salários extra por ano?
HG: O nível de empenho dos voluntários depende da época do ano, dos interesses do voluntário e da sua disponibilidade. Durante o nosso evento Luso Volta a caminhar ou a correr, um número significativo de voluntários participa para que o dia seja um sucesso. Outros voluntários preferem interagir com os participantes alguns dias por semana e participar em atividades ou caminhadas. As oportunidades de voluntariado são variadas e necessárias. Um agradecimento especial ao nosso Conselho de Diretores de voluntários empenhados que dão apoio e orientação aos três Centros de Apoio Luso, reunindo-se várias vezes durante o ano para planear e apoiar a nossa organização. O Conselho de Administração continua a fornecer orientação valiosa à medida que navegamos pelos desafios da pandemia da COVID-19. O voluntariado no Luso acrescenta valor à vida diária dos participantes e é uma experiência gratificante, quer o voluntário passe connosco poucas ou muitas horas ao longo do ano.

MS: Qual é a importância dos voluntários em instituições como o LCCS?
HG: O Luso está grato pelos muitos voluntários cujas contribuições acrescentam uma grande variedade de competências e atividades para apoiar a nossa programação diária e o crescimento organizacional. Este ano foi especialmente desafiante devido à pandemia, mas não impede os nossos voluntários de oferecerem apoio. Quer seja online ou pessoalmente, angariando dinheiro, entregando refeições ou trabalhando arduamente para manter os nossos Centros Luso em grande forma, estes indivíduos contribuem generosamente para os nossos eventos e programas para fazer do Luso um lugar melhor para os nossos participantes. Esperamos que os nossos voluntários Luso regressem aos nossos Centros e participem em atividades de programas e eventos de angariação de fundos, logo que as restrições pandémicas sejam levantadas.
Os voluntários trazem experiência profissional, redes e tempo valioso para construir e apoiar a Luso. Acolhemos voluntários para nos ajudarem a cuidar de membros vulneráveis da nossa comunidade. No nosso website em www.lusoccs.org/volunteer encontram informações sobre como se podem tornar voluntários e se quiserem podem contatar-nos através do e-mail [email protected].

MS: Quando o Magellan for construído os voluntários vão ser uma parte importante do projeto?
Angie Camara Jr: Precisamos de uma comunidade para ajudar a cuidar dos nossos idosos e os voluntários vão desempenhar papéis importantes na melhoria da qualidade de vida dos nossos idosos e na prestação de cuidados continuados no futuro Magellan Centre. Vamos recrutar profissionais de saúde, terapeutas recreativos, housekeepers, funcionários para ajudar com a alimentação, precisamos da ajuda de voluntários que dedicam o seu tempo e as suas competências para tornar as vidas dos nossos residentes ainda mais especiais.
O voluntariado não vai beneficiar apenas os residentes, mas também o próprio voluntário porque vai aumentar os seus contatos sociais e vai dar-lhe um sentido de vida enquanto o ajuda a se manter saudável a nível físico e mental.

MS: De que tipo de voluntários é que vão precisar?
ACJr: Encorajamos pessoas de todas as idades e com todo o tipo de competências a submeterem a sua candidatura de voluntário. Estamos empenhados em criar uma casa que seja familiar aos nossos residentes e que inclua vários aspetos da nossa cultura. Idealmente, antecipamos a vinda de pessoas da nossa comunidade para realizar actividades, passar o tempo apenas a falar com os nossos seniores em português e ajudar com campanhas de angariação de fundos, incluindo o envolvimento em eventos comunitários. Estamos abertos a todas as ideias.

MS: Já estão a aceitar candidaturas?
ACJr: Neste momento estamos a aceitar candidaturas para voluntários da Capital Campaign e com várias competências específicas para o Comité MARCOM, tais como design gráfico, tradução para língua portuguesa, apoio às redes sociais, escritores, fotógrafos e muito mais!

MS: Quanto é que conseguiram angariar até agora para avançar com a construção do Magellan?
ACJr: Estamos actualmente em $5,34 milhões, mas precisamos de $10 milhões para que o sonho se torne realidade. O apoio da nossa comunidade é muito importante para nós.

Joana Leal/MS